Um dos maiores repórteres que o Brasil já teve foi o sergipano Joel Silveira, que assinou trabalhos dignos dos maiores prêmios internacionais. Conta a história do jornalismo que seu patrão Assis Chateaubriand o escalou para cobrir a II Guerra Mundial e lhe disse na despedida apenas estas palavras: “Faça seu trabalho e não morra, seu Joel”. O sergipano enviou da região da Itália onde o Brasil combateu um total de 300 reportagens. Fico imaginando a diferença da despedida do patrão para com seu repórter comparando a saída das equipes esportivas que foram trabalhar na última quarta-feira no cotejo entre Flamengo x Independiente da Argentina, na decisão da Copa Sulamericana, no Maracanã. Será que algum chefe de redação recomendou aos seus profissionais que tivessem o cuidado de não morrer durante o trabalho que iriam executar? Por que as imagens que se espalharam pelo mundo do acontecido nessa noite no Rio de Janeiro foi uma sequência daquilo que tem se transformado o noticiário internacional dos últimos tempos. O futebol tem histórias e estórias. A narrativa de como o jogo da bola veio caminhando pelos séculos está manchada com cores berrantes de muito sangue humano derramado. Contam-se passagens de arrepiar dos tempos em que se fazia do crânio humano de um dos vencidos a bola do jogo que se disputaria depois do combate. Do futebol jogado por lanceiros em praças de Roma. Dos jogos de cidades contra cidades onde na passagem os mortos iam ficando pelo caminho. Na quarta-feira os comentaristas destacados para a cobertura da final no Maracanã tentavam falar do jogo e não conseguiam. A batalha que uma população desprovida de razão e sentimentos promovia tomava conta do que se podia mostrar. Um horror o que se viveu no Rio de Janeiro. Multidão desenfreada e sem controle buscando não se sabe o que, pois quem vai a um jogo de futebol a primeira providência que toma é habilitar-se para ocupar um lugar entre os assistentes. Ou seja, conseguir o ingresso que dê acesso aos assentos. O que se viu no Rio de Janeiro foi a mesma monstruosidade que a televisão está exibindo todos os dias. Genocídios, terrorismo, agressões, selvageria, tudo isso a tevê mostrou como moldura a um jogo de futebol. Infelizmente não foi um espetáculo a parte. A loucura que tomou conta das cercanias do Maracanã foi a repetição daquilo em que se transformou o cotidiano do noticiário. Foi o Rio de Janeiro dos combates entre traficantes e polícia transferido para um jogo de futebol. E que a tevê mostrou como rotina do dia-a-dia de uma grande cidade brasileira.