Hoje tem feira!

OPINIÃO - Thiago Granja Belieiro

Data 29/06/2024
Horário 04:30

A ciência antropológica pode nos ensinar a olhar para nós mesmos com o objetivo de percebermos aquilo que não enxergamos cotidianamente, como a enorme riqueza e diversidade cultural que nos cerca. A feira livre da Manoel Goulart, que tem mais de 70 anos de história, é uma excelente oportunidade para a observação participante da interculturalidade do oeste paulista. 
Temos ali os brasileiros natos, de todos os matizes, entre eles, os descendentes de italianos, espanhóis, japoneses, sírios, libaneses; os afro-brasileiros, os raros indígenas; os nordestinos de diferentes Estados; alguns estrangeiros, como coreanos, chineses e venezuelanos. Gosto, em especial, da conversa sincera e honesta com os feirantes e sitiantes, que nos contam como produzem, sugerem receitas e dão verdadeiras lições de vida em uma rápida conversa. A vó Zé, nossa preferida, tem a sabedoria do tempo e da lida diária com as coisas do campo, que se expressa na qualidade de suas hortaliças e no carinho de suas palavras. 
Hibridismos culturais criam coisas únicas e saborosas, como o pastel com vinagrete, de descendentes de japoneses, é claro, que criaram esse quitute tão popular a partir de suas próprias referências gastronômicas. Não à toa, a fila sempre presente diante do trailer indica o apreço dos fregueses que o procuram. Fruto da miscigenação, a cultura prudentina nos brinda, por exemplo, com a Japioca, trailer de tapioca, incrível combinação do oriental com o indígena. Se gosta de comida japonesa, são muitas opções, o cantinho oriental e as bancas de sushi logo em frente são a melhor pedida.
O acarajé da Su, baiana de Ilhéus, nos dá a oportunidade de nos transportar daqui para lá a cada mordida, na saborosa iguaria de origem africana, mas nascida baianíssima da Silva. Das mãos do paraibano Paulo saem os sucos de laranja, e para os amigos, as melhores esfirras de tempero sírio que poderá provar. Logo ao lado, na barraca da Rosana, sitiantes e descendentes de imigrantes italianos, temos o milho mais fresco e tenro da feira, com suco de milho, curaus e pamonhas, imperdível. 
Na banca do Zuzo buscamos os temperos, as ervas, o guaraná da Amazônia, os cheiros e a riqueza da flora brasileira, remédios naturais que nos deixam saudáveis ao nos manter distantes das farmácias. Os ovos caipiras, muitas vezes difíceis de conseguir, pois dependem da vontade de suas produtoras (as galinhas) e da procura dos fregueses. Tudo isso só encontramos na feira. 
Só na feira é que realmente estamos com o outro, nas suas diferenças sociais, culturais e humanas. A proximidade que ela proporciona ao nos colocar a todos no pouco espaço entre as barracas é oportunidade para vivermos nossa interculturalidade, é estar ao lado de todos nas suas diferenças e na sua humana igualdade. Estar aberto ao outro é praticar a alteridade, que significa reconhecer, valorizar e respeitar as diferenças. Alteridade se conquista com educação, sensibilidade e disposição ao encontro com a cultura que nos humaniza. É a partir das 16h, vamos? 

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