O Sindicouro (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Artefatos e de Curtimento de Couros e Peles do Oeste e do Sudoeste do Estado de São Paulo) planeja ajuizar ação civil pública contra a Vitapet, de Presidente Prudente, caso a empresa não conceda o benefício da cesta básica, referente ao mês de julho, aos funcionários demitidos no fim do mês passado. No total, foram 212 desligamentos motivados pela queda de exportações. De acordo com o presidente do sindicato, Vicente Lopes da Silva, até ontem, 70% dos ex-funcionários haviam recorrido à entidade representativa para pedir apoio no caso.
O sindicalista afirma que entrou em contato com o Departamento de Recursos Humanos da Vitapet, no entanto, foi informado de que “os funcionários perderam o benefício após a demissão”. “Eu, como representante da categoria, falei que eles tinham direito sim. Então, comunicaram que verificariam o problema e me dariam uma resposta no mesmo dia, mas até às 17h, não recebi nada”, expõe. Vicente explica que a cesta básica é uma concessão da empresa, logo, a justificativa desta é que não tem a obrigação de repassar o benefício. Contudo, ele entende que, por ser algo que a Vitapet assegurava mês a mês aos seus funcionários, acabou tornando-se um direito legal dos trabalhadores.
Atualmente, o sindicato realiza a rescisão dos contratos. Em virtude da demissão em massa, Vicente esclarece que não é possível fazer tudo de uma única vez. Desta forma, tem recebido dez ex-funcionários por dia. Aqueles que já passaram pelo local tiveram acesso aos demais benefícios garantidos pela empresa e receberam a documentação necessária para levantar o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e o Seguro-Desemprego.
A respeito da situação, o representante da classe avalia que “faltou mais diálogo” entre empresa e sindicato, uma vez que ao último só foi comunicado o aviso de férias coletivas ao quadro de colaboradores e, mais tarde, o desligamento. “Eles nos deixaram claro que iam realizar a demissão em massa, mas nunca se dispuseram a conversar conosco e discutir o que poderia ser feito em prol da segurança dos trabalhadores”, argumenta. Por esta razão, o sindicato também estuda a possibilidade de entrar com uma ação trabalhista para questionar a decisão da Vitapet. “Além disso, quero deixar bem claro aos nossos associados que o sindicato está analisando a sua situação e está de portas abertas para orientá-los”, salienta.
Procurada, a Vitapet não se manifestou até o fechamento desta edição.
“Eles nos deixaram claro que iam realizar a demissão em massa, mas nunca se dispuseram a conversar conosco e discutir o que poderia ser feito em prol da segurança dos trabalhadores”
Vicente Lopes da Silva,
presidente do Sindicouro
Sem surpresa
Uma ex-funcionária que não quis se identificar conta à reportagem que a demissão não foi repentina. Segundo ela, os colaboradores já sentiam que havia uma crise dentro da empresa em função da falta de pedidos por parte dos fornecedores. Relata que, antes do anúncio de férias coletivas aos trabalhadores, a diretoria da Vitapet foi clara ao informá-los sobre a situação financeira do local. “Eles afirmaram que não poderiam passar nada naquele momento e que tinham 30 dias para ver se levantavam dinheiro e novos pedidos, mas, infelizmente, isso não ocorreu. Quando voltamos para trabalhar [no dia 28 de julho], colocamos os uniformes, porém, não passamos pelas catracas”, explana.
Nisso, todos foram encaminhados para o Departamento Pessoal, onde foi informado que a “empresa não tinha condições para manter parte do seu pessoal” e, a partir daquele momento, deveriam entrar na fila para obter a indenização do aviso prévio. A ex-funcionária pontua que, após a baixa na carteira, foi entregue um bilhete constando uma data para a retirada da cesta básica referente a julho. Entretanto, ao retornarem ontem para obter o benefício, receberam a notícia de que “não tinham direito”. “Estamos reivindicando a cesta porque há pessoas que dependem dela; era uma ajuda a mais no orçamento. Tem gente que ainda não fez a compra no supermercado, pois estava aguardando a cesta entrar para usar o resto do dinheiro em outros itens de que precisava”, lamenta.