Flávio Cezário deixa legado na educação, cultura e política de Prudente

Professor atuou como vereador durante 14 anos, se aposentou na Escola Monsenhor Sarrion e foi cronista de O Imparcial

REGIÃO - ANDRÉ ESTEVES

Data 05/09/2024
Horário 17:38
Foto: Redes sociais
Flávio Alberto Cezário morreu em decorrência de um câncer
Flávio Alberto Cezário morreu em decorrência de um câncer

Morreu nesta quinta-feira, em Presidente Prudente, aos 83 anos, o professor e ex-vereador Flávio Alberto Cezário. De acordo com o irmão Sérgio, ele estava internado no Hospital e Maternidade Nossa Senhora das Graças em decorrência de um câncer.

A O Imparcial, Sérgio conta que Flávio deixa como legado a sua honradez na vida pessoal e profissional e também na vida pública. Segundo ele, o irmão lecionou durante mais de trinta anos na rede estadual de Educação, tendo se aposentado na Escola Estadual Monsenhor Sarrion. Em relação à carreira política, permaneceu ao longo de 14 anos no Legislativo prudentino, iniciando o primeiro mandato em 1983 e deixando a cadeira em 1996.

"Falar do meu mano Flávio é uma redundância. Tenho certeza de que o Todo Poderoso está o acolhendo de braços abertos. Ele fará muita falta. Eu o considero meu segundo papai. Tudo o que fui e tudo o que sou devo a ele", afirmou.

Nessa semana, Flávio havia completado 83 anos. Em uma postagem feita nas redes sociais, Sérgio escreveu que houve tempo para celebrar. "Deus, na sua bondade infinita, deixou-nos comemorarmos no leito hospitalar. Como se não bastasse, assoprou as velinhas. Meu irmão Flávio, descanse em paz, guerreiro e valente homem", publicou.

Durante anos, o professor foi um assíduo colaborador do jornal O Imparcial, tendo assinado uma coluna aos domingos e outra sobre ecologia.

Flávio foi casado com Dorothy Lourdes de Souza e teve um filho único, o advogado Marcelo Flávio Cezário. O corpo será velado na Casa de Velório Athia e sepultado nesta sexta-feira, às 13h40, no Cemitério Municipal São João Batista.

Mestre por excelência

Em março de 2020, o jornalista Homéro Ferreira escreveu para O Imparcial uma reportagem especial em que narrava a trajetória de Flávio Cezário. Leia abaixo na íntegra:

Como educador, é formador de várias gerações. No jornalismo, marcou época como locutor e apresentador de jornais falados. Na música, cantou com renomados cantores brasileiros, fez cover do rei do rock Elvis Presley e foi crooner da Leopoldo e sua Orquestra, de Tupã (SP). Na área do meio ambiente, foi dirigente de associação e produziu crônicas sobre a temática, publicadas por este jornal e com ampla repercussão. Na política, se elegeu vereador três vezes, sempre entre os mais votados. Na produção literária, recebeu prêmio da ABL (Academia Brasileira de Letras).

A reportagem especial deste domingo (08 de março de 2020) apresenta fragmentos das vidas pessoal e profissional do querido e admirado professor Flávio Alberto Cezário, merecedor desses e de outros adjetivos, pelo menos por duas razões: intelectual e gentleman. Homem culto, educado e de conduta irrepreensível, ao ponto de ter exercitado a vereança por 14 anos seguidos e deixado a vida pública sem nenhum arranhão. Paulista do interior, nasceu em Avaré, em 3 de setembro de 1941, a terra de sua mãe Argentina Mascoli Cezário. Filho do ferroviário Luíz Cezário, de Rubião Junior, distrito de Botucatu (SP).

Os dois irmãos do primogênito Flávio nasceram em São Paulo e Bernardino de Campos (SP), respectivamente, Luiz Carlos Cesário (1947) e Sérgio Roberto Cesário (1950), ambos com os sobrenomes grafados com “s”. O irmão do meio é médico em São Paulo. O caçula é professor de educação física e técnico desportivo aposentado, com atuações junto às secretarias estaduais da Educação e de Esporte. Os avós paternos eram de Rubião Junior. Os maternos vieram da Itália e se fixaram em Avaré, sendo o avô da Calábria e a avó de Veneza.

Luiz Cezário é nome de avenida em Presidente Prudente, na qual estão as sedes da Polícia Federal e do 14º Grupamento de Bombeiros. Foi em Bernardino de Campos que Flávio viveu sua infância no bairro dos ferroviários, onde jogava bola na rua e soltava pipa. Nas brincadeiras lúdicas, foi uma criança como outra qualquer, mas nos estudos era diferente, como aluno aplicado. Daqueles tempos vem uma amizade que dura até hoje: a do escritor, jornalista, dramaturgo e autor de telenovelas Walcyr Carrasco.

Na condição de chefe de estação, cargo de prestígio e bem remunerado, Luiz Cezário foi transferido para Santo Anastácio, então cognominada de capital nacional da mamona e do hortelã. Foi lá que Flávio fez o ginasial, na Escola Estadual Professora Alice Sanchez Postigo. O clássico foi em Prudente, no então IE (Instituto de Educação Fernando Costa), para onde viajava no trem dos estudantes, que seu pai conseguiu junto à diretoria da ESF (Estrada da Ferro Sorocabana) e que saía às 17h30 e voltava às 23h.

Ainda em Anastácio, Flávio trabalhou nas Indústrias JB Duarte, beneficiadora de produtos agrícolas. No começo dos anos 1960, a família mudou-se para Prudente. Sua primeira formação superior foi em Direito na segunda turma da então ITE (Instituição Toledo de Ensino), atual Toledo Prudente Centro Universitário. Foi lá que conheceu Dorothy Lourdes de Souza, com quem se casou no inverno de 1965, num dia de frio rigoroso. Têm um filho único, o advogado Marcelo, casado com Selma e pai do Pedro.

Flávio cursou inglês presencial no Centro Cultural Brasil/Estados Unidos. À distância, por correspondência, fez italiano e espanhol. A outra formação foi em Letras, no Paraná. Estudou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Jacarezinho (PR). É mestre em linguística e sua carreira docente foi nas escolas estaduais Professora Ernestina Natividade Antunes, em Indiana, e mais conhecida como Mena; e Monsenhor Sarrion, em Prudente.

Dois anos antes de se casar, Flávio trabalhou como locutor comercial na Rádio Comercial. Depois foi ser locutor noticiarista na ZYR-84, como era chamada a Rádio Prudente, então dirigida por Hélio Ciryno e sob o comando jornalístico de Adelmo dos Santos Reis Vanalli e Geraldo Soller. Fez duplas de apresentações com outros notáveis locutores noticiaristas: Rafael Delala, Nilton Alves e Arlindo de Oliveira. Consta que, no jornal falado do meio-dia, de cada dez rádios na cidade, oito estavam ligados na 84.

Outro emprego em rádio foi na PRI-5 “A voz do Sertão”, a difusora que tinha no jornalismo Alceu Arias, Carlos Paiva e Pedro Pelozzi; no esporte, José Guerreiro, José de Alencar e Antônio de Figueiredo Feitosa. Luiz Carlos, irmão de Flávio, trabalhou como sonoplasta, ofício que aprendeu com Palmiro Paulo e Olívio Pedrini. Como jornalista, Flávio produziu o jornal O Advogado e foi cronista de O Imparcial, onde até recentemente escrevia crônicas poéticas do meio ambiente.

Ainda na área ambiental, foi presidente da Associação Ecológica Regional de Presidente Prudente. Embora tenha vasta produção literária, as suas obras poéticas, que não se restringem à temática do meio ambiente, ainda não foram editadas em livros. Flávio detém o prêmio de vencedor do concurso nacional de monografia sobre o escritor libanês Khalil Gibran, concorrendo com grandes nomes do jornalismo e da produção científica no Brasil.

Inscrito pelo então jornal Correio da Sorocabana, Flávio teria como prêmio da ABL uma viagem ao Líbano, com direito a acompanhante. Mas aquele país estava em guerra civil. Então, optou por duas semanas no Rio de Janeiro, com hospedagem no Copacabana Palace Hotel. Ganhou ainda coleção completa das obras de Gibran e outros prêmios entregues pelo presidente da ABL, jornalista, professor e cronista Astregésilo Athayde. Em termos de viagens, Flávio conhece grande parte do Brasil e da Europa.

Na música, além de tocar gaita e violão de cinco cordas, se destacou como cantor, especialmente nas casas noturnas de Prudente, dividindo palco com artistas renomados, tais como Altemar Dutra, Francisco Egydio e Roberto Luna. Foi crooner de Leopoldo e sua Orquestra, uma das mais importantes do interior brasileiro. Flávio foi cover de Elvis Presley, com o qual tinha dupla semelhança: física e na voz. Seu gosto musical é muito refinado e contempla os maiores nomes das músicas clássica e instrumental.

Sua incursão na política rendeu três mandatos de vereador, de 1983 a 1996. Sempre entre os mais votados e duas vezes em segundo lugar. Teve destacada atuação, inclusive ocupando cargos na mesa diretora. Entre muitas realizações, saiu em defesa das pessoas que compraram linhas telefônicas da Telesp (Telecomunicações de São Paulo) e não receberam no tempo prometido. É autor da proposta da criação do metrô de superfície em Prudente, utilizando o trecho urbano da estrada de ferro.

A história do professor Flávio Alberto Cezário é para ser escrita em livro, possivelmente com mais de uma centena de páginas. Nesta reportagem de O Imparcial, foram sistematizados alguns fragmentos de fatos coletados de algumas fontes que não ele e em grande parte junto a Sérgio Roberto Cesário, como surpresa e homenagem ao ilustre personagem.

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