A administração de um governo passa por cinco fases: a do lançamento, quando o governante toma posse e apresenta seus quadros; a do crescimento, quando os governos formam e ajustam suas estruturas, começam a apresentar programas e ações; a de consolidação da imagem, quando os níveis de confiança ganham um patamar de respeito e credibilidade; a do clímax, quando os governos sobem ao cume da louvação; por último, a fase do declínio, que mostra administrações sem rumo, desestruturadas, vivendo crises e descendo pelo precipício. O ideal é que um candidato ou governante – em caso de reeleição – viva seu clímax às vésperas do pleito a se realizar, jamais antecipando o momento de declínio.
Desse traçado, advém a questão: em que estágio se encontra o governo Bolsonaro, com um ano e seis meses de vida? Deixemos que o leitor, ao final, encontre a resposta. De antemão, uma observação pertinente na ciência e na arte da política: um protagonista, a depender de habilidades e circunstâncias, pode recuperar seu vetor de peso. Dito isto, vamos às considerações.
O governo Bolsonaro está na corda bamba: enfrenta uma das maiores crises sanitárias da história do país, com o Brasil ingressando no pódio do maior número de mortos em 24 horas; na economia, a projeção para a queda do PIB (Produto Interno Bruto) este ano é de 9,7%; a crise política é aguda, tanto pelas dificuldades na formação de uma base parlamentar de apoio quanto nas tensões geradas pelo estilo intempestivo do presidente; na frente administrativa, a instabilidade se expande com a troca de ministros e tensões geradas pelo palavreado obtuso de figuras desastradas como Abraham Weintraub.
Esse quadro é ainda agravado pela agenda negativa que se desenvolve no STF (Supremo Tribunal Federal). Na esfera policial, a prisão de Fabrício Queiroz aproxima a fogueira da família Bolsonaro. Na paisagem da saúde, o caos está à vista. O ministro interino, Eduardo Pazuello, parece sem rumo. O Ministério da Economia acaba de perder um quadro de alta referência, Mansueto Almeida, que se mostra esgotado. Os graves efeitos nessas duas linhas de ação do governo não sinalizam melhorias no curto prazo, sendo bem provável que os danos se estendam por 2021.
Voltemos à pergunta inicial: em que estágio se encontra o governo? Terá condições de resgatar seus vetores de peso nas esferas da pandemia, da economia e da política? Nos EUA, um dos fatores que derrubam Trump é a má condução no combate à pandemia. Teremos até outubro de 2022 muita água a rolar por baixo dos palácios e das cúpulas côncava e convexa do Congresso. A índole de Jair Bolsonaro é um fator de conforto ou de desconforto?