Em meio à recessão econômica que tem impactado diversos setores no país, o clima favorável à safra de cana-de-açúcar deste ano e o aumento na demanda por etanol deram um novo "fôlego" ao setor que amargava mais de 6 mil demissões e o fechamento de seis usinas na região, conforme o presidente do Sindetanol (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Química, Farmacêutica e Fabricação de Álcool, Etanol, Bioetanol e Biocombustível de Prudente e Região), Milton Ribeiro Sobral.
Como noticiado por este diário em setembro do ano passado, empresários alegavam que o setor sucroalcooleiro enfrentava uma crise pela política de investimento no petróleo adotada pelo governo, com a redução de impostos – o que diminui o preço da gasolina e anula a concorrência com o álcool. No entanto, em janeiro de 2015, começou a incidir uma nova tributação sobre a gasolina, o que elevou a procura pelo etanol, que se tornou mais vantajoso para o consumidor. Por essa razão, nenhuma usina fechou suas portas este ano e duas que estavam desativadas voltaram a contratar pessoal para funcionar.
Apesar do momento de recuperação de algumas usinas, a Santa Fany, de Regente Feijó, é uma das que seguem desativadas
Após mais de três anos de seu fechamento, a Usina Dracena foi reativada pelo grupo que administra a Usalpa (Usina Alta Paulista), localizada em Junqueirópolis – medida anunciada em março deste ano. De acordo com o presidente do Sindetanol, o retorno das atividades gerou em torno de 150 empregos diretos apenas no setor industrial, o qual é representado pelo sindicato. Já entre empregos diretos e indiretos, a expectativa era da geração de 800 novos postos de trabalho, conforme o prefeito de Dracena, José Antonio Pedretti (PR). "A notícia da reativação da unidade foi recebida com felicidade pela administração, justamente pela expectativa de trazer impacto positivo para a nossa arrecadação neste momento de crise e queda nos repasses", avalia.
Além da Usina Dracena, a Floralcool de Flórida Paulista - que desempregou 800 pessoas no seu fechamento - também voltará ao operar este ano, já tendo iniciado a contratação de funcionários para fazer "uma safra pequena", de acordo com Sobral.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Adamantina, Antonio Carlos de Oliveira, informa que as atividades começarão a partir do dia 10 de agosto e aproximadamente 300 pessoas já foram contratadas. "Isso foi muito bom para a nossa região porque muitos trabalhadores estavam desempregados e esperando por uma oportunidade", afirma o sindicalista.
Clima favorável
Apesar do crescimento na demanda por etanol, para o presidente do Sindetanol os preços do álcool ainda não se recuperaram e precisam "melhorar muito para reaver, de fato, o prejuízo dos empresários". Conforme Sobral, isso se dá pela grande oferta de etanole por um setor que não mantém um preço único, abaixando o valor ao máximo para conseguir comercializar.
Todavia, para ele, o fator determinante para que as usinas conseguissem sobreviver em um momento de recessão econômica foi o clima favorável. "Choveu na época certa e a cana rendeu mais, tivemos a maior produtividade dos últimos anos, quando o fator clima vinha prejudicando no lugar de ajudar", explica. O sindicalista lembra ainda que os empresários do ramo sucroalcooleiro são "calejados de crise" e acabam tendo uma experiência em gestão que auxilia no atual panorama.
Produção suspensa
Apesar do novo "fôlego" no setor de açúcar e álcool, este ano a Destilaria Alcídia de Teodoro Sampaio, unidade pertencente à Odebrechet Agroindustrial suspendeu sua produção em 2015, notícia que foi recebida com tristeza pelo prefeito Ailton César Herling (PSB). Ele lamenta o impacto negativo que a "hibernação" da empresa trará ao município, como o desemprego e baixa na arrecadação.
De acordo com o presidente do Sindetanol, essa decisão, no entanto, não foi motivada por problemas econômicos. A unidade da Odebrechet em Teodoro Sampaio tinha capacidade para moer 2,5 milhões de toneladas de cana por safra, enquanto a unidade Conquista do Pontal, em Mirante do Paranapanema, poderia moer 5,8 milhões de toneladas. "O problema é que eles nunca tiveram matéria-prima suficiente para moer nas duas unidades e moíam até a cana de outras usinas. Dessa forma, foi mais benéfico manter só a que tem maior capacidade funcionando e realocar os funcionários", explica.
Anidro x hidratado
No ano passado, o presidente da Udop (União dos Produtores de Bionergia), Celso Torquato Junqueira Franco, previa que se a política governista de manter o preço da gasolina baixo, para controlar a inflação perdurasse, em cerca de cinco anos a região perderia as usinas que produzem etanol hidratado ou elas poderiam migrar paulatinamente para o etanol anidro. O etanol hidratado é o vendido nos postos e o anidro aquele misturado à gasolina para baratear o combustível e reduzir a emissão de poluentes. A diferença entre os dois está relacionada à quantidade de água presente em cada um.
De acordo com Sobral, no entanto, essa previsão não deu indicativo de que se tornará realidade na região, visto que não há demanda suficiente de anidro para que ocorra tal migração, mesmo com o aumento no percentual deste etanol na gasolina, de 25% para 27%, medida tomada pelo governo federal no início do ano. "Apesar de ser isento de impostos, o anidro demora mais para ser produzido e custa mais", explica.
USINAS QUE SEGUEM FECHADAS
Apesar da reativação da Usina Dracena e da Florálcool, quatro usinas seguem fechadas na região, são elas: Usina Paranapanema, de Narandiba; Decasa, de Marabá Paulista; Alvorada D’Oeste, de Santo Anastácio; e Santa Fany, de Regente Feijó.