Equipe do projeto realiza novo censo do fragmento que recebeu micos

REGIÃO - DA REDAÇÃO

Data 22/09/2024
Horário 04:05
Foto: Lucas Leoni
Retirada de um grupo levado para outra área é conhecida como translocação
Retirada de um grupo levado para outra área é conhecida como translocação

A partir deste mês de setembro, a equipe do Programa de Conservação do Mico-leão-preto deu início a um novo censo no fragmento, utilizando tanto o monitoramento acústico passivo – feito com gravadores autônomos – quanto com o transecto com playback que emite vocalizações. O objetivo é uma atualização do tamanho populacional e dos padrões de uso e ocupação do espaço pelos grupos que vivem no fragmento. “A partir de tecnologias como gravadores autônomos e armadilhas fotográficas é possível, de fato, identificar informações valiosas sobre os primatas e as condições do ambiente em que vivem, como, por exemplo, monitorar o tamanho dos grupos e as áreas que estão utilizando no fragmento, ou mesmo determinar o momento do dia em que estão mais ativos. Temos seguido nessa direção, considerada uma área emergente para a conservação de diferentes espécies de primatas”, destaca a coordenadora do programa de conservação mais longevo do IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas), Gabriela Rezende.

Uma inovação do projeto é o uso, desde 2016, de ocos artificiais em fragmentos florestais que ainda não contam com a oferta de ocos naturais ou que têm baixa disponibilidade destes. “Os ocos são um recurso valioso para a proteção dos micos-leões-pretos, em especial durante a noite, mas não estão disponíveis de maneira natural em florestas recentemente restauradas. Nossas pesquisas mostram que diversas espécies arborícolas - que são aquelas que vivem nas árvores e não costumam pisar no chão da floresta, como gambás e algumas aves, por exemplo, além dos micos - também dependem e utilizam esses ocos artificiais quando disponibilizados”, destaca a pesquisadora.

Entre os próximos passos, estão previstos consolidar o programa de saúde única, integrando a saúde dos micos à saúde ambiental e humana, que na prática é avaliar como o ciclo das doenças se apresenta nos micos, nos animais domésticos e, especialmente, nas comunidades que vivem próximas às áreas de floresta, avançar nas pesquisas usando bioacústica, por meio de gravadores autônomos, e sobre o impacto das mudanças climáticas nos micos, além de desenvolver diversas ações de educação ambiental e comunicação. As ações de manejo de populações e do hábitat integram os resultados das pesquisas e se complementam às estratégias de envolvimento comunitário promovidas pelo IPÊ, como forma de impulsionar a conservação do mico-leão-preto e da Mata Atlântica em suas áreas de ocorrência.  

Frutos da pesquisa

As pesquisas com o mico-leão-preto começaram por iniciativa de Claudio Valladares Padua, em 1984. O administrador de empresas deixou de lado a profissão no Rio de Janeiro para tornar-se biólogo e dar um novo propósito à sua vida atuando pela conservação da natureza. A oportunidade de fazer seu papel pela biodiversidade se deu por meio das pesquisas com o mico, no Pontal do Paranapanema. As pesquisas avançaram com um componente de educação ambiental, liderado por sua esposa Suzana Padua, e de restauração de hábitats, por meio de diversos outros projetos. Novos pesquisadores que se juntaram ao casal pelo interesse em pesquisas nessa linha deram origem ao IPÊ, anos depois, em 1992.

De lá para cá, os esforços a princípio de pesquisas sobre a ecologia da espécie foram ampliados, explica Padua. “Comecei querendo salvar o mico-leão-preto, mas vi que não conseguiria salvá-lo mesmo que eu estudasse tudo o que era possível sobre ele. Descobri que era preciso incluir as pessoas, trabalho que foi liderado a princípio por Suzana, mas ainda assim havia o lado econômico, que influencia tudo. Passamos a atuar também na conservação do hábitat do mico e na economia regional, trabalhando no planejamento da paisagem e na influência em políticas públicas. Assim criamos o modelo IPÊ de conservação, que tem como alicerces a ciência e o envolvimento da comunidade”.

Tanto Claudio quanto Gabriela são reconhecidos internacionalmente pelo trabalho realizado pela conservação da espécie. Ambos já receberam o Whitley Award, do Whitley Fund for Nature (Reino Unido), considerado o Oscar Verde da Conservação, Claudio em 1999 e Gabriela em 2020. Em 2023, o IPÊ recebeu uma categoria extra do Whitley Award em reconhecimento ao trabalho da instituição. 

Em março de 2024, Gabriela também recebeu um novo prêmio do Disney Conservation Fund, um dos principais financiadores do programa, como uma das 11 mulheres incríveis que causam impacto positivo na conservação em todo o mundo, além do valor de 50 mil dólares investido no programa.

Leia mais

Programa de conservação do mico-leão-preto na região faz 40 anos com translocação em andamento

Publicidade

Veja também