Infectologista de Prudente alerta sobre surto de virose em praias do litoral paulista

Wilson Zangirolami diz que tudo levar a crer que a causa disso é um colapso da capacidade que as cidades têm de lidar com o esgoto formado por um grande número de turistas

PRUDENTE - Cassia Motta

Data 10/01/2025
Horário 07:10
Foto: Reprodução
Conforme Estado, surto de virose foi causado por um norovírus
Conforme Estado, surto de virose foi causado por um norovírus

De acordo com informações da FolhaPress, o surto de virose, confirmado pelo governo de São Paulo, que atingiu moradores e turistas no Guarujá, litoral paulista, foi provocado por um norovírus. Apesar disso, a origem das infecções ainda é investigada. Segundo a FolhaPress, a Secretaria de Estado da Saúde explica que o norovírus é um tipo de vírus com alta capacidade infecciosa, transmitido por via fecal-oral. Ou seja, quando partículas eliminadas por fezes infectadas chegam até as vias orais. 

Os sintomas são diarreia, dor de cabeça e muscular, além de febre baixa. Os efeitos podem durar até três dias. O tratamento mais indicado é a hidratação e repouso. O norovírus na Baixada Santista foi confirmado pelo governo a partir de amostras de fezes analisadas pelo Instituto Adolfo Lutz.

O infectologista José Wilson Zangirolami, de Presidente Prudente, faz um alerta, principalmente para aquelas pessoas que pretendem viajar para alguma praia. “O que está acontecendo este ano no litoral de São Paulo, e não só no litoral de São Paulo, mas também no litoral de outros Estados, é um aumento muito grande do número de casos de gastroenterites, ou seja, diarreia, vômito, desidratação, tanto em turistas quanto em moradores locais. Normalmente, nesta época, principalmente por conta do grande fluxo de turistas, há um aumento do número de casos de gastroenterites. Mas o que aconteceu neste ano foi fora do padrão, acima do normal”.

O infectologista acredita que a causa seja justamente um colapso da capacidade que essas cidades têm de lidar com o esgoto formado por esse grande número de pessoas. Isso leva então a uma contaminação. “A contaminação do mar, da água do mar, dali próximo à praia e se houver condições climáticas desfavoráveis, jogando mais água contaminada no mar por conta da chuva, e trazendo essa água mais para a orla por conta da maré, pode contaminar as pessoas que frequentam essa água. Além disso, boa parte dessas viroses são transmitidas de pessoa para pessoa, então, a pessoa pega a virose da água do mar que está contaminada com fezes humanas, com esgoto e depois pelo vômito, pela diarreia, pela mão suja, e acaba passando essa virose para outras pessoas”.

Virose

O termo virose, segundo o infectologista, pode ser usado com muitas intenções diferentes. Às vezes é usado no inverno para contemplar aqueles quadros de infecção respiratória e também pode ser usado nas épocas de mais calor, quando você tem os surtos de diarreia. “Então, viroses são termos que a gente usa quando você tem um grande número de casos de infecção respiratória, são as viroses respiratórias ou de infecção gastrointestinal, são as gastrointerites, são as viroses intestinais. No caso em questão deste momento que está passando na Baixada Santista e no litoral de São Paulo, nós estamos falando das viroses intestinais, das gastrointerites”.

Principais sintomas

Os sintomas mais frequentes são diarreia e vômito, levando à desidratação. “Neste surto em particular, os pacientes têm relatado bastante também dor de cabeça, dor muscular. Esse norovírus é bem conhecido entre os especialistas como causador de surtos de gastroenterite e causa realmente sintomas de febre, dor no corpo, mal-estar, evoluindo para a diarreia, vômito”. 

Formas de combater

O médico ressalta que, em se tratando de viroses intestinais, a principal forma de combater são medidas de higiene, e também ações sanitárias. “Isso não acontece no final e início do ano por coincidência, acontece porque há muitos casos, muita gente, e leva o sistema de tratamento de esgoto ao colapso. Então, há que ter investimentos pesados na parte de infraestrutura de saneamento básico para que isso não se repita nos anos futuros. Além disso, quando há um caso de diarreia, de virose intestinal, as pessoas que vão lidar com essa criança, com esse adulto doente, devem redobrar os cuidados com a higiene, principalmente com as mãos, que podem levar a contaminações”. 

Outra forma de contaminação que precisa tomar cuidado, segundo o médico, é o consumo de alimentos e água e líquidos processados sem a devida higiene. Esses vírus podem contaminar muito facilmente a água, alimento e até o gelo. 

Tratamento

O principal tratamento da gastroenterite é a hidratação. Essa hidratação pode ser feita por via oral, com soros caseiros, com isotônicos, com água de coco. “Quando a pessoa não consegue ingerir por via oral, porque está vomitando e tudo que ingere, vomita, aí é necessário fazer a hidratação venosa. Também o uso dos sintomáticos, remédios para dor, para febre e para o vômito. Mas, quando se demora muito para fazer a hidratação, a desidratação pode ser tão grave que pode levar a uma queda da pressão com uma condição mais grave do paciente. Então, nesses casos, pode haver até o risco de uma doença chamada choque, quando há uma desidratação tão séria que a pressão cai demais. Então, casos assim precisam de um atendimento médico preferencial”.

Pode causar a morte?

“A imprensa tem noticiado alguns poucos casos de morte e também casos mais graves. Esses casos são geralmente por consequência da desidratação, que foi muito severa e não foi manejada a tempo e, de fato, isso pode acontecer quando demora demais para procurar ajuda ou quando não consegue fazer hidratação a tempo”, expõe o médico.

De acordo com a FolhaPress, na última semana de dezembro, a Prefeitura de Guarujá registrou um aumento de 42% de queixas relacionadas a quadros de virose nos pronto atendimentos. Em dezembro, foram 2.064 atendimentos contra 1.457, em novembro. Além do município, moradores de Santos e Praia Grande, na Baixada Santista, e de São Sebastião, no litoral norte, também se queixaram dos mesmos sintomas. Os casos lotaram hospitais e farmácias.

Amanda Caroline Resende de Oliveira, 29 anos, morreu no último sábado (4), em Cristais Paulista, no interior paulista, após um quadro forte de virose. Ela havia viajado para o Guarujá dias antes de morrer. A morte ainda é investigada.

Possível fonte de infecção

Segundo a FolhaPress, a origem do surto provocou uma troca de acusações entre a Prefeitura de Guarujá e a Sabesp. Segundo o município, a origem seriam vazamentos e ligações clandestinas na rede de esgoto.

A empresa de saneamento rebateu. "Não foi identificado qualquer problema em sua rede que possa ter atingido as praias do Guarujá. Os sistemas de água e esgoto da Baixada Santista estão operando normalmente e são monitorados 24 horas por dia", afirmou em nota.

A Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) e a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo afirmam que estão acompanhando e orientando os municípios sobre medidas a serem adotadas.

Foto: Cedida

Infectologista Wilson Zangirolami: “O que aconteceu neste ano foi fora do padrão, acima do normal”

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