Folha de papel em branco

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 12/01/2025
Horário 05:00

Tenho em cima da mesa uma folha de papel em branco. É assim que aprendi a começar o planejamento das aulas que se aproximam. Ela é um convite para a imaginação sem os limites impostos por modelos preexistentes. Teremos de trabalhar com a diversidade de experiências de leitura e escrita de diferentes tipos de textos, como os poemas, as crônicas e os ensaios. O tempo e o espaço na narrativa dos viajantes. O real e o imaginário em contos e obras romanescas. Interdisciplinaridade, transversalidade e ação pedagógica do professor no uso de textos literários no aprendizado da disciplina. Não. Não se trata de uma oficina de redação científica ou da manifestação daqueles que supostamente possuem um dom inato, que sabem ouvir as palavras sopradas por forças sobrenaturais.
Devemos trabalhar juntos. Da folha em branco deverão sair os primeiros rabiscos. O que é escrever? O que é um autor? Carlos Drummond de Andrade diria: “escrever é cortar palavras”. Escrever é escolher o que deixar de fora. Tarefa nada fácil numa época marcada por excesso de textos. Estamos soterrados de discursos! Textos e imagens estão por todos os cantos e podem ser rapidamente deslocados para qualquer lugar. Essa movimentação toda faz muito barulho. Não é por acaso que as pessoas não sabem mais ficar em silêncio. Ouvir o que diz o silêncio. Degustar as palavras, digeri-las. Permitir-se num estado subjetivo. Você está com vontade de rir? Quer chorar? Está apaixonado ou preocupado com alguma coisa? Existe o acaso também. As redes sociais bombando com notícias fresquinhas. A carne quase pronta na panela de pressão. O cachorro do vizinho que não cansa de latir. Pelas frestas deixadas no meio de tudo isso, tenho certeza que vamos escrever juntos a nossa história! 
Volto para a folha de papel em branco que continua em cima da mesa. Não sei fazer de outra forma. Somente quando nos encontrarmos em sala de aula é que vamos começar a definir o que é que será escrito ali. Escrever e reescrever. Buscar a porosidade das palavras. Organização do seu próprio léxico. Eu formei outro dia uma nuvem das principais palavras das minhas mais de duzentas crônicas. Gostei de colecionar as minhas palavras preferidas: rio, mar, vento, música, dança, teatro, escola, cidade, experiência, livros, encontros, sonhos, professores, juventude, universidade, movimento. E qual é a sua coleção de palavras? Como você cuida dela no seu dia a dia? Podemos também pensar não apenas as palavras que amamos. Quais são as palavras que nunca são ditas? Vixi, como é bom o espanto... Vamos nos encontrar daqui alguns dias. 

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