«Esta língua é como um elástico
que espicharam pelo mundo.
No início era tensa,
de tão clássica.
Com o tempo, se foi amaciando,
foi-se tornando romântica,
incorporando os termos nativos
e amolecendo nas folhas de bananeira
as expressões mais sisudas.
Um elástico que já não se pode
mais trocar, de tão gasto;
nem se arrebenta mais, de tão forte.
Um elástico assim como é a vida
que nunca volta ao ponto de partida.»
Poema “Língua”, Gilberto Mendonça, poeta brasileiro
As suas origens estão escondidas lá no fundo, no baú da História, entre feitos e fatos, entre nomes e atos; numa Península Ibérica que nem esse nome ainda recebera, de povos ancestrais, antigos, amigos. Chegaram, então, em expansão territorial, os romanos, no século II a.C., com a língua que imperava no mundo mediterrânico: o latim, e aquilo que era apenas um embrião, começara a desenhar-se como um ser. Germânicos, mouros também contribuíram, com a riqueza das suas palavras, da sua semântica e da sua sintaxe, sintagmas e morfologias. E, no século XI, D. Afonso Henriques fundava um reino: Portugal, um povo alicerçado numa mesma identidade, uma só língua, formando uma nação.
A língua portuguesa cimentou-se como estandarte e estendeu-se, além – mar, por (quase) todos os continentes do mundo – África, Américas e Ásia; tal como todo o ser vivo, cresceu, interagiu e se socializou, se desenvolveu, e de pouco mais de 800 mil falantes, hoje em dia, é idioma de mais de 250 milhões de pessoas. Uma comunidade unida e coesa, irmanada pela identidade e cultura comuns, que crescerá ainda mais – conforme os cientistas sociais e estatísticos.
Plantada em terreno fértil: terras úberes e abençoadas, regada pelas águas atlânticas, adubada com as especiarias do Índico, mantida com o calor dos trópicos e com os climas amenos do mediterrâneo: esta é a língua que mais cresce no mundo. A língua que nascera em Guimarães, crescera em Lisboa e se desenvolvera em Coimbra, ganha novos traçados, quando entra no quotidiano do angolano, do brasileiro, do cabo-verdiano, do equato-guineense , do guineense, do moçambicano, do santomense e do timorense.
Já não se discute se se vai de ônibus ou de autocarro, se somos muitos ou bué ; nesta jornada para o futuro, abraçamos juntos todas as expressões idiomáticas, todas as idiossincrasias de cada um dos povos, de cada uma das pessoas, e fundamos juntos, todos os dias, esta mesma língua: a língua portuguesa.