Educadoras relatam vivência com educação especial 

Hoje, 15 de outubro, celebra-se o dia de uma das profissões basilares da construção social; O Imparcial expõe os relatos de quem vivencia o dia a dia da sala de aula com alunos com necessidades especiais

PRUDENTE - CAIO GERVAZONI

Data 15/10/2021
Horário 04:05
Foto: Cedida
A professora Michelle Galhardo Vasconcelos e sua aluna Helena
A professora Michelle Galhardo Vasconcelos e sua aluna Helena

O simbolismo da data do Dia do Professor, nesta sexta-feira, celebra a fundamental importância dos educadores na construção social. O recente cenário em nível nacional tem sido de desvalorização por parte de governos, por conta da baixa remuneração a este segmento, e de uma parcela da sociedade, que nega o real valor da profissão. 
De acordo com o reconhecido educador brasileiro, Paulo Freire, a humildade exprime uma das raras certezas de que ninguém é superior a ninguém. “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. E neste sentido, O Imparcial destina-se a abordar os relatos de quem dedica a vida ao ato de educar e aprender com os alunos - da rede pública municipal – com algum tipo de deficiência. São os educadores habilitados no atendimento educacional especializado, que têm o objetivo de articular o desenvolvimento da criança com deficiência no espaço da sala de aula do ensino regular. 
A professora Michelle Galhardo Vasconcelos leciona para educação infantil nas escolas municipais Vilma Gianotti Martinez e Nair Mussegante Lebrão, de Presidente Prudente. Ela fala sobre o aprendizado adquirido na convivência com alunos, tendo alguma deficiência ou não. “Nós temos que acreditar nas potencialidades das crianças como indivíduo e não ficar focando na deficiência. Penso que, na inclusão, se a gente foca só na deficiência, ficamos restringidos a uma visão capacitista. Acredito no potencial de todas as crianças, sendo ela com ou sem deficiência”, pontua a educadora. 

Ensinar e aprender

Para a professora Maria Andreia Sitolino, que ministra aulas na Escola Municipal Maria Isabel Barbosa Negrão, estar presente no contexto de aprendizagem das crianças a faz sentir feliz e importante. “Conviver com crianças com deficiência é uma experiência ímpar, é valorizar todas as habilidades e potencialidades que o ser humano pode oferecer. É ensinar e aprender a todo momento”. Para ela, o professor de educação especial tem por objetivo inserir conhecimentos complementares e/ou suplementares aos alunos. “Devemos considerar a singularidade de cada criança, disponibilizando serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem barreiras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento da sua aprendizagem”.
A educadora Mônica Nemézio Siqueira, da Escola Municipal João Sebastião Lisboa, relata que a escola, como espaço de aprendizagem e convivência social, precisa cumprir a função de ensino dela para todas as crianças, sem nenhuma distinção. “Tendo deficiência ou não, a gente precisa entender sobre reciprocidade. O ganho deve ser e é mútuo entre as crianças. Não é a deficiência que tem que definir isso. Não é o fato de uma criança ter uma deficiência intelectual que ela deve ser tratada como o bonzinho ou fofinho, entende?  Não é essa a relação que se deve estabelecer”, explica. Conforme Mônica, quando se faz um apontamento como este, atribui-se à pessoa sem deficiência uma questão de benevolência. “Seria algo como: ‘olha, ela está tolerando a existência da criança com deficiência’. E não é esta a relação. A interação social tem relação com a reciprocidade. Nós aprendemos com os pares, com o outro. E o outro não tem que ser igual a mim, porque, realmente, ele não é igual a mim. A gente precisa assumir a realidade da diversidade e de fato encampar que isto está presente”, explica a professora sobre a questão de que o preconceito pode estar velado com o que teoricamente pode ser confundido como algo politicamente correto. 

Como é habilitado o educador especial?

De acordo a professora Maria Andreia, para poder assumir o cargo, o professor em educação especial é habilitado em pedagogia e pós-graduado em educação especial e inclusiva.
Michelle explica que o educador da sala comum trabalha com conteúdos curriculares, como história, geografia, gramática, matemática, etc. enquanto o professor da educação especial trabalha com as especificidades de cada estudante. “Por exemplo, inserir recursos de tecnologia assistivas de maneira que possibilite aos estudantes terem acesso aos conteúdos curriculares que não verbais, como no caso de crianças com autismo”. Nestes casos, segundo a docente, é inserida a comunicação alternativa e suplementar. De acordo a professora, para as pessoas com deficiência visual, o papel do educador é possibilitar a locomoção com autonomia e segurança, com técnicas de orientação e mobilidade e também utilizar recursos de acessibilidade através do computador, tablets e outros dispositivos para que a criança possa se expressar por meio da escrita ou de figuras. “É desenvolver os processos mentais com estes alunos com deficiência visual utilizando o braile e o soroban, e a libra para se comunicar no caso das pessoas com surdez”, elucida Michelle. 
Conforme a educadora Mônica, outra responsabilidade do professor de educação especial é articular os setores da escola. “Por exemplo, uma criança que tem atendimento clínico com uma fono, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta ou psicoterapia e também o atendimento educacional especializado que vem para o ensino regular. Então, tudo isso é responsabilidade do professor de educação especial”, explica.
“Nosso atendimento é complementar e suplementar. Não é substitutivo à sala de aula do ensino regular. Ele está relacionado ao regular, mas a gente lida com demandas específicas do atendimento educacional especializado, que na sala regular ganha o caráter de conhecimento que está no programa do currículo. Não é reforço escolar, porque a gente não reforça o conteúdo acadêmico que é trabalhado dentro do ensino regular. A gente trabalha com a potencialidades e habilidades da criança”, relata a professora Mônica, da Escola Municipal João Sebastião Lisboa. 

Desafios do ensino especial

Para Mônica, os principais desafios da educação especial estão associados a uma tríade da inclusão, associada à permanência, ao acesso e à aprendizagem. “A gente ainda enfrenta muitas barreiras relacionadas à formação inicial do professor e também à formação continuada. Mudar estratégias, pensar no ensino diversificado, isto ainda é uma barreira no ensino regular, por exemplo”, pontua a professora Mônica. 
Na perspectiva da professora Michelle, as maiores problemáticas em relação à educação especial são as barreiras atitudinais. “São as atitudes e comportamentos que impedem e prejudicam a participação social das pessoas com deficiência em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas”, considera. 

Durante a pandemia

Para a três professoras entrevistadas por O Imparcial, durante o período de pandemia, apesar de tantos esforços, a dificuldade foi grande em atingir os objetivos da educação especial, mesmo com os professores unidos com as famílias, oferecendo atividades impressas e pelas plataformas digitais.  “Foi tudo muito complicado”, relata a professora Maria Andreia Sitolino.

Foto: Cedida

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O aluno Matheus, que possui TEA, junto a professora Maria Andreia Sitolino

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