As vacinas são tipos de medicamentos que desafiam o sistema imune a produzir proteínas específicas (imunoglobulinas) para combater um determinado vírus (Covid-19, gripe, etc). E se fosse produzida uma vacina que estimulasse a produção de proteínas que combatessem células tumorais? E outra vacina que combatesse o acúmulo de gordura e a obesidade? E outra vacina que estimulasse a produção de proteínas tal qual faz o exercício físico?
PÍLULA DO EXERCÍCIO
A vacina ou pílula do exercício é algo que tem sido estudado e buscado em alguns laboratórios pelo mundo. Uma pílula desse tipo resolveria o problema da preguiça daqueles que preferem ficar no sofá assistindo séries a ir para academia fazer esforço e suar. Mas, sobretudo, ajudaria muito aqueles que têm limitações de movimento (acamados, idosos frágeis, tetraplégicos) e que não podem contar com os numerosos benefícios que o exercício físico pode proporcionar.
TENTATIVAS
Um termogênico talvez tenha sido o primeiro candidato a “substituir” o exercício. Na década de 1930 foi utilizado o dinitrofenol (DNP), um desacoplador da cadeia respiratória (processo de produção de energia na mitocôndria). É um “acelerador” do metabolismo que gera calor e promove emagrecimento e definição muscular. Foi proibido em 1938 pela FDA em razão de seus efeitos colaterais, tais como febre, suor excessivo, desidratação, fraqueza muscular, convulsões, coma, falência dos órgãos e até mortes.
FITOQUÍMICOS E QUÍMICOS
Gosta de pimenta? Pois a pimenta tem a capsaicina, um fitoquímico com efeitos semelhantes aos do exercício, além de outros que podem ajudar no emagrecimento: diminuição do acúmulo e aumento da quebra de gordura, aumento da secreção do peptídeo semelhante ao glucagon (GLP-1; alguém conhece Ozempic?) pelo intestino, melhora da microbiota intestinal e diminuição da fome. Outro fitoquímico estudado foi o resveratrol, presente na uva tinta. Os químicos que já foram candidatos à pílula do exercício foram o Aicar, GW501516 e a metformina, todos tendo efeito principalmente de aumentar a atividade da mitocôndria. Para tristeza dos sedentários convictos, nenhum deles foi eleito.
O lactato favorece a homeostase cerebral e prevenção da depressão. Os corpos cetônicos estão relacionados com neuroproteção e estímulo de funções cognitivas
LaKe
É um acrônimo da união de lactato (La) com corpos cetônicos (Ke, de Ketone bodies). Durante o exercício físico, os músculos produzem naturalmente o lactato, que inicialmente é benéfico, mas se torna um fator de fadiga quando se acumula. O lactato pode ser entendido como uma exercina, ou seja, molécula produzida pelo músculo durante o exercício com efeitos na regulação do metabolismo e funções fisiológicas. O fígado, por sua vez, estimulado pelo exercício, produz os corpos cetônicos como o beta-hidroxibutirato (BHB), principalmente em esforços prolongados. Além desses, o exercício também estimula a produção do ácido β-aminoisobutirico (BAIBA), um produto do metabolismo do aminoácido valina e da pirimidina timina, que tem efeito benéfico em vários processos fisiológicos.
APLICAÇÃO
Estudos com o lactato demonstraram efeito de estimulação da angiogênese (novos vasos) e neurogênese (novos neurônios), favorecendo a homeostase cerebral e prevenção da depressão. Os corpos cetônicos também estão relacionados com neuroproteção e estímulo de funções cognitivas. No estudo em que ratos ingeriram o LaKe houve aumento do lactato e do beta-hidroxibutirato (BHB) no sangue, provocando respostas de aumento do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), importante para o sistema nervoso, do GLP-1 e da lactoil-fenilalanina (Lac-Phe), que diminuem a fome.
Referências
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