A história do IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas) está intimamente ligada à história de conservação do mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus), espécie símbolo do Estado de São Paulo e que só existe no oeste paulista. Foi ali que o instituto começou seu primeiro projeto de pesquisa científica para salvar a espécie da extinção, ainda no final dos anos 80, e expandiu seus estudos complementares para o desenvolvimento sustentável na região, com reflorestamento, educação ambiental e geração de renda para a população. Liderando esse movimento estavam Claudio e Suzana Padua, que junto com estudantes e jovens profissionais, fundaram oficialmente o instituto em 1992. O IPÊ - iniciou sua história na região e conta com uma série de ações no Pontal do Paranapanema. A ONG celebra aniversário juntamente com a cidade de Teodoro Sampaio (21 de março), cidade que abriga uma de suas bases.
Como organização não governamental brasileira, completar três décadas está repleto de significados e, mesmo diante de tantos desafios, o IPÊ reforça os princípios e valores que norteiam todas as ações desde o início. Todos os estudos do IPÊ são desenvolvidos com base científica, em campo, na busca de soluções para desafios da sociedade, em especial de produtores rurais, comunidades tradicionais e indígenas, com benefícios que vão além dos limites dos territórios onde atua.
Para o instituto, desde o início, ficou evidente que para conservar a biodiversidade era preciso mobilizar comunidades, estudantes, lideranças locais, o poder público e despertar o interesse de potenciais apoiadores e financiadores. Nessa direção, o IPÊ estabeleceu um modelo que tem na Educação Ambiental e no estabelecimento de Parcerias aliados da pesquisa científica de aplicação prática.
Todos os anos, 12 mil pessoas são diretamente beneficiadas com as ações na Mata Atlântica, no Cerrado, no Pantanal e na Amazônia. No Pontal do Paranapanema, o Mapa dos Sonhos desenvolvido em conjunto por produtores rurais, órgãos públicos, demais instituições que também atuam na região e pesquisadores do IPÊ identificou as áreas prioritárias para restauração. Como forma de conciliar conservação da biodiversidade com diversidade de alimentos e geração de renda para produtores rurais, o Mapa incluiu entre as estratégias a implementação de SAFs (Sistemas Agroflorestais) nas pequenas propriedades e a criação de viveiros comunitários.
Hoje são nove viveiros comunitários localizados na região do Pontal do Paranapanema, acompanhados de perto pelo IPÊ, sendo cinco liderados por mulheres. Eles evidenciam o potencial do desenvolvimento sustentável. Em 2020, esses viveiros produziram aproximadamente 800 mil mudas e beneficiaram 26 famílias. O potencial de produção, entretanto, é quase o dobro e, visto que o passivo ambiental do Oeste Paulista é de 77 mil hectares, a tendência é de crescimento na produção dos viveiros.
Ivone Ribeiro Campos Félix, proprietária do Viveiro Floresta há quatro anos, revela os avanços do negócio e os próximos passos. “Comecei produzindo 17.600 mudas por ano. Em 2020, o viveiro produziu 150 mil mudas e o plano é ampliar a produção”.
Com a renda do viveiro, Ivone garante o ensino universitário das duas filhas. “Paz, contribuição com meio ambiente, realização da graduação das filhas são os resultados que colho com meu viveiro”, pontua.
Atuação em rede
“Temos muito orgulho de nossa rede, afinal não fazemos nada sozinhos. Doadores, financiadores, apoiadores, conselheiros, instituições pares e comunidades sempre foram e são fundamentais nesse processo que envolve crescimento, evolução e resultados”. Parceria na história do IPÊ – com órgãos públicos, universidades, terceiro setor e com a iniciativa privada – é uma questão central para o ganho de escala com resultados que beneficiam a todos, afinal, compartilhamos com a biodiversidade um só planeta.
Com a iniciativa privada, contamos com cerca de 20 parcerias. Em 18 anos, lançamos junto com as Havaianas 17 coleções de adulto e quatro voltadas ao público infantil que valorizam a biodiversidade brasileira. Até o momento, 57 espécies da fauna brasileira foram retratadas. Iniciativas como essa reforçam nossas ações e levam a mensagem de como é estratégico conservar a nossa biodiversidade para um público cada vez mais amplo.
A trajetória e os proximos passos
O instituto que começou com menos de 10 pesquisadores conta atualmente com 30 projetos/ano realizados por cerca de 100 profissionais em quatro biomas.
Como forma de contribuir com o ganho de escala de ações na área da sustentabilidade no Brasil e no exterior, o IPÊ criou a ESCAS - Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade com cursos curtos, de pós-graduação e mestrado profissional (conceito 4, CAPES, 4-5). Foi a primeira ONG a ter um Mestrado na área de conservação da biodiversidade, em 2008. Mais de 7.000 profissionais já se formaram nos cursos da ESCAS.
Os 50 prêmios entre nacionais e internacionais conquistados pelos pesquisadores e pelo instituto – entre eles Whitley Gold Award (2020, 2015, 2008), Empreendedor Social Folha SP e Schwab Foundation (2009), UBS Visionaris Global (2019), Prêmio Ford (2009) Melhores ONGs para se Doar (2017) – reforçam que estamos no caminho.
Diante dos resultados obtidos até o momento ampliamos nossa meta, confira os resultados que esperamos atingir em 5 anos: 20 mil pessoas diretamente beneficiadas/ano, alcançar os 9 mil profissionais capacitados pela ESCAS, beneficiar 380 famílias/ano, formar 300 mestres.
Nossos grandes objetivos são também tirar todas as espécies com as quais atuamos diretamente da lista vermelha de ameaçadas de extinção ou melhorar a sua classificação nessa lista. Além disso, em 30 anos, queremos alcançar a marca de 150 milhões de árvores plantadas.
Restauração de florestas, proteção de cursos d’água, conservação de espécies e desenvolvimento sustentável são todas medidas que somam esforços no combate às mudanças climáticas e contribuem com o equilíbrio do planeta; o que ficou ainda mais evidente no contexto da pandemia de Covid-19.
Trinta anos depois, entre os resultados conquistados pelo IPÊ no Oeste paulista, estão:
- 5,4 milhões de mudas de árvores plantadas da Mata Atlântica, incluindo o maior corredor já restaurado no bioma
- a mudança na categoria do mico-leão-preto de "criticamente ameaçado" para "ameaçado"
- o maior banco de dados da anta brasileira (Tapirus terrestris), que é sentinela da saúde das florestas
- trabalhos para geração de renda da população, que beneficiam mais de 200 famílias.
- adoção do programa de educação ambiental pelas escolas da cidade de Teodoro Sampaio (SP), com cursos para professores e estudantes da rede pública.
Foto: Laurie Hedges
IPÊ iniciou sua história na região e conta com uma série de ações no Pontal do Paranapanema