A RA (Região Administrativa) de Presidente Prudente atingiu, em 2022, 89,5% de grau de urbanização, com 769.277 habitantes ocupando as cidades e 90.434 a zona rural. A informação é de uma análise da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), a qual mostra que o oeste paulista segue a tendência do território paulista, de uma população cada vez mais urbana, já que no Estado, entre 1980 e 2022, o grau de urbanização passou de 88,6% para 97%. O sociólogo prudentino Marcos Lupércio Ramos explica que o índice alcançado pela região está dentro dos parâmetros estabelecidos pelos indicadores do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no entanto, destaca que a intensificação neste processo gera diversos impactos socioeconômicos, como o aumento do desemprego.
“A tendência é que esse processo se estabilize nesse patamar, portanto, algo em torno de 90% da população morando em áreas urbanas. O crescimento urbano do Brasil está no seu auge e, praticamente, no seu limite. Foi um processo que durou mais de 80 anos, estando, inicialmente, ligado à industrialização do país, em conjunto com a modernização agrícola e avanço do setor de serviços. São processos que vão ocorrendo concomitantemente”, ressalta.
Conforme Marcos, vários impactos socioeconômicos no país se deram com a intensificação do processo de urbanização. Dentre eles, cita o próprio crescimento das cidades sem o devido planejamento, resultando em inúmeros problemas, como a favelização, questões viárias, falta de moradias, aumento no preço do aluguel residencial, destruição da natureza com ocupação de áreas que deveriam ser de proteção ambiental e margens de rios, entre outros.
“Enfim, há uma série de problemas não observados no início do processo e que hoje impactam a qualidade de vida de parte significativa da população urbana. Com a mudança climática, alguns desses problemas emergiram com força, como por exemplo, as enchentes e inundações, deslizamentos de encostas e outros”, destaca o sociólogo.
“Hoje, a geração de empregos é mais lenta, não conseguindo as cidades gerar empregos em números suficientes para absorver suas populações em idade de trabalho. A consequência disso é o crescimento da população subempregada ou sem emprego. Esse processo contribui para o aumento da violência urbana”, revela.
Segundo o sociólogo, outro aspecto da urbanização sem planejamento e equidade é a marginalização de parte da população. “Os bairros mais populares acabam sendo mais distantes dos centros urbanos, o que demanda um transporte público mais eficiente e rápido, que a maioria das cidades não tem. Com o aumento da violência urbana, segmentos da sociedade se encastelaram em condomínios fechados, a exemplo de Presidente Prudente. Intensificação, portanto, da marginalização ou gentrificação de parte da população urbana”, complementa.
Marcos afirma que a urbanização é um processo “que veio pra ficar”. “Acredito que, com a diminuição do crescimento populacional e, se continuar o crescimento econômico, em um futuro próximo, alguns problemas urbanos possam ser solucionados ou minimizados, como a questão do processo de favelização e ocupação de áreas de risco”, elenca.
“Problemas como o transporte coletivo também, principalmente, com o uso de ferrovias urbanas, o metrô. Talvez, com transporte coletivo mais eficiente, problemas relacionados ao trânsito também serão minimizados. Mas, a questão do emprego e da violência tende a aumentar ainda. No caso, o desemprego aumentará. Isso demandará políticas de governo constantes para equacionar essas questões”, encerra o sociólogo.
SAIBA MAIS
A urbanização do Brasil
O processo de crescimento da população urbana no Brasil está relacionado à intensificação da industrialização a partir de 1940, relata o sociólogo prudentino Marcos Lupércio Ramos. Até então, a maior parte da população, em torno de 60%, vivia no campo. A partir de então, as cidades, puxadas pelos empregos gerados na indústria foram, gradativamente, intensificando o crescimento urbano e provocando o chamado êxodo rural, a migração do campo para as cidades.
“Tal processo é intensificado com a mecanização agrícola também crescente no país, como consequência da fase de industrialização. Ambos estão interligados. Esses dois fatores, industrialização e mecanização do campo, resultam em maior crescimento urbano, ou seja, as cidades, literalmente, incham com o maior número de pessoas”, informa.
O sociólogo revela que, com o tempo, as grandes cidades foram se especializando em outras áreas da economia, em especial, no setor de serviços, como a educação, a saúde, comércio, lazer, bancos, entre outros. “Esse avanço para o setor de serviços torna as cidades cada vez mais atrativas e promotoras de geração de empregos, isto é, elas vão continuar crescendo e atraindo pessoas ao longo dos anos. Essa dinâmica levou às cidades maior contingente populacional e, já nos anos de 1960, a maioria das pessoas já morava em cidades”, cita.
“Para isso, o processo de modernização da agricultura continuou e continua. As máquinas agrícolas avançaram até para áreas tradicionais no uso intensivo de mão de obra, como a agricultura do café. Mais máquinas no campo, mais pessoas migrando para as cidades, e estas passando por intensos processos de urbanização, muitas vezes, sem o devido planejamento. Daí o surgimento de problemas, tipicamente urbanos, como a favelização”, finaliza Marcos.
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Sociólogo: “Questão do desemprego e da violência tende a aumentar num futuro próximo”