O mês de janeiro que acabou de passar foi lembrado pela cor roxa, escolhida para alertar sobre uma campanha muito importante de combate a uma doença crônica, que antigamente era conhecida como lepra: a hanseníase. E sabe por que a abordagem agora? Justamente para lembrar que campanhas são promovidas para chamar a atenção aos problemas existentes, mas é importante que ao longo dos dias, durante todo o ano, o assunto continue em pauta, em evidência. Então, se você não sabe tanto sobre a doença, a dermatologista prudentina Deusita Fernandes Gandia Soares traz neste material algumas informações a respeito.
“A hanseníase é uma doença comum no Brasil, e muitas pessoas com hanseníase não sabem que estão com a doença. Uma boa notícia é que a hanseníase tem cura. Após o diagnóstico, a pessoa passa a tomar os medicamentos, que são fornecidos gratuitamente na rede pública de saúde”, diz a dermatologista.
Segundo Deusita, a hanseníase é uma doença causada por uma bactéria chamada Micobacterium leprae (M.leprae), em que a pessoa adquire quando convive, durante muito tempo, com outra pessoa que possui a doença. “Mesmo assim, somente uma pequena parcela das pessoas que entram em contato com o M. leprae desenvolve a doença”, diz ela.
O enfermeiro infectologista e coordenador do serviço de controle de infecção hospitalar do HSANP, Milton Alves Junior, expõe que a boa notícia é sim que, quando identificada e tratada precocemente, a hanseníase tem boas chances de cura. “No entanto, se o paciente não buscar tratamento, pode ter sequelas para o resto da vida, como limitações físicas, fraqueza muscular e até a perda do movimento da mão”, explica o especialista, lembrando o porquê é importante dar continuidade às campanhas.
Segundo ele, o diagnóstico no estágio inicial é primordial para a cura e para impedir a disseminação da bactéria. A análise clínica deve ser feita para verificar a incidência, além da realização de um exame de baciloscopia do raspado intradérmico, que é necessário para identificar a presença de bacilos. O infectologista acrescenta que, em caso positivo, logo no início do tratamento é possível cessar a transmissão da doença.
A transmissão ocorre quando um paciente infectado e sem tratamento elimina o vírus e passa para outra pessoa. A propagação se dá pelo contato com secreções de vias respiratórias como tosse, espirro e pela utilização de objetos contaminados, ou pelo contato muito próximo e prolongado com o doente. Após isso, ela se dirige aos nervos, principalmente aqueles localizados na pele, onde começa a desenvolver a doença. As células de defesa identificam a bactéria, que se encontra dentro dos nervos e de outras células, e inicia uma reação para destruí-la. Porém, a reação contra a bactéria também atinge o nervo e isto pode comprometer o funcionamento dos nervos e de outras partes do corpo, causando principalmente perda de sensibilidade. Por isso, os pacientes com hanseníase geralmente apresentam manchas na pele, com diminuição local da sensibilidade à dor, ao toque, ao calor e ao frio, além de diminuição da força.
Alguns pacientes chegam a perder completamente a sensibilidade, ou seja, as áreas da pele ou nervo com a doença podem ficar anestésicas. Portanto, se você ou alguém que você conhece possui alguma lesão de pele com diminuição local de sensibilidade, é importante procurar um médico.
O tratamento da hanseníase é feito por meio da poliquimioterapia (PQT), uma associação de antibióticos com a função de combater a bactéria, por um período de um a seis meses, podendo ser prolongado, e é disponibilizado gratuitamente pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
De acordo com o Boletim Epidemiológico de Hanseníase do Ministério da Saúde, o Brasil apresentou 15.155 novos diagnósticos de hanseníase em 2021, índice abaixo do registrado em 2020, de 17.979, mas que confere ao país, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), o posto de 2º lugar em todo o mundo em número de casos. “Houve uma diminuição de aproximadamente 50% de detecção da doença, impulsionado pelos problemas gerados no acesso à saúde nos últimos dois anos. É preocupante, pois essa doença deve ser levada a sério”, afirma Milton Alves Junior.
Foto: Reprodução/Instagram
Dermatologista Deusita Fernandes Gandia Soares