Exercício de força protege o cérebro

Esportes - Jair Rodrigues Garcia Júnior

Data 27/04/2025
Horário 04:05


As doenças do coração são as mais temidas e o motivo é bem simples: são aquelas que lideram as estatísticas de mortes. Porém, as doenças mentais e neurodegenerativas também despertam o pavor em muitas pessoas, pois quando se manifestam, gradativamente roubam da pessoa a autonomia e a dignidade, antes de levar à morte. 

DOENÇA DE ALZHEIMER
É caracterizada como um processo neuroinflamatório com deposição de placas de proteína beta-amiloide (placas senís) e formação de emaranhados neurofibrilares no córtex cerebral e no hipocampo. A morfologia (forma) dos neurônios é alterada e prejudica a função, levando aos sinais clínicos. Os déficits de memória e cognição surgem primeiro e são seguidos de alterações comportamentais e progressiva disfunção motora.

MEDICAMENTO?
A corrida dos pesquisadores e laboratórios para descobrir uma droga que previna e seja terapêutica para doença de Alzheimer segue bastante disputada. Impedir o acúmulo da proteína beta-amilóide e a neurodegeneração será uma grande conquista contemporânea da ciência. Porém, nesta corrida só há promessas por enquanto. Recentemente, o medicamento Kisunla (donanemabe), da Eli Lilly, foi aprovado pela ANVISA para o tratamento de Alzheimer em estágios iniciais, ou seja, quando o comprometimento cognitivo ou demência são ainda leves. Além de uma série de condições para uso do donanemabe, seu custo é de US$ 2,100.00 por mês nos EUA.

EVIDÊNCIAS ROBUSTAS
Estão sendo acumuladas sobre os benefícios do exercício físico para prevenir e até mesmo reverter parcialmente as consequências da neuroinflamação e alterações dos neurônios. A maioria dos estudos realizados foi experimental, com ratos e camundongos treinados, porém as perspectivas são bastante promissoras de que a doença de Alzheimer possa ser prevenida ou pelo menos “atrasada” pelo exercício físico.

NATAÇÃO
Estudo de pesquisadores da UFRJ, publicado na revista Nature Medicine em 2019, demonstrou em camundongos que: 1) a irisina, uma proteína produzida pelos músculos ativos, estava diminuída nos camundongos com doença de Alzheimer e 2) quando a concentração de irisina foi restaurada por injeção ou prática de exercício de endurance/aeróbio (natação, 1h/dia, 5 dias/sem, 5 semanas) houve melhora na plasticidade das sinapses (comunicação entre os neurônios) e reversão nos problemas de memória.

FORÇA
Estudo de 2023 de pesquisadores da UNIFESP e USP, publicado na revista Frontiers in Neuroscience, demonstrou que o treinamento resistido (exercício de força, como musculação) de 4 semanas, em camundongos, foi eficiente para diminuir as placas de proteína beta-amiloide, reverter as alterações neuropatológicas e comportamentos característicos da doença.

MAIS FORÇA
Estudo de 2025, de pesquisadores da UNICAMP, publicado na revista Geroscience, foi realizado com 44 idosos (média de 65 anos) diagnosticados com comprometimento cognitivo leve (“pré-diagnóstico” de Alzheimer). Metade do grupo ficou sedentária e outra metade treinou musculação, com progressão de carga, 2x/semana, durante 6 meses. O grupo treinado mostrou melhor desempenho da memória recente, capacidade de atenção e funções executivas, além de alterações benéficas na anatomia cerebral, e até remissão do quadro clínico. O grupo sedentário apresentou atrofia cerebral. Exercício de força é uma "estratégia não farmacológica", muito promissora para atrasar a progressão da demência e talvez até evitá-la.


Jair R. Garcia Jr. é palestrante de saúde, fisiologista (ICB-USP) e professor da Unoeste. [email protected]  Instagram: @jairgarciajr.prof


Exercício de força é uma "estratégia não farmacológica", muito promissora para atrasar a progressão da demência e talvez até evitá-la.

 


Referências

Azevedo CV, Hashiguchi D, Longo BM et al. The effects of resistance exercise on cognitive function, amyloidogenesis, and neuroinflammation in Alzheimer’s disease. Frontiers in Neuroscience. 2023; 17. https://doi.org/10.3389/fnins.2023.1131214

Campos HC, Ribeiro DE, Hashiguchi D, ..., Ulrich H, Monteiro Longo B. Neuroprotective effects of resistance physical exercise on the APP/PS1 mouse model of Alzheimer's disease. Frontiers in Neuroscience. 2023; 17: 1132825. http://dx.doi.org/10.3389/fnins.2023.1132825 

Lourenco MV, Frozza RL, de Freitas GB, ..., Ferreira ST, De Felice FG. Exercise-linked FNDC5/irisin rescues synaptic plasticity and memory defects in Alzheimer's models. Nature Medicine. 2019; 25(1): 165-175. http://dx.doi.org/10.1038/s41591-018-0275-4 

Ribeiro IC, Teixeira CVL, Resende TJR, ..., Balthazar MLF. Resistance training protects the hippocampus and precuneus against atrophy and benefits white matter integrity in older adults with mild cognitive impairment. Geroscience. 2025. http://dx.doi.org/10.1007/s11357-024-01483-8 
 

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