A reportagem consultou estabelecimentos, em Presidente Prudente, que vendem brinquedos para saber se a demanda por jogos de tabuleiro ainda existe, mesmo em tempos em que a diversão, muitas vezes, é feita pelo intermédio das telas dos dispositivos digitais.
Gerente da loja Brink & Lar, Amaro César, conta que a busca por jogos tradicionais como xadrez, dama e dominó tiveram alta durante a pandemia e que a venda destes tem sido recorrente nos últimos tempos. “Dá para falar sim que a demanda aumentou com a pandemia. Acredito que é uma tentativa dos pais para tentar afastar os filhos um pouco da internet. Jogos como xadrez, dama, trilha e dominó saem bastante”, relata o comerciante.
Marcio Lelli, gerente da Ri Happy Brinquedos, narra que a demanda por jogos de tabuleiro como Banco Imobiliário, Jogo da Vida e Uno é grande, no entanto, pontua que a busca pelos tradicionais xadrez e dama não é tão alta. “Os jogos de tabuleiro envolvem uma gama grande de produtos. A procura por xadrez e dama, por exemplo, é bem menor, mas outros, como Banco Imobiliário, Jogo da Vida, Detive e Uno é grande”, explica o gerente, e relata que a procura destes se compara à demanda dos brinquedos mais vendidos no estabelecimento.
Por outro lado, Karla Costa de Souza, proprietária da loja Hashtag Importados, descreve que é raro que algum cliente entre na loja em busca de jogos de tabuleiro. “O pessoal nem pergunta, é raro viu. O máximo que a gente vende é o Uno ou baralho tradicional. Mas, em geral, a busca por estes jogos tradicionais não é grande, não”.
“Ainda tem, mas comparado como era antes, a demanda caiu bastante”, relata a gerente da loja Cláudia Presentes, Julia Nahas, em relação à venda de jogos de tabuleiro no estabelecimento. “Faz muito tempo que não vejo alguém vindo aqui procurar por um jogo de xadrez por exemplo. Acredito que tendo um jogo de tabuleiro ao lado de uma boneca ou um carrinho, a criança não opta pelo jogo, mas sim pelo brinquedo”, conta Julia.
A psicóloga Yara Nunes explica que os jogos de tabuleiro tradicionais são uma forma interessante para estimular o desenvolvimento cognitivo e das relações interpessoais das crianças. “Eles estimulam o desenvolvimento da criança de forma crescente. A dinâmica prática destes jogos faz com que a criança trabalhe tanto a coordenação motora quanto todo desenvolvimento cognitivo e, principalmente, de estratégias”, elucida a profissional.
“Os jogos de tabuleiro também trabalham as relações interpessoais, que é o que vai nortear o desenvolvimento. A criança se desenvolve e aprende a ser criança, a ser jovem, a ser adulto, a partir da relação com o outro. Esta construção com outras pessoas possibilita e ajuda a criança a se construir como pessoa”, explica Yara, que contextualiza o cenário de alguns atendimentos. “O que a gente vê hoje em consultório é uma dificuldade muito grande da criança de se ver nas relações, de tomar decisões e de alguma forma trazer soluções e se posicionar nas relações. Percebo que muito disso é do virtual e que as coisas não estão em pleno desenvolvimento, justamente porque não tem esta condição no virtual”.
Segundo Yara, os games virtuais, por exemplo, não trabalham estas competências do desenvolvimento infantil como os tradicionais jogos de tabuleiro. “Dentro dos jogos virtuais, a estimulação que a gente percebe é a questão de passar de fase”. De acordo com a psicóloga, as emoções da criança tendem a ficar contidas por meio da virtualidade dos jogos digitais.
“Elas não são exteriorizadas. Quando a criança está no virtual, as emoções ficam muito internas, até porque ali ela não está se relacionando pessoalmente com ninguém”, pontua Yara, que cita como contraponto os jogos de tabuleiro. “Existe um desenvolvimento gradual de todo o sistema cognitivo”, pontua Yara, que toma o xadrez como exemplo. “Cada vez que a criança vai jogando, ela vai buscando novas estratégias, novas possíveis soluções e isso é muito bom, porque ajuda no desenvolvimento desse ser humano nas competências de vida, pois ele começa a trazer isso para as dificuldades do dia a dia”, completa a psicóloga.
