Eu te entendo, William Bonner

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 25/02/2025
Horário 06:00

William Bonner é jornalista, mas especialmente é um mensageiro e ter este cargo social não é para qualquer um. 

No último sábado, no programa “Altas Horas”, na rede Globo, o âncora do “Jornal Nacional” explicou que mais do que ser profissional da imprensa, ele é detentor da mensagem final para o público e é aí que tudo complica. 

Muitas pessoas não conseguem discernir entre o mensageiro em si e a origem da própria notícia e o resultado disso é que ficam muitas vezes bravos com ele, Bonner, e não com o fato acontecido. Esta é a Síndrome do Mensageiro.

Acontece não só com jornalistas. Em nossa vida social vivemos atacando muito mais o mensageiro do que o que realmente importa. 

Alunos não gostam de ouvir o professor dizer que eles precisam estudar para passar no vestibular e muito menos que as provas serão difíceis e que haverá muita concorrência. Cabe, porém, ao professor ser o mensageiro e, portanto, o primeiro a ser criticado mesmo não sendo ele quem criou o sistema de vestibular.

Da mesma forma, quando recebemos um exame de saúde com números ruins ou com um diagnóstico que não esperávamos, olhamos com raiva para o médico, duvidamos de sua capacidade ou então questionamos, sem base técnica alguma, se o aparelho de raio-X ou o tomógrafo estavam bem regulados. Todos eles, mensageiros, que recebem a primeira raiva da informação.   

Os últimos anos no Brasil têm sido muito ruins para jornalistas por serem mensageiros das notícias que envolvem direita e esquerda e consequentemente toda a paixão e raiva que circundam estes lados. 

As pessoas estão muito mais dispostas a ouvir somente o que querem e refutam imediatamente aquilo que as contrariam. Sobra para quem? Óbvio: para o mensageiro.

Pior de tudo ainda é que ao ficar contrariado, a primeira forma de contra-ataque do público que não gostou da mensagem é desmoralizar justamente o mensageiro e por este motivo que nós, jornalistas, sofremos tantos ataques pessoais e xingamentos, como Bonner desabafou também no programa. 

Não vou cravar aqui que todos os profissionais da imprensa ou as empresas sejam santos porque não há profissão ou corporação que contenha 100% de gente ilibada, mas em mais de 99% dos casos de ataques aos jornalistas o problema é a notícia em si ou quem a protagoniza que são ruins e não quem a transmitiu. 

Junte a isso tudo, o fato de que muita gente decida buscar outras fontes de informação menos eficientes e profissionais somente porque não gostam do mensageiro e aí temos um cenário desastroso para a formação cidadã. Só que esse é assunto para outro dia.

Por enquanto, o que posso dizer é eu te entendo, William Bonner. Eu te entendo. 
 

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