Máquinas paradas, funcionários de braços cruzados e um olhar de inconformismo. Quem passou pelas margens do Curtume Vitapelli, em Presidente Prudente, durante o dia de ontem, se deparou com esse cenário. A falta de pagamento da segunda parcela do 13º salário, prevista para ser entregue até quarta-feira, além do atraso para repasse da cesta básica mensal, fez com que cerca de 70 funcionários iniciassem uma paralisação no local. Sem data para que o acerto de contas seja feito, não há previsão para que os equipamentos voltem a operar.
Entra, passa o ponto para o controle de horário e volta para o pátio principal, próximo à portaria da empresa. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores Coureiros, essa é a rotina que foi iniciada ontem pelos colaboradores. O presidente da entidade que defende os funcionários, Vicente Lopes da Silva, conta à reportagem que na manhã de ontem foi até o local para verificar a situação, mas não pode acessar a parte interna. “Fiquei lá até às 10h, desde quando eles entraram, tentando negociar a situação, porém, a empresa não se posicionou”, completa.
Vicente também diz que em conversa com alguns colaboradores, o cenário foi exposto a ele, ocasionado pelo não recebimento dos direitos. “Falei com funcionários e eles ficaram até o horário de almoço sem trabalhar. Como não foi colocado nenhum posicionamento até esse período, na parte da tarde eles voltaram à empresa, mas novamente não executaram o serviço”, explica. Ainda de acordo com ele, se até hoje a situação não for resolvida, a promessa dos trabalhadores é continuar com a paralisação.
Dentro desse grupo está Sílvio Silva de Freitas, que é operador de fulão pleno na empresa. A expressão utilizada por ele é: “a ver navios”, diante da situação. Para ele, que ficou sem trabalhar, a “falta de informação” entre a Vitapelli e os funcionários não ajuda. “É fim de ano, não tem dinheiro na conta e o trabalhador vai passar o Natal sem dinheiro no bolso”, lamenta.
Falta de repasse
Em contato com a empresa, o advogado representante, Alfredo Vasques da Graça Júnior, confirma que realmente houve paralisação “de um pequeno grupo”, ocasionado pela falta dos pagamentos. Contudo, ele justifica que a situação deve ser resolvida nos próximos dias, e foi ocasionada pela falta de um repasse da União e do Estado. “São créditos, por direito, referentes à devolução de impostos, que faz parte do capital de giro e estava prevista para entrar no início do mês, conforme a lei”, explica.
Até o fechamento desta matéria, a reportagem entrou em contato com a Receita Federal, que responde pela União, e com a Sefaz (Secretaria da Fazenda do Estado de Paulo), após às 18h - horário em que conseguiu respostas com a empresa - para saber sobre os repasses. No entanto, não houve recebimento dos posicionamentos, até por conta do horário em que foram notificados, em meio ao tempo hábil necessário para apuração.
Histórico de atraso
Apesar de a paralisação afetar apenas trabalhadores da Vitapelli, como já noticiado por este diário, 212 colaboradores da Vitapet, que foram desligados no fim de julho, recorreram ao sindicato para pleitear o benefício da cesta básica, referente ao mesmo mês em que foram dispensados. Na época, caso o direito não fosse concedido, a intenção da entidade era ajuizar uma ação civil pública.