No ano que passou, muitos sonhos foram interrompidos. Além das mais de 251 mil vidas lamentavelmente perdidas para a Covid-19, a pandemia teve um impacto brutal nos pequenos negócios, comprometendo a sobrevivência de milhões de famílias – a última pesquisa do Sebrae sobre o tema mostra que, no final de novembro, 73% das micro e pequenas empresas brasileiras estavam com faturamento abaixo do registrado em um mês normal, anterior à pandemia. Mesmo assim, eu quero pedir licença para falar com otimismo sobre o que 2021 nos reserva.
A experiência do Sebrae desde meados de março de 2020, quando as medidas de restrição ao funcionamento das atividades econômicas entraram em vigor, conta uma história de resiliência e de reinvenção por parte de incontáveis empreendedores brasileiros. Com a pandemia, tivemos de reorganizar nosso atendimento quase que da noite para o dia, afinal, não podíamos deixar de estar ao lado de nossos clientes – os donos e donas de pequenos negócios – no momento em que eles mais precisavam.
Era necessário mostrar a eles como promover uma rápida adaptação aos meios digitais, inovar na oferta de serviços e produtos, equilibrar as finanças, acessar crédito etc. A palavra-chave era “capacitação”. Para isso, investimos em atendimento 100% a distância, fizemos uma programação diária de lives e promovemos diversos eventos remotos. Como resultado, o Sebrae-SP totalizou mais de 2,3 milhões de atendimentos no ano – uma média de 9.402 por dia. Nossas consultorias a distância triplicaram e a busca por cursos de capacitação em EAD cresceu 156% no período.
Tudo isso mostra que o empreendedor brasileiro está ávido por aprender. Ele não quer cruzar os braços diante das dificuldades e dizer que não consegue fazer nada, longe disso.
Por outro lado, a pandemia também evidenciou muitas das nossas desigualdades estruturais. Atualmente, a taxa de desocupação está em níveis historicamente elevados, com mais de 14 milhões de brasileiros sem emprego. Ainda que se observe um aumento recorde na abertura de empresas no país, sabemos que boa parte delas se refere a Microempreendedores Individuais (MEIs) que encontraram na atuação por conta própria a alternativa mais à mão para sair da informalidade. A promessa de ser seu “próprio patrão”, porém, não está sendo capaz de resolver a demanda por geração de renda e oferta de trabalho justo.
Por isso, em 2021, o Sebrae vai estar ainda mais próximo da base da pirâmide, daqueles que sonham em estar à frente de um negócio próprio, mas que têm menos conhecimento. Vamos trabalhar para que a educação empreendedora esteja voltada para a inclusão produtiva, ou seja, a geração de renda de maneira decente para as populações mais vulneráveis, de maneira que elas possam finalmente superar a exclusão social crônica.
Tenho certeza de que, com grande parte da população imunizada contra a Covid-19 ao longo do ano e a economia voltando a uma certa normalidade, aqueles empreendedores mais capacitados vão sair na frente. Da parte do Sebrae, continuaremos empenhados em oferecer educação empreendedora e parcerias com a sociedade civil e o poder público para virar o jogo do desemprego e da exclusão. Acreditem, nós podemos fazer muita coisa.