O corpo de uma mulher, conforme explica a médica ginecologista Nilva Galli, toda vez que ocorre uma gravidez, independentemente da idade, precisa se adaptar. “Essas adaptações são muitas: de glândulas, como a tireoide; do coração; do rim; dos pulmões; tudo para que o organismo materno consiga desenvolver a gestação”, afirma. Se a gestante é uma criança, na qual esses sistemas ainda não estão totalmente maduros, ela ressalta, existe perigo, principalmente a respeito do sistema cardíaco, devido às alterações hemodinâmicas que ocorrem.
A declaração de Nilva faz referência ao caso da menina capixaba de 10 anos, que depois de anos sofrendo abuso sexual do próprio tio, engravidou e teve o aborto autorizado pela Justiça. Apesar disso, estende-se, tecnicamente, a todos os casos de gravidezes infantis (antes dos 14 anos).
O perigo que a ginecologista cita, além de sequelas, é o risco de morte. “Nossa legislação diz: pode-se fazer aborto em duas situações, caso de estupro e quando a gravidez põe em risco a vida da mulher, e neste caso, ela [menina de 10 anos] tem as duas questões”, completa.
NOSSA LEGISLAÇÃO DIZ: PODE-SE FAZER ABORTO EM DUAS SITUAÇÕES, CASO DE ESTUPRO E QUANDO A GRAVIDEZ PÕE EM RISCO A VIDA DA MULHER
Nilva Galli
Um episódio de uma gestação fora de hora, além dos impactos físicos, traz impactos psicológicos. Segundo a psicóloga Emmanuele Victória Bento, sobre o tema, alguns transtornos podem ser citados: “Estresse, depressão, ansiedade e até mesmo a baixa autoestima, que prejudica não só a questão psicóloga daquela menor, como a gestação, que precisa ser saudável para que o bebê também tenha um bom desenvolvimento psicológico, tendo em vista que tudo pode prejudicar o bebê nessa fase”, pontua.
“O que está acontecendo comigo? O que vai acontecer com o meu corpo? O que realmente vai ser daqui para frente? Eu quero isso, ou não quero?”. Essas são algumas perguntas elencadas pela psicóloga que costumam colaborar para um desequilíbrio psicológico destas crianças. “Para tais casos é preciso, sim, de um acompanhamento psicológico, porque aquela menor não faz ideia do que está acontecendo com ela, aquilo não está sendo muito bem elaborado, então, é em uma terapia, através do tratamento psicólogo, que ela vai estar livre para pôr tudo na balança. Independentemente do que for escolhido, ou tornar-se mãe precocemente ou optar, em caso de estupro, pelo aborto, é fundamental cuidar da mente”, destaca.
Emmanuele, sobre a questão da escolha, ressalta que a pressão causa grande abalo na criança. Pressão familiar, de religião, do julgamento da sociedade... Ela afirma que o acompanhamento psicológico vai deixar mais aberto esse leque de ideias, de pensamentos, de decisões, mas sem qualquer julgamento, sem nenhum preconceito e com cuidados para que a escolha não maltrate a menor, não a faça sentir-se culpada.
A respeito das consequências ginecológicas do estupro, Nilva diz, em tom de indignação, que “a criança, no caso de uma menina, tem uma vagina extremamente pequena e que não estaria pronta, de jeito nenhum, para uma introdução peniana”. “Ela pode sofrer lacerações de vagina. A menina de 10 anos pode ter sofrido e ficado calada esse tempo todo”, lamenta.
Foto: Cedida
Emmanuele enfatiza que é necessário tratamento psicológico para caso de gravidez infantil e estupro
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