Escola do rock

OPINIÃO - Thiago Granja Belieiro

Data 22/06/2024
Horário 04:30

A história da música nunca mais foi a mesma depois que os negros norte-americanos criaram, entre 1890 e 1910, o blues e o jazz, misturando ritmos caribenhos, europeus e africanos. Os dois estilos têm na complexidade musical suas maiores contribuições à música. Os solos característicos do blues e as improvisações do jazz, nos mais diferentes instrumentos, possuem acordes com quantidades tão grandes de notas e com combinações tão complexas que muitas de suas músicas são consideradas únicas ao ponto de ser impossível reproduzi-las. O jazz, inclusive, é considerado um estilo de tão difícil definição que os norte-americanos costumam dizer que, se você não sabe identificar a música que está tocando, é jazz. 
No livro “História Social do Jazz”, publicado em 1961, o historiador britânico Eric Hobsbawm, apaixonado pelo jazz, narra a história do surgimento desse estilo musical, destacando a originalidade e genialidade de seus músicos que, em condições sociais na maioria das vezes adversas, deram ao mundo uma música revolucionária. Contudo, o autor também lamenta que o jazz tenha sido substituído pelo rock, que derivado do blues e do jazz, fora criado por músicos brancos como Jerry Lee Lewis, Elvis Presley e Chuck Berry. 
A desaprovação de Hobsbawm ao rock se explica de várias maneiras. A baixa complexidade musical do estilo, marcado por acordes e arranjos bastante simples, em ritmo acelerado e dançante e com letras que falavam de amor fez do rock, talvez, o primeiro estilo musical a ser um estrondoso sucesso da indústria cultural. Músicos como Elvis Presley e bandas como os Beatles venderam milhões de discos e ofuscaram a beleza e a complexidade do jazz, que se renovou desde então, mas nunca mais teve a mesma notoriedade. 
A paixão do historiador pelo jazz talvez o tenha impedido de reconhecer a riqueza que o rock assumiu dos anos 1960 em diante. Do rock clássico nasceu o metal e o pop rock. A primeira vertente dividiu-se em heavy metal, death metal, black metal, doom metal; dali saiu também o punk rock, o hard core e o rock progressivo. Se fossemos listar as bandas do pop rock, originadas em sua maioria na Inglaterra, faltaria espaço em um só jornal. Do rock nacional poderíamos dizer o mesmo. 
Os tempos áureos desse estilo foram no século passado, quando grandes bandas como Slayer, Metallica e Iron Maiden gravaram seus melhores discos. A grandiosidade e importância do rock enquanto manifestação cultural multifacetada fez dele tema de pesquisas de antropólogos, sociólogos e historiadores. Nos dias de hoje, em que a indústria cultural está dominada por sertanejos e mc´s, a afirmação de Adorno e Horkheimer de que a música de massa causa perda auditiva, alienação e falta de criticidade parece fazer todo o sentido. Isso o rock não faz e por isso não serve mais a essa indústria e são tão poucos seus apreciadores. Parabenizo os pais descolados e cultos que priorizam uma educação musical rockeira aos seus filhos, afinal, como diz a música de Sha Na Na “Rock in Roll is here to stay it will never die”. 
 

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