É pela arte que as antigas civilizações são lembradas e vislumbradas. Isso porque as representações artísticas e a história caminham lado a lado. A de Presidente Prudente pode ser descrita a partir de obras marcantes como as pinturas internas da Catedral de São Sebastião, da Paróquia Nossa Senhora Aparecida e até mesmo pela capela localizada no HR (Hospital Regional), todas essas, realizadas por José Bottosso. Para celebrar a vida e obra do artista, ocorre no bloco 3 do campus 2 da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista) a exposição “Mãos que repousam sobre telas”.
Situada no pátio de entrada do Piso 1, a mostra conta com 14 telas de Bottosso e pode ser vista até 23 de agosto, durante todo o dia. Para acompanhar a abertura, na manhã de ontem, estiveram presentes organizadores da exibição e familiares do artista, entre os quais a viúva do pintor, a pianista Maria Apparecida Memari Bottoso, 88 anos. “Estou muito orgulhosa, porque ele foi um grande artista. Ele fez belas artes por seis anos. Eu o conheci quando tinha entre 13 e 14 anos, fomos muito felizes casados, temos duas filhas e uma neta, todos são artistas. Na minha casa, todos só falam em arte. É um grande orgulho, estou emocionada hoje!” afirmou Maria Apparecida, carinhosamente chamada de Dona Cida.
O organizador da exposição, Elias Ferreira, 55 anos, enfatiza a importância de levar para a universidade, onde boa parte dos estudantes são jovens, as telas de um artista local conhecido e premiado pelo mundo. “A exposição é uma homenagem que eu e a família fazemos ao artista, ao legado que ele deixou, às suas obras de arte, como as igrejas e via-sacra que o consagrou, além de suas telas. É nada mais, nada menos que isso, manter o legado do artista José Bottosso, para que não se perca.”
Valor histórico
Estava presente na inauguração da mostra, também, a coordenadora do curso de História, Alba Lucena Fernandes Gandia. Ela deixa claro, a necessidade de preservar a obra do artista prudentino. “Minha grande preocupação é com a conservação da memória disso tudo. Nosso sonho é que se faça um amplo trabalho de restauração. Vamos lutar pelo tombamento da obra do professor Bottosso, para que seus trabalhos não sejam de forma alguma depreciados”, completa.
A historiadora, que também faz parte da organização da exposição, explicou a parceria entre a organização e o curso de História. Todos os alunos visitarão as obras, farão análises profundas para entendê-las em seus contextos. “É uma grande honra para todos nós da universidade receber a obra do professor. A arte não tem fronteiras, é uma representatividade que temos que valorizar muito”, completa Alba.
Somando à família de artistas, o concunhado de José Bottosso é cronista, tendo inclusive escrito livros sobre a história e centenário de Presidente Prudente. Benjamin Resende, 86 anos, destaca o valor histórico que possui a obra de um artista tão festejado dentro e fora do Brasil. “Acho que Prudente é uma cidade privilegiada, porque ter um artista plástico da altura do Bottosso é uma honra muito grande. Ele deixou alguns cartões de visitas em Presidente Prudente para quem quer conhecer a arte. Em primeiro lugar, a Catedral de São Sebastião, segundo, a Igreja Nossa Senhora Aparecida, da Vila Marcondes, terceiro, a capela dentro do Hospital Regional, além da capela do campus 2”.
O escritor conclui expondo a tristeza e preocupação por obras do artista que já foram destruídas ou deterioradas. “As pessoas morrem, mas não acabam, se ela deixou uma obra, precisa ser preservada. Precisamos não só preservar as obras do Bottosso, mas também as belezas que a cidade tem. As obras são um monumento à cultura, à arte e ao povo prudentino”, completa Benjamin.
O artista
“Jamais vou esquecer-me de quando ele fazia o teto da catedral de Presidente Prudente, quantas vezes cheguei até ali, ele deitado naquelas madeiras, horas e horas trabalhando, é algo que só temos que aplaudir.”, recorda Alba Lucena.
Nascido em 12 de agosto de 1930, José Bottosso realmente se doava de corpo e alma às artes. Admirador de Claude Monet e Vincent Van Gogh, buscou neles o vigor e o equilíbrio das cores. Como artista plástico, pintou em telas cenas rurais e cotidianas, mas foram as pinturas sacras que o tornaram muito conhecido em Prudente, nas quais utilizava técnicas refinadas como simetria, sugestão da terceira dimensão e os detalhados mosaicos.
José Bottosso fez questão, de em vida, formar outros artistas. Foi professor de desenho geométrico e técnicas de pintura em Prudente. Para conhecer mais da vida e obra do artista, basta visitar a exposição de suas obras e retirar gratuitamente um pequeno livro que descreve suas histórias e técnicas. Vale a pena a visita, afinal, nas palavras da própria Dona Cida, “a arte é indispensável ao indivíduo. Ninguém vive sem arte, seja ela qual for”.