Idosos são principais vítimas de mortes por desnutrição na região

Em 2022, foram registrados 25 óbitos por esta condição, sendo que 16 delas envolveram pessoas acima de 80 anos; especialistas atribuem a fatores fisiológicos, socioeconômicos e até emocionais

REGIÃO - DA REDAÇÃO

Data 11/02/2023
Horário 04:02
Foto: Freepik
Alterações nutricionais se tornam mais incidentes no processo de envelhecimento
Alterações nutricionais se tornam mais incidentes no processo de envelhecimento

A mesorregião de Presidente Prudente registrou 25 mortes por desnutrição em 2022, conforme dados preliminares disponibilizados pelo DataSUS, o departamento de informática do Sistema Único de Saúde. Deste total, 16 vítimas foram homens e nove, mulheres. A mortalidade atinge com maior incidência os idosos, sendo que 64% dos óbitos envolveram pessoas acima de 80 anos. No geral, houve um infantil, um entre 40 e 49 anos, dois entre 50 e 59 anos, cinco entre 70 e 79 anos e 16 no grupo de 80 anos ou mais.
O quantitativo de mortes por desnutrição no ano passado foi menor do que o registrado em 2021, quando houve 28 notificações. Naquele ano, a mortalidade também foi mais expressiva entre a população masculina (15 homens e 13 mulheres). Em relação às faixas etárias, houve um óbito entre 40 e 49 anos, quatro entre 50 e 59 anos, um entre 60 e 69 anos, seis entre 70 e 79 anos e, assim como aconteceu no ano seguinte, 16 no público acima de 80 anos, o que demonstra a maior incidência neste grupo (57,14%).
Os dados consideram ocorrências em 54 cidades. Em 2022, a maior quantidade de mortes por desnutrição foi observada em Presidente Prudente, com seis notificações. Já em 2021, o número mais alto se deu em Álvares Machado, com quatro. Na tabela que acompanha este material, a reportagem organizou as informações referentes às cidades que tiveram óbitos desta natureza em algum dos anos mencionados. O DataSUS não disponibiliza as causas da desnutrição, que podem ir além da fome.
A reportagem conversou com dois especialistas para entender que fatores explicam as alterações nutricionais em uma pessoa no processo de envelhecimento. Ambos destacam que tais componentes podem ser fisiológicos ou até mesmo decorrentes das condições socioeconômicas e psicológicas do idoso.

Agravantes fisiológicos

Em relação às causas fisiológicas, o endocrinologista André Camara destaca que, nesse grupo etário, ocorre a diminuição do olfato e do paladar, levando à menor percepção dos sabores e do prazer em certos alimentos. Soma-se a isso a dificuldade de mastigação devido à menor qualidade da saúde bucal do idoso. A deglutição também pode ser comprometida em função de comorbidades, como AVC (acidente vascular cerebral) ou doença de Alzheimer, por exemplo.
O profissional menciona ainda a redução de secreção de enzimas que auxiliam na digestão e absorção dos alimentos e a diminuição da motilidade (passagem do alimento ingerido) e do peritaltismo (contração e relaxamento dos músculos do tubo digestório), de modo que o indivíduo tem um lento esvaziamento gástrico e pode até mesmo apresentar constipação.
O geriatra José Eduardo Pinheiro também ressalta esses fatores, que, segundo ele, tornam o processo de mastigação e digestão mais demorado, fazendo com que muitos comecem a evitar alguns alimentos, especialmente os com consistência mais endurecida ou de processo digestório mais lento, como, por exemplo, aqueles ricos em proteínas.
O médico especializado no cuidado a pessoas idosas completa que as patologias também interferem na situação. Isso porque pessoas hipertensas, diabéticas, com níveis elevados de colesterol ou com doenças cardiovasculares são submetidas a dietas mais restritivas e menos calóricas, contribuindo para que as refeições fiquem mais irregulares. “Há ainda a influência do apetite e do paladar, que são agravados diretamente pelas patologias e pela ingestão de remédios usados no tratamento e controle delas”, considera.

Situação financeira

Mas nem só a fisiologia é preponderante. O endocrinologista André Camara afirma que, na terceira idade, há maiores gastos com saúde e a diminuição da capacidade de gerar dinheiro, sendo muitas vezes a aposentadoria insuficiente. O geriatra José Eduardo Pinheiro também cita essa condição e salienta que a baixa disponibilidade financeira implica em dietas menos balanceadas e ricas em vitaminas e proteínas.
Nesse contexto, evidencia-se ainda a perda da autonomia. André observa que os idosos ficam dependentes da disponibilidade de terceiros para preparar a comida ou para alimentá-los. José Eduardo complementa que aqueles que moram sozinhos ou com grupos familiares restritos têm refeições mais monótonas e, com frequência, substituem alimentos mais saudáveis por preparos mais rápidos, como é o caso de bolachas e macarrões instantâneos.
A dinâmica familiar também pesa. O geriatra argumenta que a alimentação é um ato prazeroso e, para muitos idosos, associado ao momento com seus entes queridos. “Quando comemos em grande número, há todo um ritual de socialização diante da mesa, o que favorece a alimentação. Alguns idosos vão reduzindo essa possibilidade por perda de entes queridos, pela família reduzida ou até mesmo em decorrência do menor vínculo com os filhos”, pondera José Eduardo
Quando a desnutrição é diagnosticada, o apoio familiar se faz necessário para evitar o agravamento. “O tratamento adequado, principalmente em conjunto com suporte familiar apropriado, diminui o risco de um desfecho desfavorável”, pontua o endocrinologista André.

Óbitos por desnutrição na mesorregião de Prudente

Cidades

2021

2022

Adamantina

0

1

Álvares Machado

4

1

Anhumas

1

0

Dracena

1

0

Emilianópolis

1

0

Junqueirópolis

1

0

Martinópolis

2

1

Osvaldo Cruz

1

0

Ouro Verde

0

1

Pirapozinho

0

1

Presidente Bernardes

0

1

Presidente Epitácio

3

2

Presidente Prudente

2

6

Presidente Venceslau

2

1

Rancharia

2

2

Regente Feijó

1

1

Ribeirão dos Índios

1

0

Rinópolis

1

1

Santo Anastácio

1

3

Taciba

1

1

Teodoro Sampaio

2

2

Tupi Paulista

1

0

Total

28

25

Fonte: DataSUS

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Endocrinologista André Camara aponta dificuldades para mastigação e digestão nos idosos

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Geriatra José Eduardo Pinheiro diz que dinâmicas familiares também influenciam

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