Isso não foi combinado, amigo

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 23/01/2024
Horário 05:30

Sabe, Serginho, vou ser bem muito sincero: nada ali combinava com você. Nem o caixão, as flores, nem as velas e muito menos o choro de tanta gente. Nem o dia que você escolheu para ir embora bateu, porque domingo era o seu dia de alegria, de vida, de comer bem, de ficar com a família.
 
Enquanto te via ali, deitado, escutava também aquele monte de frase que todo mundo fala quando alguém muito bom vai embora cedo demais: “Como pode isso?”, “Não é possível, tão novo, tão cheio de vida?”. O padre falou bonito também, mas quem disse que palavras resolvem uma dor tão aguda?
 
Eu mesmo, até queria, Serginho, escrever os versos mais bonitos para você hoje, mas qual o quê? No lugar de sair algo que combinasse com a dignidade do homem que foi, só consegui me lembrar do último encontro que tivemos. Eu, você e o Dú, em nosso happy hour anual. Rimos bastante e lá pelas tantas, no mais alto grau de filosofia de bar, chegamos à conclusão de que o importante na vida é o que construímos durante a jornada e não como seremos reconhecidos ao final.
 
Genial e simples ao mesmo tempo, mas poxa, Serginho, precisava provar isso para gente agora? Precisava abrir nossos olhos para o cara que não perdia a chance de entregar tudo que podia em qualquer lugar, qualquer hora? Cada piada sua, cada sorriso fácil, cada abraço gostoso, cada brincadeira... Não é difícil enxergar hoje que tudo em sua vida sempre foi o seu melhor. Você não economizou alegria, bondade e carinho com ninguém.
 
Que dor ter que pensar assim agora, com aquela sensação de querer um pouquinho mais da pessoa somente depois que ela vai embora. Sorte daqueles que viveram intensamente ao seu lado, que vão poder se lembrar com muita clareza o que foi a sua vida e não como foi a sua morte.
 
Enfim, Serginho, já provocando em você aquela risada gostosa que a gente conhece, só tenho a dizer mesmo que essa história de morrer não combinou mesmo contigo e nós aqui agora temos que tentar encaixar em um mesmo espaço a saudade e a ausência. 

Não vai ser fácil, não, mas tudo bem! Nós vamos conseguir. Por você, amigo! Por você!
 

Publicidade

Veja também