Iludidos e emocionados

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 30/07/2024
Horário 06:00

“Vai, vai, vai, é sua vez agora! Acerta! Vai ser ouro! Var ser ouro! Poxa, valeu pela briga. O importante é competir e mais importante ainda é estar nas Olimpíadas. Ganhar ou perder faz parte do jogo. É isso! E agora você fica com mais um capítulo da novela...”
Vamos ser sinceros? Esta sequência de frases é sempre a mesma quando estamos em período de Olimpíadas e quase sempre também terminamos com um gosto amargo, meio que se justificando por não termos tido a competência de ganhar uma prova. 
Sim, somos iludidos por este fenômeno do esporte que acontece a cada quatro anos e que sempre antes de começar achamos aqui no Brasil que vamos dar um baile, ganhar de todos e por aí vai, até que um atleta qualquer do Kazaquistão nos coloca no lugar. 
Afinal, um país que não honra seus atletas, não possui trabalhos de base consistentes, só olha para o futebol e só dá atenção para mais da metade da delegação apenas uns meses antes das Olimpíadas não pode oferecer mais do que a eterna sensação de “quase”: “quase somos ouro”, “quase somos prata”, “quase estamos na final”, “quase ganhamos dos melhores do mundo”.
Realidade, amigos, realidade. 
Isso não quer dizer que nós não sejamos, além de iludidos, emocionados. 
Daí, a gente ganha mesmo de todo mundo porque se tem alguém que consegue ser cego diante da mais dura realidade é o brasileiro em época de Olimpíada. É tipo ter os EUA pela frente no basquete e soltar a frase: “Vai que dá, né?”. 
E isso vale muito porque durante pouco mais de duas semanas a gente se deixa envolver por tudo que acontece nesta festa do esporte mundial. 
E mais ainda, torcemos por esportes que não temos a menor ideia de como se desenvolvem. Mesmo alguns mais ou menos conhecidos, como o judô, por exemplo. A gente conhece, nosso filhos treinaram, alguns de nós subiram no tatame, mas temos um noção mínima da parada, de que basta dar um ippon para vencer e passamos a luta nesta vibe. Mesmo que às vezes role um shidô e a gente nem saiba por qual razão. 
O skate e a ginástica a gente ama, principalmente porque sabemos que têm uns atletas bons tipo a Rayssa Leal e a Rebeca Andrade. Mas não fazemos ideia do que acontece por lá e ficamos ouvindo os comentaristas dizerem aqueles nomes doidos de manobras e saltos: “Flic Het Ploc Zum Invertido” ou “Shakura Cavado Bangalô Três Vezes”. Por mim podia já facilitar pra gente criando uns: “Eita, Malandro”, “Tá doido Invertido”, “Caraca dos Santos”, Tá Pêga de Frente”. E a gente se diverte.
Sim, daqui até perto do meio do mês de agosto, se tiver insônia, não ligue. Ou melhor, ligue! Ligue a TV ou o celular e bora se iludir com algum atleta nosso que treinou muito sem apoio nenhum de patrocinador ou governo, cuidou dos filhos e de dois cachorros e vai enfrentar na final a holandesa que nasceu dentro do ginásio e passou a vida treinando para este momento. Vai que a aquela frase tosca “Brasileiro não desiste nunca” dá certo e a gente acerta uma! 

Vai Brasi iu iu iu iu iu iu iu iu iu iu! 
 

Publicidade

Veja também