William Bonner é jornalista, mas especialmente é um mensageiro e ter este cargo social não é para qualquer um.
No último sábado, no programa “Altas Horas”, na rede Globo, o âncora do “Jornal Nacional” explicou que mais do que ser profissional da imprensa, ele é detentor da mensagem final para o público e é aí que tudo complica.
Muitas pessoas não conseguem discernir entre o mensageiro em si e a origem da própria notícia e o resultado disso é que ficam muitas vezes bravos com ele, Bonner, e não com o fato acontecido. Esta é a Síndrome do Mensageiro.
Acontece não só com jornalistas. Em nossa vida social vivemos atacando muito mais o mensageiro do que o que realmente importa.
Alunos não gostam de ouvir o professor dizer que eles precisam estudar para passar no vestibular e muito menos que as provas serão difíceis e que haverá muita concorrência. Cabe, porém, ao professor ser o mensageiro e, portanto, o primeiro a ser criticado mesmo não sendo ele quem criou o sistema de vestibular.
Da mesma forma, quando recebemos um exame de saúde com números ruins ou com um diagnóstico que não esperávamos, olhamos com raiva para o médico, duvidamos de sua capacidade ou então questionamos, sem base técnica alguma, se o aparelho de raio-X ou o tomógrafo estavam bem regulados. Todos eles, mensageiros, que recebem a primeira raiva da informação.
Os últimos anos no Brasil têm sido muito ruins para jornalistas por serem mensageiros das notícias que envolvem direita e esquerda e consequentemente toda a paixão e raiva que circundam estes lados.
As pessoas estão muito mais dispostas a ouvir somente o que querem e refutam imediatamente aquilo que as contrariam. Sobra para quem? Óbvio: para o mensageiro.
Pior de tudo ainda é que ao ficar contrariado, a primeira forma de contra-ataque do público que não gostou da mensagem é desmoralizar justamente o mensageiro e por este motivo que nós, jornalistas, sofremos tantos ataques pessoais e xingamentos, como Bonner desabafou também no programa.
Não vou cravar aqui que todos os profissionais da imprensa ou as empresas sejam santos porque não há profissão ou corporação que contenha 100% de gente ilibada, mas em mais de 99% dos casos de ataques aos jornalistas o problema é a notícia em si ou quem a protagoniza que são ruins e não quem a transmitiu.
Junte a isso tudo, o fato de que muita gente decida buscar outras fontes de informação menos eficientes e profissionais somente porque não gostam do mensageiro e aí temos um cenário desastroso para a formação cidadã. Só que esse é assunto para outro dia.
Por enquanto, o que posso dizer é eu te entendo, William Bonner. Eu te entendo.