«Eu estudei, sei e descobri muita coisa sobre o cérebro humano e a sua atividade; e tanto assim é que reconheceram o meu valor com o Prêmio Nobel. Porém, há um enigma que eu não sou capaz de descobrir: - Que existe para além da morte?»
Egas Moniz, neurocientista português
Que a capacidade criativa e distinta da lusofonia ultrapassa a poesia e a prosa, já é facto conhecido; que falantes da língua portuguesa foram laureados em diversas ocasiões, pelos seus mais diversos feitos, não é novidade nenhuma.
Destacam-se aviadores, políticos e músicos, bailarinos, professores, bombeiros e reis, mas numa época em que tanto se fala de saúde física e mental, aproveitamos para distinguir e homenagear aquele que recebeu o primeiro Prêmio Nobel agraciado a um falanta da língua portuguesa, o destacado médico Antônio Caetano de Abreu Freire Moniz, conhecido coloquialmente por Dr. Egas Moniz e quem emprestou o seu nome a hospitais, centros de saúde, escolas e faculdades, uma infinidade de ruas, praças e avenidas, afinal, falamos do Prêmio Nobel da Medicina. O conceituado médico neurocirurgião emprestou, ainda, o seu rosto para notas de 10.000$00 – dez mil escudos portugueses e para três selos. Numa existência de 81 anos, conseguiu destacar-se como médico, neurocirurgião, pesquisador, professor, político e escritor, tendo escrito em português, francês, alemão, italiano e espanhol, maioritariamente obras de caráter clínico.
Egas Moniz foi o responsável pelo desenvolvimento da arteriografia ou angiografia cerebral e as suas descobertas permitiram o diagnóstico de tumores cerebrais, bem como o diagnóstico e o tratamento de aneurismas cerebrais e malformações arteriovenosas. Inventou a leucotomia pré-frontal, surgindo, a partir daí a psicocirurgia ou lobotomia. Embora esta prática não seja considerada apropriada atualmente, nos idos anos 30, do século XX, constituiu um dos tratamentos mais conceituados de depressões severas, bem como de outros estados clínicos.
Um homem notável, republicano aficionado num período em que tais ideias ainda eram consideradas como crime, foi preso por pelo menos três ocasiões, defendendo os seus princípios ou aqueles que o faziam. Dedicou-se à política formalmente, em 1900, tendo sido eleito para o parlamento nacional; no período da I Guerra Mundial, desempenhou as funções de embaixador de Portugal em Espanha e de ministro dos Negócios Estrangeiros, tendo liderado a Delegação Portuguesa na Conferência de Versalhes.
Não obstante esse percurso político invejável, a medicina continuou a fazer parte da sua vida, tendo a ela voltado e dedicado a exclusividade do seu tempo.
Após uma recomendação do douto médico, Fernando Pessoa terá dito: «Para ser cadáver, só me faltava morrer. Em menos de três meses e três lições por semana, (…) diga-se com modéstia, ainda hoje existo – com vantagem para a civilização europeia, não me compete a mim dizer.»