Sempre que me perguntam se compensa “dar” aulas respondo que nenhum professor exerce a profissão visando enriquecer financeiramente, e que quem “dá” aula o faz sobretudo porque gosta e porque por várias razões - não só financeira - compensa.
Uma delas consiste na satisfação de observar no dia a dia a transformação e evolução de cada aluno, o que se torna possível quando problematizam situações, expressam suas ideias e fazem perguntas.
Por ser professor de Direito do Trabalho, que tem fortíssimo apelo social, político e econômico, e como estimulo “meus” alunos a pensarem sobre este não só pela perspectiva (em benefício) do trabalhador, mas também do tomador de serviços, frequentemente surgem perguntas desafiadoras que chamam atenção porque grande parte deles nem trabalha ou emprega ainda.
Quando recentemente tratávamos da identificação de uma relação de emprego (vínculo empregatício) e seus reflexos, um deles indagou: “Professor, se basicamente para um tomador de serviços a consequência de não se registrar um trabalhador é vir a ser condenado a ‘pagar’ todos os direitos trabalhistas em caso de uma ação, não seria melhor não registrar? Porque se o trabalhador futuramente não ingressar com ação o tomador terá lucrado ao não ter pago os direitos trabalhistas”.
A referência a esta pergunta aqui não significa absolutamente que o aluno pense deste modo ou que caso venha a se tornar empresário assim agirá, mas mostra como um indivíduo ainda muito jovem já sabe como alguns (nunca generalizando) empresários pensam sobre e conduzem as relações de trabalho das quais fazem parte.
Respondi que além de poderem surgir outras consequências para o tomador de serviços, pensamento e prática como aquela terão cada vez menos espaço num ambiente corporativo em que a competitividade entre empresas só cresce, sobretudo com relação à atração e retenção de “talentos” (profissionais de destaque) que não mais aceitarão prestar serviços a empresas que não atuam considerando fatores sociais (o S, “social”, do ESG), inclusive referentes a seus colaboradores.
Quem pensa em se tornar empresário deve forjar e projetar para o futuro uma outra mentalidade sobre a relação de trabalho, não a encarando apenas sob uma perspectiva financeira e com entendimento de que tudo deve ser feito para se obter o máximo de lucro. Esta postura já não cabe mais e só pesará contra a empresa que será rejeitada por bons profissionais e até mesmo pela sociedade (mercado consumidor e potenciais parceiros) que a enxergará como descumpridora de suas obrigações, conferindo-lhe baixo valor reputacional, o que certamente não é o desejo de nenhum empresário.