“Até quando, e até quanto, sua empresa está disposta a perder dinheiro?”
Esta é a pergunta que após uma autoanálise fria, racional e corajosa todo empresário deveria responder, mas que muitos não respondem por causa até mesmo do medo de se fazer a análise pelo receio de se chegar à resposta de que a empresa tem tantas perdas que o negócio está indo muito mal; e assim preferem viver num autoengano (“minha empresa está bem”).
Mas tem um específico setor da atividade econômica – o dos supermercados - que já há alguns anos definiu encarar de frente a realidade de perdas financeiras que assola absolutamente todo e qualquer setor econômico, tendo construído há tempos um ambiente de debate e criação de ferramentas de identificação e prevenção de perdas.
Referido setor não usa a expressão adiante, mas o que ele “faz” é compliance, uma ideia e atividade que, como já expliquei em tantos artigos anteriores, consiste no monitoramento das atividades diárias, na identificação e exclusão de riscos, ou seja, gestão contra riscos/perdas.
Por esta razão é que cada supermercado que tem adotado procedimentos e ferramentas de prevenção contra perdas tem visto seu lucro aumentar ano a ano, pois anteriormente o dinheiro entrava pelo caixa e escorria (perdas) pelos vários “ralos” da empresa, sem capacidade de segurarem o lucro.
Em qualquer empresa as perdas (os “ralos”) se manifestam de várias formas, sendo as mais comuns no ramo dos supermercados a “quebra operacional”, os furtos internos e externos, o perecimento de produtos, quebras de equipamentos e erros administrativos, que podem abranger falhas na gestão jurídica que derivem em processos contra a empresa.
Nos demais setores que ainda não enfrentam a realidade das perdas operacionais e financeiras, as empresas sofrem com a baixa margem de lucro, causada por perdas de todo o tipo. Não à toa que há empresários que costumam dizer: “meu empregado ganha mais do que eu!”. Ora, esta frase é o típico sintoma de que uma empresa está muito mal, sendo sinal de que não possui qualquer tipo de gestão jurídica e contra perdas.
Considerando que um dos princípios da governança corporativa é a “responsabilidade corporativa”, pelo qual é do empresário a responsabilidade pelo sucesso ou insucesso da sua organização, é imperioso que uma empresa adote ferramentas para aumentar a sua “eficiência operacional”, identificando e controlando/evitando perdas, pois quanto maior for a eficiência menor será o volume de perdas e, consequentemente, o lucro aumentará.
No âmbito das chamadas perdas “não identificadas” encontra-se a perda de dinheiro em decorrência de processos sofridos pela empresa, sobretudo trabalhistas. Quantas empresas que perdem processos trabalhistas procuram identificar as causas do processo para evitar que um novo processo surja no futuro? A imensa maioria não adota esta prática e os processos/perdas se repetem anualmente, chegando ao inacreditável ponto de as perdas serem incluídas em um passivo já esperado, como se assumissem um fatalismo inafastável.
Vivendo no autoengano, isto é, não querendo assumir que a própria empresa tem falhas operacionais, de gestão em vários sentidos e níveis, o empresário até vê o dinheiro entrar, mas não vê por onde sai.
Até quando, e até quanto, será assim?