Gustavo Von Ha aborda entendimento do que é a arte, no Spart Cultural

Workshop com o artista, que atualmente reside em São Paulo, será realizado às 20h e é aberto ao público

VARIEDADES - Oslaine Silva

Data 21/07/2016
Horário 09:32
 

Nesta quinta-feira, o Spart Cultural recebe um convidado especial, Gustavo Von Ha, prudentino que reside em São Paulo (SP), para ministrar um workshop. Em visita a sua cidade natal, o artista visual estará abordando sobre o entendimento do que é a arte. Segundo ele, ainda se tem uma ideia mais antiga de arte em pintura, quadros, esculturas, desenhos, etc. Entretanto, esta explodiu todos os parâmetros dessas tradições do que se entende. O evento aberto ao público será às 20h.

De acordo com Gustavo, o encontro será muito importante, pois nos dias de hoje, em que o mundo é inundado por narrativas e imagens, é uma questão para repensar qual o papel do artista e da arte. "Falarei também um pouco sobre o meu processo criativo ao longo dos últimos oito anos. E, junto com isso, irei dando essas referências e lançando algumas questões para pensarmos juntos. Porque estamos em um tempo que todo mundo tem voz pública, nas redes sociais, o Instagram, por exemplo, todos geram imagem, conteúdo... então é uma época bem estranha para ser artista", expõe.

Jornal O Imparcial Gustavo diz que sempre se pauta pela história da arte para entender onde estamos hoje

Segundo ele, o artista, hoje, tem um papel muito mais de editor do que de um grande criador. "Porque aquela ideia de gênio já foi. Temos que lidar com tudo o que já foi feito. Que é um excesso de imagem", pontua.

 

Reflexos e espelhamentos

Estes são assuntos recorrentes na produção de Gustavo Von Ha. Ele diz que sempre pensa que quando se coloca o espelho na frente de alguma coisa, a partir dali existe uma proposição de uma ficção. A partir dali tem uma história e um pensamento para ser desenvolvido. "É como no conto infantil, na experiência de Alice, lá em 1800 e pouco já se falava de coisas tão atuais, como a questão da própria imagem, a era de selfies. E, ao mesmo tempo, essa questão do espelhamento fala de duplos, de imagens que se duplicam, se multiplicam até o infinito. É nisso que penso, nessas apropriações que têm a ver com o mundo em que a gente vive", afirma.

Gustavo explica que uma imagem que é jogada na rede pode ser copiada e colada um milhão de vezes, e vai ter sempre a mesma qualidade. "Nunca se saberá quem é o pai, o dono dela. Qual é a original. Elas são todas originais. A partir do momento que é refeita, é original, mesmo sendo uma cópia", enfatiza o artista.

 

Aura potencializada

Ele menciona que existem alguns tipos de imagem na história da arte que vivem ressuscitando. "As pessoas insistem naquele arquétipo, como fazer uma pintura, uma imagem abstrata, por exemplo, que todo mundo tem isso no museu imaginário, a ideia comum do que é museu, arte, do que é ser artista. Então, a partir do momento que essas imagens voltam, que alguém refaz e repete esses procedimentos, ela volta como original, mesmo sendo um simulacro", complementa.

Enfático, o artista prudentino acentua que, na verdade, a aura da obra tem um deslocamento. Como a Monalisa, por exemplo, que já foi refeita por vários artistas um trilhão de vezes. "Existe uma coisa, quanto mais se repete uma obra, quanto mais copiada ela é, mais aura ela tem. Fica mais emantada, com mais potência. Ela vai alimentando. Porque o virtual é isso, é algo que se atualiza o tempo todo. Que vai se potencializando cada vez mais", frisa.

 

Referências

Gustavo conta que desde o início, quando começou com a arte, por volta dos 18, 19 anos, já tratava dessas questões, desse imaginário pop, repetições, objetos coloridos, etc. E, a partir de 2003, seu trabalho ganhou corpo, com uma pesquisa mais centrada quando começou a focar mais nas questões do duplo, do espelhamento, a coisa da realidade que se desdobra, que se duplica e abre uma fenda para um pensamento.

Ele diz que o artista sempre tem muitas referências. No seu caso, ele sempre se pauta pela história da arte para entender onde estamos hoje. Estuda desde o Renascimento, como Leonardo Da Vinci, por exemplo, a maneira como produzia as imagens com espelhos côncavos para fazer uma projeção da imagem, que era copiada.

Conforme ele, esta questão da cópia tem uma ligação direta com o aprendizado, com a educação, aprendemos a falar por imitação. Para tudo na vida, o ser humano é programado a se desenvolver através da mimeses, as pessoas imitam tudo, repetem letras para aprender a falar uma língua, desenhar. Ou seja, a vida é construída baseada na repetição.

"Do Renascimento para cá a arte foi ficando mais forte, com os ateliês, todos os discípulos que copiavam o mestre, em que a autoria também é uma coisa deslocada onde não se sabe se era um aprendiz, ou se era o Michelangelo ou Da Vinci que havia feito. Sempre olho essas referências muito importantes, na produção da imagens, na história da arte, na história da humanidade", afirma.

 

Influência contemporânea


Cindy Sherman, uma artista norte-americana, é uma das referências que Gustavo diz ser de muita importância em sua carreira. Segundo ele, a partir de 1978, ela fez uma série de filmes sttils que são imagens de filmes que não existiam, fazia um frame e imprimia. Conforme Gustavo, dava impressão que Cindy havia tirado de alguma ideia.

"É uma artista contemporânea qual olho seu trabalho repensando no que estou fazendo. Porque é difícil hoje você dar um passo além do que já foi feito. E arte é pensar em coisas que não existem no mundo e tentar identificar algumas coisas, porque falar em criação é uma expressão muito antiga, coisa que não faz mais sentido há uns 40 anos. Criatividade é nada mais que a capacidade de resolver problemas. A partir disso, não faz sentido a pessoa achar que vai ter outro Da Vinci, porque não vai", conclui.

 
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