Quando estamos planejando e também já durante as férias, a intenção é nos desligarmos das questões profissionais para um “limpeza” mental, a fim de recomerçamos bem o novo ano com as “baterias recarregadas”.
E para tanto, podemos simplesmente ficar em casa para descansar e dormir, ou viajar e conhecer novos lugares, experimentar comidas diferentes, tomar uma bebida refrescante, e, quem sabe, ler um ou mais livros que estão empoeirando na estante em casa.
No meu caso, viajei e pus na mala cinco livros com temáticas bem diversas, e a ideia era lê-los com o pé enfiado na areia, embaixo do guarda sol, sentindo a brisa do mar e com uma boa bebida gelada do lado. Mas... não estando em férias sozinho, e sim com família com duas filhas pequenas, já concluo que a maioria dos livros veio mesmo apenas “passear”. Digo a maioria porque pelo menos um (!) consegui terminar, o qual, coincidentemente, possui trechos relacionáveis com o ESG que, pelo visto, me persegue.
O livro é “O código de honra: como ocorrem as revoluções morais”, do filósofo Kwame Appiah, que procura explicar como a honra teve posição central em algumas das grandes revoluções morais humanas, as quais levaram à extinção de práticas que duraram por anos (séculos!), como por exemplo o duelo na Inglaterra, a amarração dos pés das chinesas, e a escravidão negra atlântica.
Externando a participação determinante da Inglaterra para o fim da escravidão, destaca o autor o surgimento à época (século XVIII), na Inglaterra, do sentimento da honra nacional, pois não seria honrado um país que de algum modo participasse e contribuísse com a escravidão.
Relata também que em 1790, entre 300 e 400 mil ingleses participaram de boicotes ao consumo de açúcar produzido por escravizados, manifestação e posicionamento sociais que se repetiriam em 1826, e que teriam concorrido, respectivamente, para o fim do tráfico (em 1807) e da escravidão (em 1833) ingleses.
Nessa história toda o ESG se encontra no “valor reputacional” de uma organização, de uma empresa, ou seja, no “S” (social), pois esta passagem histórica se assemelha em muito ao recente caso das vinícolas da região Sul do Brasil, que por se beneficiarem, ainda que indiretamente, de serviços prestados por trabalhadores em “condição análoga a de escravos”, tiveram enorme prejuízo financeiro com o pagamento de indenizações milionárias, e incalculável prejuízo reputacional frente aos seus já habituais, e também aos seus potenciais, consumidores, que, ainda que provisoriamente (ou definitivamente), deixaram de consumir produtos das empresas envolvidas, ou seja, exatamente o que aconteceu com os produtores de açúcar nos séculos XVIII e XIX.
Nota-se, portanto, que as organizações, objetivando manterem sempre elevada a sua reputação, devem permanecer atentas a dois pontos: às suas práticas gerenciais e comerciais, e, às mudanças de sentimento e de costumes da sociedade, seja esta consumidora (principalmente) dos seus produtos ou não, pois como se observa ao longo da história, até mesmo tradições seculares mudam e deixam de existir, pois as percepções sociais se modificam, visto que como afirmou outro filósofo, “tudo que é sólido se desmancha no ar”.
Dito tudo isso, enfiemos novamente os pés na areia.
Um ótimo 2024 a todos!!