Problema da segregação espacial

- Da Redação

Data 16/05/2017
Horário 13:59

Estendo os parabéns à jornalista Mellina Dominato que escreveu a matéria “Estudo constata segregação espacial conforme renda”, publicada no domingo, na Página 9/A do caderno Cidades de O Imparcial, seguindo o trabalho de pesquisa da FCT/Unesp (Faculdade de Ciências de Tecnologia da Universidade Estadual Paulista) entre 2012 e 2016.

O quadro pintado alerta sobre as consequências psíquicas, sociais e econômicas que demonstram a falta de acompanhamento sobre o problema urbano da cidade, e a passividade dos representantes do povo, de organizações não governamentais, enfim, da sociedade em geral. Sim, realmente, acredito ser uma forma de violência pela imposição destas grandes lojas de departamento, além da visível discriminalização, tanto da área imobiliária como das empresas. Conforme o breve raciocínio humanista e ecológico que fiz após o alerta da reportagem.

Um dos grandes desafios brasileiros, no momento, é criar um modelo político urbano próprio, de tal forma que, nessa corrida em defesa do homem a cidade não chegue a esmagá-lo. Presidente Prudente, como capital da Alta Sorocabana, é hoje uma das cidades interioranas mais bem arborizadas. Mas, onde paira a desconfiança do homem diante do outro, desconhecido, é a tônica mais visível e palpável nas relações sociais da população, em consequência das culturas do medo da invasão de privacidade, da perda material e da divisão social.

O maior espetáculo, ao longo de uma rua, avenida, central ou de bairro, precisa continuar sendo o homem. Deve-se priorizar a formação e preservação de praças públicas com bancos, parquinhos e academias da Terceira Idade, ladeadas por árvores e jardim, que servem às crianças, às mães, aos moradores em geral. Os pais ou responsáveis têm onde levá-las, para que desfrutem da paisagem bucólica e saudável que tão bem enriquece a imaginação infantil. Qual a criança que não gosta de descobrir, com seu próprio corpinho, os bancos, correr e tocar no tronco de uma árvore que traz uma boa sensação agradável de pureza e de vida? E elas então brincam, desenham, correm, dançam, gritam, sorriem, interagem, sonham e aprendem. Saem de si.

Em termos de Brasil, as cidades estão sendo construídas e muitas vezes reconstruídas sem propósitos humanos, mas atendendo somente às exigências tecnológicas e imobiliárias. Não surpreende, portanto, o caráter desumano visível. Descompassadas em seu aspecto arquitetônico, poluídas, auditiva e visualmente enredadas em suas próprias contradições. Será que um dia, firmaremos um pacto para evitar o risco de deteriorar o ambiente, em que se desenvolve a única coisa realmente insubstituível, que é a nossa vida? Em muitas regiões o Estado estrangulou a região metropolitana e, no momento atual, a especulação imobiliária no Brasil sufoca a população mais carente nos condomínios populares, criando uma linha divisória separatista, entre os de luxo e os mais pobres. Planejamento começa com a prática, e não com seminários, congressos, encontros que se prestam para viagens de recreio, mordomias e pouca ação concreta.

Quando o administrador entra no esquema de maquiar o alto índice demográfico construindo moradias sem pesquisa e projeto, servindo aos interesses financeiros de incorporadoras, torna-se evidente que o homem foi derrotado pela máquina e pelo capital. As cidades são o que os administradores e as grandes corporações querem. Tendência não é destino. O município nessa luta contra a falta de um plano diretor, ou, planejamento urbano, tem que agir com urgência. Não é demais repetir: o maior espetáculo de uma rua ou de um bairro ainda é o homem. Vamos, portanto, revitalizar a área urbana.

Rubens Shirassu Júnior, escritor, revisor de textos e pedagogo

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