Leishmaniose visceral: infectologista explica doença que afeta humanos e cães

Uma semana após o falecimento de uma criança de Caiuá, Dr. Luiz Euribel Prestes Carneiro explicou as características, sintomas e prevenção da doença, que vem crescendo no Estado

Saúde & Bem Estar - CAIO GERVAZONI

Data 03/11/2024
Horário 07:10
Foto: Agência Brasil
Transmissão da leishmaniose aos humanos ocorre quando mosquito-palha infectado pica o homem, transferindo o parasita ao hospedeiro definitivo
Transmissão da leishmaniose aos humanos ocorre quando mosquito-palha infectado pica o homem, transferindo o parasita ao hospedeiro definitivo

Uma semana após o falecimento de uma criança de Caiuá por leishmaniose visceral, o médico infectologista Dr. Luiz Euribel Prestes Carneiro, professor da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), e doutor em Imunologia, explicou as características, sintomas e prevenção da doença, que vem crescendo no Estado de São Paulo.

A leishmaniose é causada por parasitas do gênero Leishmania e transmitida ao homem e a cães pelo mosquito-palha. “As leishmanioses são doenças produzidas por um parasita do gênero Leishmania que infecta células de diferentes organismos, inclusive o homem. Ela é uma doença vetorial, isto é, a transmissão é feita por um mosquito. Ela se apresenta de duas formas: a leishmaniose cutânea mucosa, que afeta pele e mucosas, e a visceral, que pode atingir todos os órgãos, principalmente medula óssea e baço”, elucida Dr. Euribel.   

Segundo o infectologista, a forma visceral da doença é muito mais grave e vem se espalhando por todo o Estado, sendo o oeste paulista uma região endêmica, ou seja, uma área que possui condições ideais para a proliferação do mosquito-palha, principal vetor da doença. 

Diferença da manifestação

O médico explica a diferença da manifestação da doença nos seres humano e nos cães. “O cão tem um papel muito importante na cadeia de transmissão, pois atua como um reservatório do parasita. Quando picados pelo vetor, o mosquito-palha, é infectado e pode desenvolver a doença. Ficam emagrecidos, com feridas pelo corpo e crescimento das unhas sendo chamada de leishmaniose visceral canina”, pontua o especialista. 

A leishmaniose visceral em cães torna o animal um reservatório importante para o parasita, o que contribui para a disseminação da doença entre humanos. “O ciclo de transmissão aos seres humanos se dá através de um vetor, o mosquito-palha que, quando infectado pelo parasita [Leishmania] pica o cão doméstico [reservatório], altamente suscetível à infecção. O cão passa a desenvolver a doença e um novo mosquito-palha, ao picar o cão, irá produzir centenas de parasitas. Agora esse mosquito infectado, ao picar o homem, transmite a doença [hospedeiro definitivo], nesse caso temos a leishmaniose visceral humana”, descreve Dr. Euribel.

Transmissão, sintomas e perigo

A transmissão aos humanos ocorre quando um mosquito-palha infectado pica o homem, transferindo o parasita ao hospedeiro definitivo. De acordo com o Dr. Euribel, entre os sintomas mais comuns em humanos estão febre persistente, emagrecimento, aumento do volume abdominal, especialmente do baço, palidez cutânea e anemia. 

“A leishmaniose visceral humana é uma doença muito grave, que se não for diagnosticada precocemente e tratada pode levar à morte, especialmente os grupos de maior risco como crianças, idosos e pacientes imunossuprimidos, como aqueles portadores de HIV/aids. O Estado de São Paulo apresenta o maior índice de letalidade para leishmaniose visceral humana do Brasil. Em todo o país, o número de casos vem diminuindo, mas a letalidade continua alta”, alerta o médico. 

Diagnóstico e tratamento

Ele explica que a leishmaniose visceral humana pode ser confundida com outras doenças. “O médico precisa ficar atento de onde vem o paciente, pois no oeste paulista temos vários municípios considerados endêmicos pelo Ministério da Saúde. No exame de sangue [hemograma], na grande maioria dos casos, vai haver anemia com diminuição importante do número de plaquetas”, constata o infectologista. 

O médico relata que pacientes com leishmaniose visceral precisam, na maioria das vezes, ser internados para o tratamento. “O tratamento geralmente exige internação e pode variar conforme o estado de saúde do paciente. Crianças, gestantes, idosos e imunossuprimidos necessitam de cuidados específicos e medicamentos diferenciados. Nos imunocompetentes, o tratamento é mais prolongado, mas a resposta é geralmente positiva se o diagnóstico é precoce”, afirma o especialista.

Controle do ambiente

Dr. Euribel reforça que a prevenção da leishmaniose envolve o controle do ambiente e conscientização. Primeiro, ele relata como se dá o ciclo da doença. “A leishmaniose visceral é uma zoonose, isto é, para sua transmissão é necessário a presença de um vetor [mosquito-palha], de um reservatório [o cão doméstico] e do hospedeiro definitivo [o homem]. O mosquito-palha se reproduz em locais onde existem animais de sangue quente, como roedores, cães e aves, pois se alimenta de seu sangue. Escolhe locais onde haja lixo doméstico, quintais com folhas apodrecidas gerando material orgânico, especialmente nas periferias das cidades”. 

Após a explicação, o médico indica como se dá a prevenção. “Saneamento básico, destinação adequada de resíduos domésticos, cães saudáveis e limpeza de jardins e quintais são fundamentais para o controle e prevenção da doença. Além disso, instruir a população sobre a doença, pois o conhecimento é a principal forma de prevenção.  Os médicos, principalmente aqueles que trabalham com a atenção básica, precisam ficar atentos aos sinais e sintomas, pois o diagnóstico e tratamento precoces salvam vidas”, o especialista.

Arquivo

Dr. Euribel: “Diagnóstico e tratamento precoces salvam vidas”

Publicidade

Veja também