A jornalista, natural de Botucatu, conhecida professora de jornalismo em Presidente Prudente, onde reside há mais de duas décadas, Heloísa Miguel, publicou em agosto deste ano, seu primeiro trabalho literário, um romance intitulado “O outono de 1970”. “Já escrevi diversos livros para empresas e há muito tinha esse desejo de me testar na ficção. A pandemia deu uma pausa que aproveitei para escrever”, diz a autora.
Heloísa lembra que sempre foi uma leitora de romances. Que gosta das narrativas longas e queria contar uma história de mulheres, não somente no tempo presente do livro - o outono de 1970, que é a época da sua infância -, mas também voltando uma geração para mostrar que a mulher de 1970 deriva das que a precederam. “A igualdade de gêneros é construção histórica e nessa luta, sempre há aquelas que nos antecederam”, frisa.
Adentrando num contexto histórico, Heloísa comenta que o romance se situa no início da década de 70, que viria a ser de expressivas mudanças nos costumes. Conforme ela, até o final da década de 60, no Brasil, o modelo tradicional de família era marcado por grandes diferenças entre homens e mulheres. Esse modelo, com o homem como único provedor e a mulher como dona de casa, deixaria de ser predominante, mas essa não foi uma transição fácil. “A autonomia feminina envolve a capacidade de gerar renda própria e de controlar esses recursos, e essa é uma questão importante no livro”, destaca a escritora.
“A AUTONOMIA FEMININA ENVOLVE A CAPACIDADE DE GERAR RENDA PRÓPRIA E DE CONTROLAR ESSES RECURSOS, E ESSA É UMA QUESTÃO IMPORTANTE NO LIVRO”
Heloísa Miguel
Outro ponto interessante do livro que a escritora cita é a ponte entre a vida rural e a urbana. Segundo a jornalista, em 1940, somente um quarto da população brasileira morava em áreas urbanas. Em 1980, a população vivendo nas cidades já era o dobro da população rural. Então, as décadas de 60 e 70 foram marcadas fortemente pelo êxodo rural brasileiro. “Essa migração do campo faz com que a protagonista do livro seja a primeira geração da família no meio urbano, como era comum à época, e o livro também traça esse movimento que tem forte influência nos costumes”, menciona a autora.
Narradora e autora se confundem para contar os acontecimentos que transformam a vida de duas crianças, no decorrer do outono de 1970. Quando numa manhã, a diretora da escola interrompe a aula para mandar uma delas para casa mais cedo, tem início uma série de eventos fortuitos que tomam proporções infinitas aos olhos da protagonista Glorinha e de seu vizinho Demétrio. Na lousa, abaixo do retrato do presidente Médici, o cabeçalho com a letra desenhada da professora anuncia: Sexta-feira, 17 de abril de 1970.
Daí em diante, para superar uma realidade que se desfigura rapidamente, a menina de 10 anos se apega amorosa e enternecidamente à amizade com Demétrio, e aviva memórias esmaecidas das pessoas que a cercam “na esperança de que aflorasse do passado alguma luz sobre o presente nebuloso, se não o suficiente para compreendê-lo, ao menos, que ajudasse a aceitá-lo com o coração mais leve”. A sucessão de rompimentos – da vida, do lar e até do país como o conhecia – vai moldando de maneira significativa a trajetória de Glorinha, que se sente precocemente empurrada para fora da infância.
Heloísa conta que a narradora é uma menina, Glorinha, que está prestes a completar 11 anos e tem que lidar com uma série de rompimentos - da vida, do lar e até do país como o conhecia – e se sente precocemente empurrada para fora da infância. Na tentativa de entender melhor uma realidade que se altera rapidamente, ela remexe o passado das pessoas que a cercam. “É uma história de família: as crianças, seus pais, avós, e as relações muitas vezes conflituosas que são inerentes à vida familiar. E uma história de amizade, pois é na união entre as duas crianças - a menina Glorinha e seu vizinho Demétrio - que ambos se fortalecem”, salienta.
FICHA TÉCNICA
Título da obra: “Outono de 1970”
Coordenação Editorial: Leonardo Costaneto e Olavo Romano
Autora: Heloísa Miguel
Selo: Caravana
Gênero da Obra: Romance
Formato: 14x21cm
ISBN: 978-65-5061-230-6
Número de páginas: 294
Editora: Caravana
Capa e editoração eletrônica: Moacir Calarga
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