Como médico, acompanho a terceira idade há mais de 35 anos, na orientação de familiares e cuidadores, e no meu dia a dia, como médico anestesista, tenho realizado há muitas décadas inúmeras anestesias para os mais vários procedimentos cirúrgicos, nesta faixa etária, especialmente, aqueles pacientes com doenças degenerativas, como doença de Alzheimer e doença de Parkinson. As cirurgias vão desde correções de fraturas, quase sempre após quedas, dos braços, fêmur, para colocação de prótese de quadril e até no hematoma cerebral, o que tem sido um desafio para a nossa equipe médica.
O que mais me assusta são as idades cada vez mais precoces dos pacientes com estas doenças, já comprometida aparte cognitiva, pois alguns estão com 55 anos ou início dos 60 anos.
Na avaliação pré-anestésica, onde faço uma história do estado geral, se tem outras comorbidades, se usa medicamentos e, a grande maioria destes idosos, que chegam ao centro cirúrgico com alterações demenciais para cirurgia, também são depressivos e possuem várias doenças, como hipertensão arterial, diabetes mellitus, artrite reumatoide e hérnia de disco. Quase com frequência estes idosos têm associação psicoses secundárias, o que torna o cuidado do doente ainda muito mais difícil, desafiador.
É muito importante que familiares e cuidadores saibam que estes pacientes podem apresentar, infelizmente, em algum momento nesta fase da vida, quadros graves de transtornos mentais, mesmo na ausência de história familiar de transtornos mentais ou ausência de antecedente pessoal.
Estes idosos demenciais apresentam delírios persecutórios em mais de 30% dos casos e alucinações visuais, táteis e olfativas em 15% alucinações. Estes delírios costumam ser concretos e simples. E mais, podem estar associados com a gravidade do comprometimento cognitivo.
É importante que familiares e cuidadores tenham consciência da evolução da doença degenerativa e o tratamento ao transtorno mental, já que poderá ter uma resposta limitada ao tratamento, levando em conta sintomas mais graves que o esperado, com alterações subsequentes, mudança de personalidade e flutuação do nível de consciência.
As qualidades emocionais são primordiais para um cuidador de idoso, como manter o otimismo, não levar frustrações e angústias para o lar do idoso; proporcionar um ambiente agradável e saudável; separar problemas pessoais dos profissionais; saber acalmar o idoso e outras pessoas presentes; ter bom humor.
Difícil, mas com orientação e amor, é possível passar esta fase.