«A lusofonia é futuro porque tem passado e presente e vinca na história dos povos lusófonos, abrindo os sulcos do futuro, para a semente ser flor, em liberdade...» João Padrão
Temos escrito, ao longo de quase dois anos, sobre a língua portuguesa e a lusofonia, sobre os vários povos que a compõem, as diversas realidades, culturas e ideias, sobre formas de vestir, de viver e de comer… sempre diferentes, mas sempre iguais. Se por um lado dotadas da irmandade que une todos os seres humanos, de outro lado, ainda mais estreitos, por uma partilha ímpar, do idioma que nos une.
A língua é constituída por muito mais do que palavras, frases e expressões, ela é feita por pessoas: pelo português que se delicia com um pastel de belém contemplando o rio tejo, pelo santomense que labora nas plantações de cacau, pela guineense que cozinha o seu caldo de mancarra , pela cachupa na mesa do cabo-verdiano, pelo timorense que é levado pela dança likurai, pelo brasileiro que se deixa contagiar numa roda de samba, saboreando uma deliciosa feijoada, pelo angolano ao dançar o semba, ou pelo moçambicano, que se senta ao fim do dia, retemperando as forças para o amanhã.
A lusofonia é feita de sonhos e de esperança, de pessoas reais, nas suas vidas triviais, mas indelevelmente essenciais; é um ecumenismo que não se restringe à religião, mas que se avança por todos os aspectos da vida dos indivíduos, falantes da língua portuguesa, onde quer que estejam. Assim se cria a lusotopia – a ecumene lusotópica, uma partilha de sintaxes e semânticas, de cultura e arte, de humanidade e de ontologia.
Revista na arquitetura: nas casas coloniais, com pés duplos e varandins, nas ruas, travessas e pracetas; na gastronomia – tão diferente, mas tão semelhante em cada um desses povos; na moda e no design, das cores quentes e fortes, o amarelo, o verde e o vermelho; no quotidiano, nos sonhos e na saudade, cantada no fado, na morna ou na modinha.
«(…)para além destes aspectos mais facilmente identificáveis, esta ecumene é ainda constituída por aspectos menos visíveis tais como redes de parentesco, passado familiar, amizades, relações de homonímia etc. — todos esses aspectos que marcam primordialmente a pessoa social.»
A lusotopia é vista nos Sousas e nos Souzas, nos Meneses e nos Menezes, nos Pereiras, Monteiros, Santos, nos Ramos e nos Andrades, mas também nos Djalós, nos Djau e nos Baldé. É parte e o todo do património cultural, regras, costumes e etiqueta, música e dança, jogos tradicionais… A lusotopia somos tu e eu!