Um incêndio registrado na madrugada de domingo na Avenida Brasil, em Presidente Prudente, colocou em discussão a segurança de prédios abandonados. Desativado em 3 de junho do ano passado, o imóvel atingido pelas chamas abrigava o antigo Núcleo de Produção de Mudas, do DSMM (Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes), da Cati (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral), órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Desde então, é de propriedade do governo do Estado e destinado a compor o FII (Fundo de Investimento Imobiliário) da administração estadual, licitado em 30 de janeiro de 2017, no entanto, conforme aponta a pasta, “vem sendo invadido de forma irregular, alvo de usuários de drogas e moradores de rua”.
Munícipes que trabalham nas imediações suspeitam que o fogo foi desencadeado pelos próprios invasores. Isso porque, na semana passada, o prédio já fora alvo de um princípio de incêndio, rapidamente contido. Na manhã de ontem, uma equipe da Polícia Militar realizava patrulhamento no imóvel, uma vez que, mesmo após o ocorrido, o local continua sendo invadido. Os trabalhadores esperam que o desastre estimule a tomada de providências por parte do poder público, antes mesmo que a estrutura termine de ser condenada. A pasta estadual informa, entretanto, que “todas as medidas de segurança foram adotadas”.
O comerciante Márcio José Leopoldino, 43 anos, só tomou conhecimento sobre o caso na manhã de ontem, mas afirma que já esperava que isso viesse a acontecer, considerando o histórico de outras tentativas de incêndio no local. Ele lembra que, no último feriado, viu fumaça saindo do prédio e rapidamente acionou o Corpo de Bombeiros. “Como desta vez aconteceu de madrugada, a intervenção pode ter demorado um pouco mais”, avalia. Para Márcio, o maior incômodo é o mau odor proveniente da propriedade. “As pessoas que passam por aqui sempre reclamam do cheiro insuportável”, pondera. Conforme constatado pela reportagem, o prédio está tomado pelo acúmulo dos mais diversos tipos de entulhos, bem como um forte odor de urina.
A secretária Maria Alexandre de Lima, 56 anos, suspeita que o motivo do incêndio pode ter sido conflitos entre os usuários. Tanto que, segundo ela, policiais tinham que comparecer diariamente ao local. Em sua opinião, tudo isso poderia ser evitado se o imóvel não tivesse sido submetido ao abandono no decorrer do último ano. “Caso não derrubem o prédio, eles vão voltar a morar ali”, comenta. Já para a comerciante Irene Jacob, 47 anos, é “vergonhoso” manter nestas condições um imóvel localizado próximo ao Terminal Rodoviário Urbano, que movimenta centenas de pessoas todos os dias, obrigadas a conviver com o mau cheiro e a mendicância.
Atuação dos órgãos
Conforme o Corpo de Bombeiros, 350 metros quadrados do prédio foram queimados durante o incidente, ocorrido por volta das 3h50 da manhã, sem deixar vítimas. Para a contenção das chamas, a corporação contou com o trabalho de 14 homens e a utilização de 10 mil litros de água. Os motivos ainda não foram esclarecidos pela perícia. O 18º BPM/I (Batalhão de Polícia Militar do Interior) comunica que a área de localização do imóvel conta com a presença diuturna de viaturas de radiopatrulha, que são responsáveis pelo policiamento dos bairros Vila São Jorge e Vila Brasil, frente e fundo do local, respectivamente.
Além disso, dispõe do apoio de policiais militares que atuam por meio da Dejem (Diária Especial por Jornada Extraordinária de Trabalho Policial Militar). A corporação destaca o apoio da cavalaria, que presta serviço junto à linha férrea, nas proximidades. “Os moradores e comerciantes que atuam próximo ao local contam com o atendimento do posto policial do Centro, localizado na Praça Nove de Julho, além de um posto de apoio, situado no Terminal Rodoviário, composto por policiais que exercem a atividade delegada”, complementa.
A assessora da SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social), Maria Helena Veiga Silvestre, por sua vez, esclarece que a pasta desenvolve, por meio do Creas-Pop (Centro de Referência Especializado para Pessoas em Situação de Rua), um trabalho em conjunto com a Polícia Militar e o Caps (Centro de Atenção Psicossocial) a fim de abordar moradores de rua e usuários de entorpecentes que convivem em áreas como a do imóvel mencionado. O objetivo é conhecer a realidade destes indivíduos e, a partir disso, orientá-los a procurar um serviço de acolhimento do município ou uma unidade terapêutica. Maria Helena aponta que, por se tratarem de locais mais hostis, a ação exige cautela e deve respeitar a escolha dos abordados. A representante pontua que muitos chegam a recorrer a algum dos serviços da secretaria, como banho ou alimentação, mas retornam para esses espaços de risco em função da dependência química.
SAIBA MAIS
O desastre no antigo prédio da Cati sucede o desabamento de um prédio no Largo do Paissandu, na capital paulista. O edifício era ocupado por famílias de pessoas em situação de rua e foi tomado pelo fogo após uma explosão no quinto andar. Conforme informações da Folhapress, o local pertence à União, estava cedido à Prefeitura de São Paulo e se tornou alvo de invasões consecutivas, sendo que atualmente abrigava 146 famílias, com 372 pessoas.