Hospitais de Prudente registram queda na captação de órgãos

De janeiro a agosto, número de procedimentos realizados no HR caiu 43,33% em relação ao mesmo período do ano passado; na santa casa, córneas recuaram 82,35%

PRUDENTE - ANDRÉ ESTEVES

Data 27/09/2018
Horário 04:00
Arquivo - Captações de órgãos são realizadas após a autorização dos familiares
Arquivo - Captações de órgãos são realizadas após a autorização dos familiares

Os dois hospitais de Presidente Prudente que realizam a captação de órgãos e tecidos registram queda no número de procedimentos. Dados emitidos pelo HR (Hospital Regional) Doutor Domingos Leonardo Cerávolo mostram que, no comparativo entre os primeiros oito meses do ano passado e o mesmo período de 2018, o total de remoções efetuadas sofreu uma queda de 43,33%, passando de 60 em 2017 para 34 neste ano. Já na Santa Casa de Misericórdia, que disponibilizou informações referentes a todos os meses do ano passado, captações de múltiplos órgãos recuaram de cinco em 2017 para dois em 2018. Já de janeiro a agosto, foram seis córneas colhidas, 82,35% a menos do que no mesmo intervalo de tempo de 2017, quando a instituição contabilizou 34. A resistência dos familiares ainda é um dos principais motivos que justificam este cenário – de acordo com o responsável pela Comissão Intrahospitalar de Transplantes da santa casa, Carlos Eduardo Bosso, 50% das abordagens promovidas pela equipe são malsucedidas.

Nesse sentido, o profissional destaca a importância do dia de hoje, 27 de setembro, quando é lembrado o Dia Nacional da Doação de Órgãos, para desconstruir mitos que ainda recaem sobre os procedimentos e incentivar as pessoas a discutirem o assunto dentro do núcleo familiar. Ele explica que, atualmente, há milhares de pessoas na fila por um transplante e, se ali estão, é porque um ou mais órgãos deixaram de funcionar. Para que a espera termine, não basta que apenas um paciente vá a óbito, mas que seja constatada uma situação muito particular – a morte cerebral.

Nessas circunstâncias, o corpo ainda funciona em perfeitas condições, mas as atividades do cérebro se tornaram inativas. Após o diagnóstico, os médicos responsáveis pelo caso prestam as condolências aos familiares e informam que o ente acabou de falecer. É neste momento delicado que entra a Comissão Intrahospitalar de Transplantes. Segundo Carlos Eduardo, em função do prazo curto que dispõem até a captação dos órgãos, esses profissionais precisam realizar a abordagem imediatamente. “Como a família não está preparada para tomar a decisão nesse momento, a taxa de aceite é muito baixa”, completa.

O especialista argumenta que este momento seria mais simples se as famílias tivessem conhecimento sobre o desejo dos pacientes de doar ou não os seus órgãos. Por esta razão, destaca ser tão importante que as pessoas verbalizem este interesse enquanto estão vivos. Isso porque, antigamente, tal informação constava no documento de identidade, mas deixou de ter validade. “Mesmo que a pessoa deixe um documento assinado em que diz ser doadora de órgãos, não há valor legal. As captações só podem ser autorizadas pelas famílias”, relata.

Carlos Eduardo aproveita a oportunidade para desmistificar a ideia de que a captação de órgãos abrevia a vida dos doadores. Ele denota que, para a família, é difícil entender que o paciente está morto, considerando que o coração continua em atividade. No entanto, a equipe médica realiza uma série de avaliações neurológicas com o objetivo de diagnosticar que toda a atividade cerebral foi interrompida. “Se todos os exames demonstrarem que não há mais atividade cerebral, o paciente é, legalmente, declarado morto”, salienta.

Neste ano, O Imparcial noticiou outro contratempo que estava comprometendo a captação de córneas pela santa casa. O hospital foi obrigado a reduzir o número de procedimentos em função da suspensão do transporte realizado pela Polícia Militar Rodoviária até a OPO (Organização de Procura de Órgãos e Tecidos) de Marília (SP). A instituição informa, contudo, que esse serviço foi retomado, mas de forma parcial.

Extensão da vida

A dona de casa Maria José dos Santos Ramaro, 38 anos, viu sua vida mudar em julho de 2016, quando recebeu a notícia de que seu marido e seus dois filhos haviam morrido em um acidente de trânsito em Álvares Machado. Em sua casa, a doação de órgãos já era um tópico discutido e, atendendo à vontade do filho em vida, autorizou o procedimento em Marcos Rodrigo Ramaro de Carvalho, 14 anos. No total, sete pessoas foram contempladas com os órgãos e tecidos colhidos. “Sinto que fiz a coisa certa. Isso me conforta e me ajuda a ficar sem minha família. Meu filho, tão novo, ajudou sete pessoas a ter uma nova chance de viver”, conta.

NÚMEROS

60

captações foram efetuadas pelo HR de janeiro a agosto de 2017

34

captações foram feitas pelo hospital no mesmo período de 2018

5

múltiplos órgãos foram colhidos pela santa casa em 2017

2

múltiplos órgãos foram removidos pelo hospital em 2018

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