«Num solitário vale, fresco e verde,
Onde com veia doce e vagarosa
O Vez, no Lima entrando, o nome perde,
Numa tarde rosada, graciosa,
Quando no mar seus raios resfriava
O sol deixando a terra saudosa,
Ouvi a voz triste que soava
Tão brandamente ali, que parecia
Um rio que com outro murmurava.(…)»
Limiano, Diogo Bernardes
Deste pacato vale, de beleza idílica e campestre, a que se deu o nome de Vale do Lima, surgiram quatro gigantes históricos; tão grandiosos e magnificentes que deixaram marcas da sua passagem por vários pedaços do mundo. Da religião às artes, passando pela navegação e pela exploração, de tão ínfima e humilde região, ergueram homens que mudaram o planeta, ou pelo menos, a conceção que dele se fazia.
João Álvares Fagundes (1460-1522), o primeiro dessa estirpe de titãs, foi um navegador e armador de navios, responsável pelo reconhecimento de grande parte da costa do nordeste americano, onde hoje se situam as províncias canadenses de Nova Escócia e de Terra Nova. Capitão das Ilhas Fagundas, Cavaleiro da Casa de D. Manuel I, organizou inúmeras viagens e explorou várias ilhas do Atlântico Norte, bem acima da Gronelândia.
Fernão de Magalhães (1480-1521), quiçá o mais conhecido de todos, fez várias viagens às Ilhas Ocidentais, participando de expedições militares e milhentas jornadas marítimas; foi o primeiro europeu a ter visto um pinguim, a primeira pessoa a alcançar a Terra do Fogo, no extremo sul do continente americano. No entanto, no seu corolário, conta o feito mais notável: o de ter planeado e comandando a primeira viagem de circum-navegação ao globo terrestre, provando a esfericidade da Terra.
Seguindo a linha cronológica, é tempo de conhecermos o Beato Francisco Pacheco (1566-1626), quem deixou as terras limianas, aventurando-se para o Oriente. Por largos anos, fora sacerdote na Índia, ao que se seguiu um período de trabalho como reitor em Macau. Foi um dos primeiros missionários jesuítas no Japão, tendo-se tornado um mártir nesse país, fruto da perseguição religiosa.
O quarto colosso, Manuel António Gomes, mais conhecido pelo nome de Padre "Himalaya" (1868-1933) foi um, cientista e inventor, um dos grandes precursores das energias renováveis, tendo realizado vários estudos nesse sentido; inventor do pireliófero, um mecanismo composto por espelhos, que refletiam a luz, convergindo-a num único ponto conseguindo assim fundir metais; e do himalaíte, um explosivo fabricado com recurso a componentes vegetais e minerais. Este sacerdote também foi vegetariano e defensor da cura pela natureza, nomeadamente através da água e das plantas.
Neste pequeno vale do norte de Portugal, reconhecem-se os gigantes, os quais são enaltecidos, nas ruas, museus e praças, mas, principalmente, na memória coletiva.