Especialista em apneia do sono, fisioterapeuta revela importância de reconhecer os sinais do distúrbio e buscar diagnóstico precoce

Conheça os sintomas, impactos e tratamentos do distúrbio que afeta milhões de pessoas

PRUDENTE - SINOMAR CALMONA

Data 09/02/2025
Horário 06:12
Foto: Cedida
Priscila Kalil é professora e pesquisadora do Instituto do Sono de São Paulo
Priscila Kalil é professora e pesquisadora do Instituto do Sono de São Paulo

A fisioterapeuta Priscila Kalil atualmente é integrante na equipe do cardiologista Osmar Marchiotto Junior, na Clínica Marchiotto Saúde Sustentável em Presidente Prudente, e estuda o sono há cerca de 10 anos, iniciando essa jornada durante o seu mestrado. Teve a oportunidade de se aperfeiçoar na Austrália e, posteriormente, realizar o doutorado em parceria com o Instituto do Sono e a Escola Paulista de Medicina – duas referências mundiais na área.

Priscila, muitas pessoas não sabem que sofrem o distúrbio de apneia obstrutiva do sono. O que exatamente é a apneia e como ela afeta a qualidade do descanso?

“A apneia do sono nada mais é do que a ocorrência de pausas respiratórias durante a noite. Essas interrupções podem prejudicar significativamente a qualidade de sono, levando à sonolência excessiva durante o dia. A pessoa tende a acordar mais fadigada e cansada, o que impacta negativamente a qualidade de vida”.

Quais são os sintomas clássicos da apneia do sono?

“O principal sintoma é a sonolência diurna. Outros sinais incluem ronco – que muitas vezes é percebido pelo parceiro ou pela parceira –, fadiga, sono não reparador e, em alguns casos, a facilidade de adormecer em qualquer lugar. Esses indícios já devem acionar um alerta para buscar avaliação profissional”.

O ronco sempre é um indicativo desse distúrbio?

“O ronco é, de fato, um dos primeiros sinais e está presente na maioria dos casos de apneia do sono. No entanto, nem toda pessoa que ronca necessariamente apresenta o distúrbio, mas é um indicativo que não deve ser ignorado”.

Quais são os impactos da apneia do sono não tratada na saúde física e mental do paciente?

“A apneia do sono não tratada pode gerar uma série de repercussões ao longo do dia, pois é uma doença silenciosa que ocorre à noite. Sem o devido tratamento, o paciente pode desenvolver problemas como diabetes, doenças cardiovasculares e transtornos mentais – como ansiedade, depressão e alterações de humor. Além disso, a má qualidade de sono interfere na liberação adequada dos hormônios da fome e da saciedade, o que pode contribuir para o ganho de peso”.

Existem diferentes tipos de apneia do sono? Quais são e como se diferenciam?

“Sim, a apneia do sono se divide principalmente em dois tipos. O mais comum é a apneia obstrutiva do sono, que ocorre devido a um colapso ou obstrução da via aérea – e estima-se que cerca de um terço da população seja afetada por ela. Já a apneia central do sono não é causada por obstrução, mas sim por uma falha no comando cerebral que regula a respiração. Este tipo é menos frequente e costuma estar associado a problemas neurológicos ou a certas doenças cardiovasculares”.

Esse distúrbio pode atingir qualquer faixa etária ou é mais comum em determinado perfil, como o de pessoas obesas?

“A apneia do sono pode ocorrer em todas as faixas etárias. Crianças, por exemplo, podem desenvolvê-la devido à hipertrofia das amígdalas ou adenoides. No entanto, ela é mais comum em adultos e idosos. A obesidade é um importante fator de risco, pois o excesso de peso pode contribuir para a obstrução das vias respiratórias. Na Clínica Marchiotto, temos um programa de tratamento para a obesidade que, aliado ao acompanhamento da apneia, facilita o emagrecimento e melhora a qualidade de vida dos pacientes”.

“A apneia do sono pode 
ocorrer em todas as faixas 
etárias. Crianças podem 
desenvolvê-la devido à hipertrofia
das amígdalas ou adenoides”

A apneia pode ser totalmente curada ou é um tratamento contínuo?

“Atualmente, ainda não encontramos uma cura definitiva para a apneia do sono, mas é um distúrbio que pode ser gerenciado de forma eficaz. O tratamento varia de acordo com a gravidade do quadro. Para casos moderados a graves, o uso do equipamento de pressão positiva (CPAP) é geralmente a primeira linha de tratamento. Em casos mais leves, além do CPAP, podem ser utilizadas alternativas como mudanças no estilo de vida, o uso de aparelhos intraorais – confeccionados em parceria com dentistas – e, em determinadas situações, intervenções cirúrgicas, sempre em conjunto com o otorrinolaringologista”.

Priscila, por que você é considerada uma fisioterapeuta especialista em apneia do sono? Qual é a sua formação nessa área?

“Estudo o sono há cerca de 10 anos, iniciando essa jornada durante o meu mestrado. Tive a oportunidade de me aperfeiçoar na Austrália e, posteriormente, realizar meu doutorado em parceria com o Instituto do Sono e a Escola Paulista de Medicina – duas referências mundiais na área. Concluí meu pós-doutorado na mesma instituição, onde participei de diversos cursos de capacitação, tanto na parte de fisioterapia do sono quanto na realização e análise de exames de polissonografia. Atualmente, atuo como professora e pesquisadora no Instituto do Sono em São Paulo, além de trabalhar na clínica do Dr. Osmar Marchiotto”.

Como surgiu a parceria com a Clínica Marchiotto Saúde Sustentável, liderada pelo Dr. Osmar Marchiotto, e por que uma clínica de cardiologia investe no tratamento do sono?

“A cardiologia tem passado a valorizar o sono como uma função essencial do estilo de vida. Em 2022, a Academia Americana de Cardiologia passou a incluir o sono como um dos pilares na promoção da saúde. O Dr. Osmar Marchiotto, sempre atualizado e conceituado, já realizava avaliações do sono em seus pacientes. Foi por esse caminho que me apresentei a ele, explicando meu trabalho. Ele já possuía um programa de tratamento para obesidade – um dos principais fatores de risco para a apneia – e, juntos, desenvolvemos um plano de acompanhamento que ajusta os parâmetros do tratamento de forma contínua, utilizando escalas validadas para monitorar a evolução do paciente”.

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