Natural de Presidente Prudente, o médico José Eduardo Pinheiro acaba de inaugurar sua nova clínica de Geriatria e Gerontologia. Ele cursou Medicina e Residência de Clínica Médica na UEL (Universidade Estadual de Londrina) e depois Geriatria no Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo). Voltou à Presidente Prudente em 1996. Além da medicina, José Eduardo tem algumas paixões que possivelmente poucas pessoas sabem: coleções de filmes clássicos, gibis, trilhas sonoras de novelas e o prazer pela escrita sobre assuntos que rodeiam a terceira idade. Semanalmente, as terças-feiras, O Imparcial traz sua coluna denominada “DignaIdade” qual completou 21 anos de história, em março!
Qual a preocupação no desenvolvimento do projeto dessa nova clínica?
A preocupação maior sempre foi com o conforto e acessibilidade do cliente, tanto idosos como adultos. Queria um espaço próprio exclusivo para atendimento em Geriatria, tanto preventiva como curativa. Imaginei um design neoclássico e a arquiteta Carla Reichert transformou minhas ideias num projeto real.
Porque escolheu a Geriatria?
Um conjunto de motivos. A dificuldade em escolher uma especialidade clínica única, uma vez que gostava de todos os estágios da faculdade; o extremo prazer de lidar com o idoso devido à receptividade e intercâmbio de emoções; e a necessidade premente de profissionais na área.
Em que a abordagem do geriatra difere dos médicos de outras especialidades?
O geriatra tem que ter um olhar global sobre a saúde do idoso, não fragmentado em órgãos e aparelhos. Entender que tratamentos múltiplos devem coexistir e combinar-se entre si. Saber aplicar o conhecer da Ciência Médica em relação às particularidades do organismo idoso. Entender que as consultas são mais complexas, demoradas e demandam tolerância, flexibilidade e muito afeto.
Quais são as habilidades que um geriatra precisa ter ou desenvolver?
O profissional, para lidar com os idosos, apresenta naturalmente algumas características. A consulta com eles é diferenciada no seu tempo, pois ele se expressa de uma forma mais lenta e você também precisa ter um diálogo mais pausado, então, ocorre em uma velocidade reduzida. O médico precisa também cuidar de um paciente cujo fator clínico-físico e emoção estão muito ligados.
“O ENVELHECIMENTO
É UM FENÔMENO
POPULACIONAL
MUNDIAL”
Qual deve ser a frequência de visita ao geriatra?
As frequências são muito individuais e dependem das particularidades de cada paciente. De uma forma preventiva e geral, consultas bianuais são muito adequadas para a maioria dos pacientes estáveis.
A idade em que uma pessoa é considerada idosa mudou nas últimas décadas?
O envelhecimento é um fenômeno populacional mundial. As expectativas médias de vida aumentam a cada ano, principalmente em países em desenvolvimento como o Brasil. Em nosso país, não houve mudanças quanto à definição de idoso do ponto de vista legal e de direitos: 60 anos. Está ocorrendo, no entanto, uma mudança do perfil dos idosos. Cada vez mais estamos tendo idosos com condições de funcionalidade bastante preservada (autonomia e independência) por tempo mais prolongado.
O idoso de hoje se cuida mais?
Há um aumento nítido da conscientização sobre cuidar-se preventivamente em relação às décadas anteriores. Há uma melhora evidente nas condições gerais de vida da maioria dos idosos, mesmo com as precárias condições sociais e econômicas de muitos deles. No entanto, embora tenhamos mais idosos do que antigamente, os hábitos de vida também se deterioraram quanto à alimentação, sedentarismo, vícios e estresse da vida moderna. O idoso de hoje se cuida mais, mas também precisa mais destes cuidados do que os idosos de outrora.
“O IDOSO DE HOJE
SE CUIDA MAIS, MAS
PRECISA MAIS DE
CUIDADOS DO QUE
OS DE OUTRORA”
Ainda existe preconceito por parte de algumas pessoas em procurar um geriatra?
Muito. Há um entendimento que ir ao geriatra é apenas para o idoso, e há uma negação social sobre aceitar-se idoso.
Quais os impactos da pandemia para a Terceira Idade?
Muito intensos. Não apenas quanto à mortalidade e perda de muitos idosos, mas o confinamento prolongado também é nocivo para diversas condições de saúde. Aumentam a frequência de ansiedade e depressão, e a inatividade gerada contribui para o agravamento da mobilidade física e para o tratamento de patologias como hipertensão arterial, diabetes mellitus e doenças cardiovasculares.
Existe diferença de idade para homens e mulheres sobre quando procurar o geriatra?
Não há uma data-padrão para os cuidados preventivos serem iniciados. Tanto homens como mulheres acima dos 18 anos já iniciam processos degenerativos celulares mesmo que microscópicos. A mudança de estilo de vida será mais impactante quanto mais precoce forem os cuidados, e a ação da Geriatria em adultos jovens se assemelha à Clínica Médica. As mulheres apresentam uma diferenciação quanto aos homens: a falência hormonal da menopausa é o fator precipitador de muitas condições patológicas como osteoporose e doenças metabólicas. O ideal seria iniciar medidas preventivas ao menos uma década antes da ocorrência, portanto, por volta dos 35 anos.
“FALO BRINCANDO:
DEIXOU O PEDIATRA,
JÁ PODE IR AO GERIATRA”
Que tipos de enfermidades são mais comuns em pacientes idosos?
As doenças de maior mortalidade no idoso se concentram em três grandes grupos: doenças cardiovasculares, neoplasias e doenças infecciosas. No entanto, as mais frequentes no consultório de Geriatria são as doenças degenerativas articulares (artrose ou osteoartrite), os estados depressivos e as queixas cognitivas (déficit de atenção do idoso e estados demenciais).
O que considera importante destacar para ter uma velhice saudável?
A regra maior é permitir-se. Não lamentar-se pelo que se perdeu e agradecer pelo que resta. Ser resiliente diante das perdas que irão ocorrer, para que elas não sejam causadoras de danos irrecuperáveis. Envelhecer não é deixar de ser criança, jovem ou adulto: é conservar dentro de si uma boa pitada de cada um deles.
Só idoso vai ao geriatra? Quando devo procurar um?
Falo brincando: Deixou o pediatra, já pode ir ao geriatra. A prevenção começa na mais tenra idade.
Dr. José Eduardo Pinheiro, diante de sua nova clínica de Geriatria e Gerontologia, na rua Rui Barbosa, 1220: design neoclássico
Dr. José Eduardo e suas assistentes