Um dos principais focos do Forpedi (Fórum Regional Permanente de Educação da Infância), parceiro do núcleo do Geduc (Grupo de Atuação Especial de Educação) de Presidente Prudente na campanha Primeira infância como prioridade, é mostrar a necessidade de alterar a concepção do que é ser criança hoje, sobretudo na faixa etária de 0 a 3 anos. De acordo com a coordenadora do fórum, Cinthia Magda Fernandes Ariosi, os pequenos também pensam e vivenciam o mundo, logo, precisam ser acompanhados por adultos que observem e possibilitem a eles novas aprendizagens e experiências significativas.
Nesse sentido, o passo inicial é que os cuidadores percebam que a criança pequena tem ações próprias, é capaz de exercê-las sozinha e manifesta suas necessidades, desejos e interesses, cabendo aos responsáveis fazer a leitura dessas expressões para que, a partir disso, pensem em ações pedagógicas que as contemplem.
Cinthia aponta que a primeira necessidade do bebê é a motora, sendo assim, é preciso que o adulto organize o espaço e o ambiente de forma adequada para que o desenvolvimento desta capacidade ocorra. “Uma criança que fica em colchão ou berço por longos períodos tem um desenvolvimento motor menor do que aquela que vai para o chão e é estimulada a ser autossuficiente. Ou seja, ao invés de dar o brinquedo em suas mãos, o adulto a incentiva a buscá-lo”, expõe. A diretora explica que esta não é uma realidade restrita ao espaço educacional e deve se estender ao doméstico. O que tem ocorrido, no entanto, é que muitas famílias não conhecem a importância deste trabalho, porque não são profissionais da área. “A campanha em parceria com o Geduc quer ir ao encontro dessa carência, já que uma criança que não se desenvolve do ponto de vista motor pode ter problemas de aprendizagem, leitura e escrita”, afirma.
“Uma criança que fica em colchão ou berço por longos períodos tem um desenvolvimento motor menor do que aquela que vai para o chão e é estimulada a ser autossuficiente”
Cinthia Magda Fernandes Ariosi,
coordenadora do Forpedi
Sobrecarga de informações
A representante argumenta que a inexistência de vagas em creche não é o ponto crucial desta questão, posto que uma criança pode fazer parte de uma unidade de ensino, mas não ter suas potencialidades exploradas. Para Cinthia, as pesquisas em neurociência passaram por grandes avanços com o decorrer do tempo, o que permitiu que profissionais da área da educação tivessem um conhecimento muito maior a respeito do cérebro e da capacidade humana. “É preciso que nos apropriemos disso para que a escola possa ser de mais qualidade e atender a criança de forma mais significativa”, avalia.
Em sua opinião, uma das saídas para que a conscientização se concretize é transformar as creches em centros difusores de conhecimento para as famílias, que devem compreender a importância de fomentar o desenvolvimento neurológico e respeitar o tempo dos pequenos. Para ela, a educação infantil exige muito das crianças em uma fase na qual não deveria haver a sobrecarga de informações e estímulos – o que pode justificar os altos índices de hiperatividade e dislexia. “Defendemos que cada etapa da vida seja vivida em sua plenitude”, pondera. Isso requer que, de 0 a 1 ano, seja desenvolvido o movimento motor; de 1 a 2 anos, a linguagem; e assim por diante. “Não é necessário incluir letra e número em um momento que não é para isso”, pontua.