Hoje, aqui no meu consultório, fui fortemente mobilizada e absorvida, por um cãozinho que uivava insistentemente, de “dor”. Dor entre aspas porque, não sei se era dor física, no corpo ou falta da proteção e acalento do dono. Olhei daqui de cima, onde consigo ver as baias, e o vi com um colar no pescoço. Ele clamava por socorro! Confesso que tive o desejo de ir lá, sentar-me ao seu lado. Acolhê-lo.
Separados por muros permaneci ao meu local de trabalho. Nem tudo que desejamos, podemos realizar. Essa experiência colocou-me a pensar sobre a diferença entre muros e pontes. Pensei sobre interpretações e seus desdobramentos, compreensões e conflitos, guerra e a paz. Refleti sobre as atitudes, atos, reações, omissões, indiferença, banalidade e nas palavras. Há palavras proferidas que poderão levantar “muros” entre as pessoas, provocando distanciamentos e isolamentos, inimizade e muita destrutividade. Gestos e olhares, também poderão simbolizar afastamentos e altos “muros” entre as pessoas.
O que poderá provocar, além de uma “muralha “que se levanta, a prática constante do bullying nas escolas, trabalho ou em outros grupos quaisquer? Todos nós, sem distinção, somos frágeis, sensíveis e carentes. Um elogio, um sorriso, uma escuta, um abraço, uma gentileza, um bom dia ou boa tarde etc., criam pontes, ligações e vínculos.
O bullying é uma agressão que pode perpetuar pela vida a fora do sujeito. É destrutivo e instiga, desperta, suscita o de mais demoníaco no psiquismo do indivíduo. Há palavras que fertilizam, polinizam, acalmam e são balsamos provocando a paz. O que será que provoca a guerra? “Qualquer coisa que encoraje o crescimento de laços emocionais tem que servir contra as guerras” (Freud,1856-1939).
No livro “Pequeno Príncipe”, tem uma célebre frase que diz assim: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. A frase significa que criar laços com o outro, seja de amizade ou amor, implica ter responsabilidade sobre a relação. É preciso zelar e cuidar para que a relação perdure e frutifique. “Cativar é criar laços”, outra fase do livro. Para criar laços, é necessário quebrar muros e estabelecer pontes para a aproximação, encontros, experiências e liberdade de ir e vir.
O preconceito, representa muros nesse contexto. Humberto Eco, em seu livro “Migração e intolerância” (2020), divide conosco que, “A compreensão mútua entre culturas diversas não significa avaliar a que o outro deve renunciar para se tornar igual, mas compreender mutuamente o que nos separa e aceitar essa diversidade”.