Médico cirurgião Rafael Mello Fontolan Vieira fala sobre a cirurgia robótica 

PRUDENTE - ALINE MARTINS

Data 20/06/2024
Horário 05:12
Foto: Sinomar Calmona
O cirurgião robótico Rafael Mello Fontolan Vieira
O cirurgião robótico Rafael Mello Fontolan Vieira

A cirurgia robótica é um dos principais avanços na medicina mundial, especialmente quando se precisa remover tumores em locais de difícil acesso e preservar tecidos não atingidos pela doença. O médico Rafael Mello Fontolan Vieira, cirurgião do aparelho digestivo e cirurgia e transplante de fígado e pâncreas, tornou-se um dos principais especialistas em cirurgia robótica do Brasil. Formado pela Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), tem mestrado em cirurgia do pâncreas pela Famerp (Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto); Fellowship em cirurgia do fígado e pâncreas pela Alemanha – cirurgia digestiva robótica. Ele é ainda cirurgião robótico da Rede D’or São Luiz, com consultórios em Campinas, Jundiaí e Presidente Prudente.

Qual a sua formação e o que te levou a fazer e escolher a cirurgia no aparelho digestivo?
Minha formação compreende três especializações médicas que fiz após minha formação em Presidente Prudente: fiz em cirurgia geral; cirurgia do aparelho digestivo e depois transplante de fígado. Essas três especializações são áreas voltadas para a cirurgia, principalmente no abdômen, que a gente fala que é cirurgia das vísceras e também transplantes. E, após essas três residências, fiz mestrado em cirurgia voltado para cirurgia de pâncreas. Estudei bastante cirurgia de pâncreas. Tive oportunidade de fazer uma especialização na Alemanha, na Universidade Harvard. E a última especialização que eu me envolvi nos últimos dois anos, foi em cirurgia robótica, por duas vias, pela própria fabricante do robô e pelo Instituto de Pesquisa e Ensino da Rede D’or.

Quais os principais desafios enfrentados durante sua formação e no início da carreira?
Eu diria que o maior desafio para todos que estão começando e atuam na área cirúrgica é lidar com as variáveis que existem quando se trata da medicina, no ato cirúrgico. Tem que lidar com as emoções do paciente, as suas emoções, ter um amplo conhecimento. O cirurgião deve dominar o que está atuando e ter decisões rápidas, corretas e muitas vezes difíceis de tomar. Então, é necessário pensar rapidamente no que precisa ou não fazer pelo seu paciente e no melhor para ele, agir de maneira certeira, exata. Além disso, precisa ter uma capacidade emocional de controlar quando as situações adversas ocorrem. Nem sempre sai como o planejado, então, precisa da capacidade de adaptação, resiliência e extremo planejamento.

Qual o motivo em se especializar em cirurgia robótica?
Tive meu primeiro contato através de um ex-professor meu, Dr Fernando Leal, e pude acompanhar vários procedimentos dele e vi ao vivo o impacto que a cirurgia pode causar de benefícios, principalmente para o paciente, e isso me chamou atenção. A possibilidade de trazer a cirurgia robótica para os meus pacientes, para os pacientes oncológicos, que é o perfil que eu mais atendo.

Quais são os principais benefícios da cirurgia robótica para os pacientes em comparação com as técnicas tradicionais?
É uma pergunta, talvez, de maior importância, quando se fala em cirurgia robótica, afinal, um custo um pouco mais elevado em relação às outras metodologias de tratamento e cirurgia convencional, cirurgia videolaparoscopia. Porém, é claramente visível que um paciente que faz uma cirurgia robótica tem uma taxa de sangramento menor, taxa de tempo de hospitalização menor, apresenta recuperação absurdamente mais rápida. E, principalmente para os pacientes oncológicos, eu diria que você pode tratar ontologicamente um paciente que às vezes numa cirurgia aberta não toleraria o procedimento por ser muito invasivo. Numa cirurgia de pâncreas, por exemplo, que é necessário abrir todo o abdômen do paciente, com a cirurgia robótica você consegue através desses furos e com a ergonomia de movimentos e tecnologia do robô, fazer o mesmo procedimento, com a mesma qualidade oncológica, porém, o paciente tem uma recuperação muito mais tranquila, menos dolorosa, com menos sangramento, menos tempo no hospital e consegue voltar para as suas atividades laborais e para a sua família mais rápido. 

Sabemos que você saiu de presidente Prudente, mas Presidente Prudente não saiu de você. Você sonha em trazer essa cirurgia robótica para Prudente? Qual a possibilidade disso se realizar?
Um dos projetos futuros meu e presente também é o caminho para se tornar um propagador da cirurgia robótica. Esse é objetivo de vida para mim. Nesse ponto eu me planejo e estou o caminho com a empresa fabricante do robô e outras instituições para ensinar a cirurgia robótica para outros cirurgiões. Esse é o caminho fundamental para começar na cirurgia robótica aqui em Prudente. Claro, tem que haver parceria com hospitais. Um desses hospitais precisa desse vínculo om a empresa, trazer o robô para cá. Existe toda uma metodologia para a instalação desse sistema. Prudente necessita dessa tecnologia para que eu e outros profissionais possam ofertar esse tipo de tratamento de altíssima qualidade para os pacientes da nossa região que merecem ter acesso a esta tecnologia que é fantástica.

Você pode compartilhar com a gente uma história marcante da sua carreira que destaca os avanços e benefícios da cirurgia robótica?
Um ponto ímpar da carreira, não um caso em específico, mas uma série de casos, é em relação aos pacientes com doenças oncológica do pâncreas. Quando eu aprendi a cirurgia de pâncreas, via alta debilidade, uma morbidade muito alta desses pacientes, por causa dos procedimentos cirúrgicos. A agressividade que é acessar a barriga do paciente para poder realizar esses atos. A cirurgia robótica foi um divisor de águas nesse ponto. De repente, pude ver que os pacientes que eu operava por via aberta e ficavam por um tempo considerável internados no hospital por conta de complicações e nuances naturais do procedimento oncológico e aberto, passaram a ficar um terço ou metade do tempo de internação no hospital e a se recuperar muito mais rápido, com menos debilidade. Isso foi marcante, assunto que pretendo fazer publicações científicas. Houve uma diferença muito grande estatisticamente em termos de resultado operatório desses pacientes

Como você vê o futuro da cirurgia robótica nos próximos anos?
A cirurgia robótica não é futuro, é presente. A qualidade do tratamento de assistência médica que é possível dar ao paciente é gritante em relação aos outros métodos. E, quando analisamos custos, é visível que esse custo tende a se equilibrar pelo fato de o paciente ficar menos tempo no hospital, haver menos complicações, sofrer menos com dor, necessitar menos de transfusão sanguínea, ficar menos tempo na UTI. Então, de certa forma, a cirurgia robótica acaba se pagando, entrando em equilíbrio. E a tendência para o futuro é que a maior parte dos tumores abdominais e de outras especialidades, por exemplo, ginecologia, urologia, cirurgia torácica, passe a ser padronizado que sejam tratados por via robótica. Porque para o paciente o benefício é gigantesco. 

Como você lida com casos mais complexos e a ansiedade dos pacientes em relação a procedimentos cirúrgicos?
É natural que o paciente e família sofram de extrema ansiedade, medo, insegurança com diagnóstico de um câncer por exemplo. O mais importante que um médico deve fazer é o acolhimento e explicar muito bem, ser transparente na situação real do paciente. Ele tem o direito de saber claramente, entender o processo do câncer que ele está passando. E ver as possibilidades que ele tem. O médico deve expor as possibilidades da maneira correta ao paciente, de acordo com a literatura científica, e não deixar de ofertar um tratamento, por exemplo, ao paciente. Então, esse é o vínculo médico/paciente, explicar muito bem o que está se passando, mostrar vídeos, mostrar como é, as possibilidades, tentar ser transparente para que ele entenda, se sinta mais à vontade e compreenda seu processo de doença.

Até um passado muito recente, quando se falava em câncer de pâncreas, o que se tinha era uma sentença de morte. Hoje a gente vê tanta gente passando por uma cirurgia de câncer de pâncreas se recuperando e voltando à vida. O que mudou?
O câncer de pâncreas é um grande divisor de águas na oncologia de tumores abdominais. É um assunto de maior interesse na minha carreira médica. A doença continua sendo tão grave como sempre foi. É uma doença importante, uma doença com alta taxa de mortalidade. O que mais mudou foi o entendimento da história natural da doença, da patologia, da sistemática de disseminação dessa doença. A evolução das drogas quimioterápicas que nos ajudam a poder trazer mais pacientes para o tratamento cirúrgico e as evoluções do tratamento cirúrgico. Por exemplo, quando estive na Alemanha, tive oportunidade de ver vários estudos, várias linhas de pesquisas em relação à técnica cirúrgica que deve ser feita. E a cirurgia robótica nos veio para trazer a oferta deste tratamento oncológico de maneira correta e ainda menos invasiva. Consequentemente, eu consigo colocar meu paciente para iniciar uma quimio num espaço de tempo mais rápido que a cirurgia convencional.

Como é dividido seu tempo de atendimento entre Jundiaí, São Paulo e Prudente?
Tenho dois consultórios em Jundiaí, dois em Campinas e um em Prudente. Divido a semana e o tempo para dar atenção a todos os meus pacientes. Tenho uma dinâmica que permite estar presente em todos os momentos importantes e de procedimentos cirúrgicos, sempre com nossa equipe, pois sem a equipe não se trabalha hoje em dia. Temos vários cirurgiões, parceiros de Jundiaí, Prudente, que nos permite dar a atenção devida que os pacientes necessitam.

Quais são seus planos e objetivo em sua carreira médica?
O maior objetivo em minha carreira, sem sombra de dúvidas, é o estudo da oncologia das doenças de fígado, pâncreas e vias biliares. É o assunto de maior interesse da minha carreira, que eu pretendo continuar estudando até quando me for possível. E ofertar aos meus pacientes cirúrgicos a possibilidade da maioria das doenças de um tratamento menos doloroso, menos traumatizante e que possa nos devolver para a vida o mais próximo do normal e o mais rápido possível. E, além de tudo isso, simultaneamente, tenho o objetivo que eu acho necessário, que é transmitir o ensino da cirurgia robótica, que não é algo tão simples, que envolve muito aprendizado e treino, para outros cirurgiões mais novos e que tenham interesse em adentrar nessa nova especialidade, nessa nova área de atuação da cirurgia digestiva. 

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