Vamos dar uma bagunçada em sua zona de conforto: se você defende a Amazônia, o Povo Ianomami, Israel ou Palestina, mas nunca esteve em nenhum destes lugares para conhecê-los a fundo, você defende as histórias que te contaram de lá e não necessariamente o que acontece.
Desta forma, posso cravar que: histórias vendem mais do que fatos!
Legal, né? Tira da zona de conforto porque nos obriga a rever muito do que andamos acreditando por aí!
Mas alguém poderia perguntar: “fatos e histórias não são a mesma coisa?” “Fato não é história e vice-versa?”
A resposta é para incomodar de novo: sim e não!
Fatos são os acontecimentos visíveis e sentidos por todos nós. Fato é fato e contra ele não há argumento, já dizia a sabedoria popular.
Já as histórias também são fatos, mas diferentemente da objetividade anterior, elas são responsáveis por nos aproximar ainda mais de um mundo, pessoas ou situações que não conhecemos, por conta da narrativa que nos é apresentada.
Vou reforçar: o que difere um mero fato de uma boa história, portanto, está na narrativa aplicada em cada um deles. Ou seja, a história é a mesma, mas a forma de contá-la é que muda.
Crescemos e adoramos ouvir histórias porque elas nos tiram o medo do desconhecido e nos colocam em um mundo confortável de fantasia e de ideias também, ou seja, daquilo que você acredita ou quer acreditar.
Isso explica, além dos exemplos que dei no começo desta crônica, porque você é impelido a gastar mais de mil reais em um tênis de corrida e nem ser um super atleta para precisar do equipamento.
Ou seja, o que você “compra” é uma boa narrativa ou uma excelente conexão entre personagens, tempo, espaço, conflito, dor, necessidade, desejo e receptor, que são os elementos que vão compor a trama ou o enredo da história.
E veja, não há nada de errado nisso, embora a prática abra brechas para manipulações das mais diversas ordens, desinformação e tudo mais. Exemplos recentes de narrativas ideologicamente enviesadas estiveram presentes nos últimos anos nos grupos de Zap por aí como o voto impresso auditável e movimento anti-vacina.
Mas aí precisamos colocar em jogo também a educação de cada pessoa para pesar o que aceita ou não como informação.
Cada um de nós é responsável pelo que recebe, acredita e repassa e nunca é demais alertar: cuidado com a fonte de onde saiu a informação; verifique e desconfie se o fato contado não se maciça muito bem em ideologias políticas polarizadas; e por fim, não seja um bobo da corte que repassa qualquer informação só porque aquilo cabe direitinho em suas crenças pessoais.
Fake news também são boas narrativas, podem até matar ou prejudicar muito alguém e você não quer ser cúmplice disso, não?