A mastologista prudentina Maria Assunção de Azevedo Guedes apresentou, na semana passada, sua dissertação de mestrado em Educação pela FCT/Unesp (Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista) “Júlio de Mesquita Filho”, com ênfase para os cuidados paliativos. Segundo ela, o tema do seu trabalho foi baseado no cuidado, que é uma necessidade básica de todo ser humano, desde os primórdios da história da humanidade, como resposta às suas necessidades. “Todos necessitam de serem cuidados e apresentam em sua essência a capacidade de cuidar. Essa dinâmica do cuidado é uma atribuição das relações humanas, e, portanto, deve estar presente em todas as áreas do conhecimento. Assim, associei a educação e o cuidar, que são questões básicas na formação de sujeito”, expõe a médica.
Conforme ela, a medicina, que é a arte de cuidar do outro, com ênfase nos cuidados paliativos, que é cuidar daquele que sofre, que apresenta doenças que ameacem a vida e sofrimentos que precisam ser aliviados, olhados e vistos em todas as suas dimensões físicas, emocionais, sociais e espirituais. E também a filosofia, que busca a maneira correta de enfrentar alguns dilemas do ser humano, o significado da existência. “Dessa forma, na união da educação, da medicina e da filosofia busquei encontrar direções para que o homem aprenda a se conhecer, a se cuidar e se preparar para as adversidades da vida, para a finitude e morte e, consequentemente, na aceitação e implantação dos cuidados paliativos pela sociedade, pacientes, familiares, profissionais e gestores de saúde, contribuindo assim para uma melhor condição de viver e de morrer”, denota.
A médica reforça que o que a motivou na realização desse trabalho é a constatação que, diante de situações de terminalidade da vida e proximidade da morte, os sujeitos da atualidade apresentam dificuldades de receber e realizar os cuidados necessários devido a uma inabilidade para lidar com o sofrimento gerado por tais situações. “A morte não é considerada como um processo biológico, mas como um tabu, um assunto a não ser falado e um fracasso na medicina. E isso ocasiona dificuldades com a implantação dos cuidados paliativos na assistência médica”, explica.
Maria Assunção enfatiza que o cuidado é, portanto, uma atitude, uma forma de se relacionar consigo, com os outros, com as situações e com o mundo. E por isso buscou encontrar interfaces entre os cuidados paliativos, que é uma assistência a pacientes com doenças que provocam sofrimentos, que ameacem a vida. “Uma assistência com uma equipe multidisciplinar que engloba também os familiares e cuidadores e busca o alívio dos seus sofrimentos, visando o ser de uma forma integral, todos utilizando os seus saberes, mas direcionados para um único foco: proporcionar qualidade de vida para esses pacientes. E o cuidado de si, que é uma formulação filosófica do século V antes de Cristo, iniciada por Sócrates”, pontua.
Ela diz ter feito o estudo sobre a visão do filósofo contemporâneo Michel Foucault, que busca o significado da própria vida. É baseada em atitudes, ações, que se exerce de si para consigo. Então faz com que o homem volte a olhar para si mesmo, que cuide de si, que se ocupe consigo mesmo.
“Então, através de suas práticas faz com que o ser consiga se conhecer, ter autonomia, domínio de si e criar um modo próprio de estar no mundo, melhorando assim a sua relação com o outro, a forma de lidar com as adversidades, com o sofrimento, com a finitude e com a morte. Busquei uma interface, pontos de ligação entre esses dois cuidados”, salienta.
"NA UNIÃO DA EDUCAÇÃO, DA MEDICINA E DA FILOSOFIA BUSQUEI ENCONTRAR DIREÇÕES PARA QUE O HOMEM APRENDA A SE CONHECER, A SE CUIDAR E SE PREPARAR PARA AS ADVERSIDADES DA VIDA, PARA A FINITUDE E MORTE”
Maria Assunção destaca que como conclusão de seu estudo, encontrou possibilidades de associação dos saberes dos cuidados paliativos com os do cuidado de si, trazendo à luz a essência deste. “O cuidado paliativo quando a pessoa se depara com o sofrimento em sua fase final de vida e o cuidado de si que o capacita a enfrentar as adversidades da vida e a preparar-se para o entendimento da finitude e da morte”, exalta.
Conforme a médica, o conhecimento do cuidado de si e das suas práticas, quando iniciadas em qualquer idade da vida, proporciona uma nova forma de pensá-la, assim como a morte, e poderia ocasionar uma mudança de paradigmas, uma nova maneira do ser se olhar, se cuidar e se deixar ser cuidado. Também pode ocasionar a transformação da forma de se pensar e prestar o cuidado, especialmente dos profissionais de saúde, que deve ser praticado por quem sabe se cuidar e proporcionar ao outro o conhecimento e as condições necessárias de exercer a sua autonomia e liberdade, capacitando-o para fazer escolhas e ter domínios da sua vida.
“Foi uma semente lançada que possa proporcionar novos e aprofundados estudos que estabeleçam a relação entre esses dois cuidados, para que se fortaleça a prática de ambos e contribua para que o sujeito se torne senhor e dono do seu próprio destino. O nosso desejo é que essa semente plantada se torne uma árvore frondosa que ofereça sombra aos cansados do caminho e saciar com bons frutos as necessidades de todos os que sofrem as dores do enfrentamento, da finitude e da morte”, anseia a profissional.
*São exercícios que se faz para que possamos direcionar o olhar para nós mesmos, como o retiro, a prática da meditação, as provas de privação, a abstinência, os exames de consciência, a escrita, a conversa com amigos.
*São práticas que levam ao direcionamento do olhar para si mesmo, fazendo com que se tenha o preparo para lidar com tranquilidade frente aos acontecimentos da vida. Que se assuma, que se tenha uma condução adequada de si no seu papel na sociedade, nos seus relacionamentos e que se adquira domínio de si mesmo para que se faça escolhas com liberdade e autonomia.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Rodrigo Barbosa Mugnai Lopes
Programa de pós-graduação em Educação da FCT/Unesp Presidente Prudente
Profª. Drª. Renata Calciolari Rossi
Programa de pós-graduação em Ciência da Saúde da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista)
Prof. Dr. Divino José da Silva
Programa de pós-graduação em Educação da FCT/Unesp Presidente Prudente
(((OLHO)))
Fotos: Cedidas
Maria Assunção apresentou sua dissertação de mestrado em Educação pela FCT/Unesp
Maria Assunção e Giuliano Tosello, parceiro de trabalho e amigo