Puxa vida, um pedaço da cremalheira do portão eletrônico quebrou de novo? Não é possível. É a segunda vez em duas semanas. Também é tudo feito de plástico. Vou ter que ligar para o amigo Lorival de novo para vir consertar de novo: Alô..
Oh seu Persio, já sei.
A cremalheira quebrou.
Sim.
Ok. À tarde passo aí. Valeu Lorival.
O tempo passa minha gente, como dizia o lendário locutor esportivo, Fiori Gigliotti. Fui comprar os gostosos pães no Supermercado Mais Você, que fica em frente ao ginásio de esportes, ou melhor dizendo, em frente ao Coliseu, como diz o amigo Edu do Vôlei. Depois de tomar o café da manhã com a Mulher Maravilha, lembro da música country americana, que escutava muito na minha juventude, “Little Green Apple”.
Eu tinha apenas 16 anos, quando o compositor americano, Bobby Russel, compôs essa icônica música. Tornou-se um hit mundial na voz do cantor, O.C.Smith. Ganhou o Grammy da canção do ano de 1968. Alguns dos grandes cantores que gravaram: Frank Sinatra, B.J. Thomas, Johnny Mathis, Dione Warwick, Tom Jones, Andy Williams, Tony Bennett, Boby Goldsbouro, The Ray Connif Singers, Gary Puckett e o próprio Bobby Russel.
O ano de 1968 ficou conhecido como o ano que não terminou. Ficou marcado por grandes acontecimentos no Brasil e no mundo. O assassinato de Martin Luther King e de Robert Kennedy. A Guerra do Vietnã, as passeatas do flower power e da paz e do amor na Califórnia. O protesto dos estudantes franceses contra o sistema educacional e contra a sociedade capitalista na França. Os estudantes franceses liderados por um baixinho ruivo petulante, chamado, Daniel Cohn-Bendit, influenciados pela ideologia marxistas. A Primavera de Praga fez tremer a União Soviética. O cenário mundial era marcado pela constante tensão militar, conflitos políticos e competição tecnológica entre países capitalistas e comunistas. Ano conturbado.
Aqui no Brasil um atentado à bomba destrói a entrada do Jornal O Estado de São Paulo. Outra bomba explode na porta da Bolsa de Valores de São Paulo. O médico Euryclides de Jesus Zerbini e sua equipe realizam o primeiro transplante de coração da América Latina. Foi o melhor dos tempos e ao mesmo tempo o pior dos tempos. Um ano da sabedoria e da insensatez. Tínhamos fé e ao mesmo tempo incredulidade. Tínhamos tudo e não tínhamos nada. O General Artur da Costa e Silva governava o Brasil sob a batuta do AI5. A Guerra Fria estava quente. Uma geração que queria virar o mundo de ponta cabeça.
O sociólogo francês, Raymund Aron, assustou-se com a demência coletiva do movimento estudantil na França. Era incompreensível para o conservadorismo. O escritor Mario de Andrade escreveu essa frase: "Não devemos servir de exemplo para ninguém, mas devemos servir de lição". Eu com meus 16 anos acreditava que sempre iria existir algo de novo sob o sol. Um dia pode lhe trazer um arco-íris. Em outro dia o céu pode estar tempestuoso. Uma visão romântica e juvenil do mundo.
Estava envolvido nos versos de “Little Green Apples” e no balanço de “Sá Marina” de Wilson Simonal, “Hey Jude” dos Beatles e “Ligth My Fire” de José Feliciano me encantavam. Um samba de Paulinho da Viola e de Martinho da Vila me interessavam mais. A bossa nova era diferente. Queria tocar bateria como Milton Banana. As jovens tardes de domingo assistindo o programa Jovem Guarda iriam deixar muitas saudades. A canção “Little Green Apples” falava da celebração ao amor, ao cotidiano de um casal. Cenas comuns da vida diária, como acordar de manhã, tomar café da manhã e se despedir dos filhos que vão para a escola.
O ano de 1968 para mim foi feito de versos bonitos como a música icônica “MacArthur Park”, de Jimmy Webb. Vem/ vamos embora/ que esperar/ não é saber/ quem sabe faz a hora/ não espera acontecer. Esses versos de Geraldo Vandré me faziam pensar. Era apenas um jovem do interior distante dos movimentos sociais, políticos e econômicos do Brasil e do mundo.
Lembro-me que um dos meus grandes sonhos era desfilar pela Fanfarra do Colégio I.E. Fernando Costa tocando caixa-guerra de 36 cordas. Consegui realizar esse sonho junto com meu irmão Roy. O que mudou? Os mais vivos continuam governando os menos vivos? As guerras, os conflitos, a intolerância, ideologias, governos perdulários, corrupção, violência, medo, miséria, insegurança vivem ainda? Nos meus 72 anos os versos de “Little Green Apple” ainda me trazem de volta a inocência. Continuo lutando para que o mundo não faça seu trabalho sujo em mim. Nesse momento estou escutando “Little Green Apples”, me sentindo com meus mágicos 16 anos de sonhos. Quem sabe o mundo fica mais poético.
"Eu acordo
Pela manhã
Com o meu cabelo caído
Sobre meus olhos
E ela diz oi
E eu tropeço
Até a mesa do café
Enquanto as crianças
Estão saindo
Para a escola, até mais
E ela se aproxima
Pega minha mão
A aperta e diz:
Como está se sentindo, querido?
E eu olho para
Os lábios sorridentes
Que aquecem meu coração
E vejo o sol da manhã
E se
Isso não é me amar
Então tudo
O que tenho pra dizer
Deus não fez
Pequenas maçãs verdes
Não chove
Em Indianápolis
No verão
Não existe tal coisa
Como Dr. Seus
Disneyland
E Mamãe Ganso
Não é um conto de fadas
Deus não fez
Pequenas maçãs verdes
Não chove
Em Indianápolis
No verão
E quando me
Me sinto deprimido
Eu penso em seu rosto
Incandescente para aliviar minha mente..."