Flávio Araújo: lenda e orgulho

O narrador esportivo de renome nacional é natural de Prudente e na sua trajetória estão as coberturas de fatos históricos, como o mundial de Eder Jofre o milésimo gol de Pelé

PRUDENTE - HOMERO FERREIRA

Data 17/05/2020
Horário 09:31
Carlos Cólon/Cedida - Flávio Araújo: maior narrador de Prudente, um dos melhores do Brasil e do mundo
Carlos Cólon/Cedida - Flávio Araújo: maior narrador de Prudente, um dos melhores do Brasil e do mundo

Tecnicamente perfeito, Flávio Araújo não precisou de qualquer outro artifício para fazer parte da mais famosa equipe da Rádio Bandeirantes em todos os tempos, líder absoluta por mais de duas décadas em transmissões esportivas da famosa Cadeia Verde e Amarela, formada por emissoras de norte a sul, de leste a oeste do Brasil. Preciso, em cima do lance, excelente vocabulário e uma voz inconfundível e linda. Para orgulho de Presidente Prudente: um prudentino. O maior de todos os narradores entre os nascidos nesta cidade e, indiscutivelmente, um dos melhores do país e quiçá do mundo.

O autor desta reportagem, feita em reverência a Flávio Araújo, teve o prazer em ser seu ouvinte nos áureos tempos da super Bandeirantes e de conhecê-lo pessoalmente na redação de O Imparcial, como amigo da casa e de seus diretores nos idos dos anos 1980: Adelmo Vanalli, Mário Peretti e Deodato da Silva. Eloquente e de um raciocínio lógico admirável, com quem a gente aprendia só de observar. Ainda agora, ouvi a entrevista que Flávio Araújo concedeu recentemente a Milton Neves, falando direto de seu apartamento em São José dos Campos. Flávio permanece brilhante.

FRAGMENTOS DE

RICA HISTÓRIA

Está completando 10 anos do privilégio e ter orientado, na Faculdade de Comunicação Social da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), o trabalho de iniciação cientifica “Flávio Araújo: uma lenda do rádio esportivo brasileiro”, produzido pelos então alunos que se tornaram colegas de profissão: Amanda Santana, André César, Beatriz Esper e Vinícius Ribeiro. Nesta reportagem de domingo, serão apresentados alguns fragmentos da rica história que foi sistematizada em uma produção com mais de 200 páginas, das vivências mantidas na memória do repórter e das repetidas leituras do livro O Rádio, o Futebol e a Vida (Editora Senac, 2001), obra de Flávio Araújo, com mais de 300 páginas.

Flávio queria sem cantor. Foi cantar em uma festa da Rádio Difusora, então conhecida como PRI-5 A Voz do Sertão. Recebeu convite para ser locutor e em 1950 teve início uma carreira de sucesso, com passagem por Dourados (MS) e consolidada no rádio paulistano, de 1958 a 1982 na Bandeirantes. Depois na Gazeta, até 1986. Narrou cinco Copas do Mundo, de 1966 a 1982; e a Libertadores de 1960 a 1983; em tempos que se viajava para fazer as transmissões, o que ocorre pouco nos dias atuais, quando a tecnologia possibilita a transmissão off-tube, por imagem recebida no estúdio.

Quando nem era usual a palavra multifuncional, Flávio Araújo já exercitava a polivalência: atuava na área comercial, escrevia para três jornais e a narração não se restringia ao futebol, pois transmitiu lutas de box e corridas de Fórmula 1, entre outras modalidades. Acompanhou carreiras históricas, como a do pugilista Éder Jofre, visto por ele como a glória maior do pugilismo brasileiro e foi quem transmitiu com absoluta exclusividade a luta pelo Mundial no Japão; e a de Pelé, visto por ele como iluminado, inclusive com a narração histórica do milésimo gol, no Maracanã.

LEVOU E ELEVOU

PRUDENTE

No filme da Fifa (Federação Internacional de Futebol Associado), quando mostra a Copa de 70 – a do tricampeonato brasileiro –  Flávio Araújo aparece em evidência, de microfone em punho e uma fita na cabeça, com a palavra Brasil. No filme Pelé Eterno (2004) foi convidado para reviver a narração do milésimo gol do Rei. Em São Paulo, pelo Brasil e no mundo afora, levou e elevou o nome de Presidente Prudente. Esta publicação de O Imparcial tem o tom de agradecimento reiterado, manifestado anteriormente com a outorga do Troféu Heitor Graça, na edição de 1982. Data em que nasceu o seu segundo relacionamento transformado em núpcias com Yvette Pinheiro, radialista que apresentou a cerimônia.

Em sendo de Prudente, Flávio Araújo é da gente. Filho dos pioneiros Tibúrcio de Araújo e Dulce Moura de Araújo, nasceu em 29 de julho de 1934 e teve dois irmãos: Cleusa  e Francisco. Lá se vão quase 86 anos da vida de alguém que se tornou famoso no Brasil, mas que na infância jogou bola nos campos de terra das vilas Euclides e Glória, nas imediações da santa casa. Jogou no infantil do Palmeiras, Corintinha e Prudentina. Quando seu pai se dedicou à cultura de hortelã em Álvares Machado, frequentou escola rural e na classe de 72 alunos eram somente dois brasileiros: ele e a professora. Os demais eram japoneses ou descendentes.

Naquela ocasião ingressou precocemente na escola. Aos seis anos, como não podia ser matriculado na escola pública, seus pais o levaram para o Colégio Cristo Rei. No ano seguinte deixou a escola católica e foi para a escola de um pastor evangélico chamado Assis. O ensino básico, do primário ao colegial, foi em duas escolas públicas: Arruda Mello e Fernando Costa. Antes de ingressar no rádio, trabalhou fazendo entregas para uma farmácia e no Banco Sul-Americano do Brasil.

Casou-se em 1953 com Maria Lourdes Ferigatto e tiveram cinco filhos: Flávio e Vinícius, prudentinos; Helder, Adriano e Silvio Américo, paulistanos. Todos os filhos muito bem encaminhados na vida, sendo que o primogênito era engenheiro de comunicação e morreu no trágico acidente aéreo da TAM, em 1996.  Passados 20 anos, em 2016, ficou viúvo quando morava na estância hidromineral Águas de Santa Bárbara. Após deixar o rádio em São Paulo, prestou serviços para jornais, rádios e site da capital e do interior paulista e mineiro, onde seu irmão Chico de Assis, que trabalhou em rádio e televisão em São Paulo, é dono da Rádio Cultura de Poços de Caldas.

Foto: Marcos Sanches

Ivette Pinheiro e Flávio Araújo em Prudente, no ano de 2010

Foto: Marcos Sanches

Inauguração do Centro de Formação de Atletas Flávio Araújo

Foto: Reprodução/Site Terceiro Tempo

Imagem histórica da Copa de 1970:  Brasil tricampeão no México

Foto: Centro de Memória do Rádio/Rádio Comercial

José de Alencar, Bendrat Júnior, Flávio Araújo e Wilson, em Prudente

Foto: Reprodução/Site Terceiro Tempo

Flávio Araújo (no topo da escada) em viagem internacional em 1966

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