O futebol brasileiro está devagar. Estou me referindo ao futebol que se pratica aqui no país em nossos campeonatos estaduais e mesmo no campeonato brasileiro. Não incluo o futebol da seleção brasileira nesse compasso de disco de 78 rotações em comparação daquilo que estamos vendo quase que diariamente nos jogos dos diversos campeonatos europeus, notadamente o inglês e o espanhol onde se joga num ritmo alucinante. Curiosamente a primeira vez que me disseram que o futebol brasileiro estava lento a declaração veio da boca do goleiro soviético Lev Yashin. Estávamos na Copa de 1974 na Alemanha e encontrei casualmente o lendário Aranha Negra caminhando em Frankfurt. Já o conhecia do célebre jogo entre Inglaterra contra uma seleção mundial, da qual ele foi o goleiro, em jogo que em 1963 marcou o centenário do soccer em Londres. Yashin era antes de tudo um cavalheiro, educadíssimo e embora com as dificuldades de idioma pudemos trocar idéias naquele 1974. Yashin era fã de carteirinha do nosso futebol e fazia questão de perguntar por Gilmar, que considerava o melhor de todos na posição em que jogaram. Naquela Copa, e isso aconteceu exatamente antes do nosso jogo contra a Holanda o grande goleiro demonstrou admiração por considerar que o Brasil demorava demais na transposição da bola da defesa para o ataque. Mas, elogiou a forma acadêmica de atuar da seleção na Copa anterior, a de 1970. Recordo essa conversa por considerar que em efetivo estamos realmente dançando valsa quando o mundo corre em velocidade extrema atrás da bola nos campeonatos europeus. Causa estranheza assistirmos as atuações de nossas equipes no território nacional ao compararmos com aquilo que a tevê está mostrando. A observação de Yashin poderia ser considerada como um momento na vida de nosso futebol, mas como ele enfatizou que essa era uma tendência que estava dominando nossa forma de jogar como um todo embora tendo de retornar ao passado tenho que aceitar que estava certo. A seleção que vai à Rússia e é treinada por Tite joga no ritmo europeu e é formada por jogadores que atuam lá fora. Essa é a grande diferença do ritmo em que se movimenta em relação aos nossos clubes. É possível que tudo se deva a uma preparação física diferente, mas se você cotejar um jogo do futebol inglês, mesmo entre equipes do segundo escalão de lá com o que estamos vendo por aqui vai concordar comigo. Continuamos a produzir craques. É verdade que em números bem menores que no passado. Mas, em matéria de ritmo precisamos acertar o passo. Estamos fora do compasso.