Giovanni, Irina, Janaína e Arturo

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 12/03/2025
Horário 06:00

Giovanni olhava para a filha do casal de ingleses e ela tinha em mãos a última versão do Iphone! 

“Pode ser que nesta temporada eu ainda consiga tirar um pra mim. depois de mandar uma grana para meus pais na Itália”. Giovanni sempre foi de família rica. Perderam tudo em um golpe dado pelo tio, irmão do pai. “Um dia ele devolve tudo, nem que seja por minhas mãos.”

Irina estava incomodada com o sol do Atlântico Sul em pleno verão. “Que calor é esse? Saudade de Moscou. Saudade dos meus irmãos. Poderia até dizer onde estou, mas deixe que eles sintam mais minha falta.” 

A mesma falta que Irina faz para a filha, que foi deixada por ela junto a uma tia de consideração. “Espero que ela me perdoe um dia. Vou juntar dinheiro para viver com ela.”

Janaína não está longe da família. Seus dois irmãos e a mãe estão por perto, na mesma seção do navio que ela, aliás. 

Mas Janaina sonha com o dia em que vão fazer para ela o que ela mesmo faz. Vai chegar em um quarto limpinho e se estirar na cama como merece. 

Como ela merece “e não estas dondocas de cara puxada que vêm aqui e nem olham na nossa cara”.

Arturo. Arturito! Era para ser chamado assim pelos campos do mundo. O craque paraguaio Arturito hoje só chuta bolas nas folgas que consegue e olhe lá. O joelho dói muito depois da cirurgia. “Quem me operou foi um carniceiro, um açougueiro mesmo. Se eu já tivesse um clube na época seria bem diferente”, conta para Nylaia, um indonésio que carrega mantimentos com ele no porão de cargas. 

E eu, Roberto Mancuzo, coleciono histórias aonde vou. Não aquelas que estão nas redes sociais cheias de filtro, mas aquelas do mundo real. E é tanta vida que existe por aí que eu passaria a vida toda me dedicando a ouvir cada uma delas.

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